Caracterização da anorexia nervosa
A anorexia nervosa é caracterizada por uma atitude rígida, obsessiva e distorcida face ao peso, alimentação e gordura corporal.
Normalmente tem início na puberdade e na adolescência e é causa de morbilidade e mortalidade.
A tríade sintomática associada à anorexia mental é o emagrecimento, a anorexia (perda ou diminuição acentuada do apetite) e a amenorreia.
Os primeiros sinais da doença podem resultar de uma experiência de separação física ou psicológica da mãe.
Por exemplo, passar para uma escola mais distante, umas férias longe dos pais, ou começar a namorar/interessar-se por alguém e ser rejeitada.
O percurso da anoréxica na doença começa por norma com uma dieta auto-imposta (só 25% das anoréxicas que começam a fazer dieta tem excesso de peso) muito pobre onde se excluem os alimentos mais gordurosos e calóricos com o objectivo de perder 3/4 kg para diminuir certas partes do corpo e pode terminar numa mais radical ou mesmo total.
A perda inicial de peso é sentida como uma vitória, que vai trazer uma força adicional para a perseguição de um corpo cada vez mais magro.
Perder peso é sentido como um sinal de auto-controlo e de disciplina.
À medida que emagrece aumenta o medo do ganho ponderal ao ponto de não admitir que o peso fique estacionário, pois tem muito medo de ficar obesa em poucos dias.
Engordar é visto como um fracasso.
De forma inversa perder peso é sentido como um sinal de auto-controlo e de disciplina.
A anoréxica faz uma verificação diária da perda progressiva do peso.
Cada vez que o peso diminui, mesmo que apenas alguns gramas, é sentido como uma vitória na caminhada para o peso ideal.
Quando aumenta alguns gramas fica muito angustiada e em pânico.
A contagem obsessiva das calorias ingeridas e dos alimentos está sempre presente e parece contrastar com apetência para cozinhar para os familiares.
O exercício físico diário é quase obrigatório, em último caso pode resumir-se a caminhar a pé.
Os transtornos das condutas alimentares ocupam uma posição de cruzamento entre a infância e a idade adulta como ilustra a sua ocorrência electiva na adolescência, entre o psíquico e o somático, entre o individual e o social.
Este cruzamento ilustra a provável ligação entre esta patologia e os processos de mudança como por exemplo a puberdade e a autonomia.
Há uma impossibilidade de expressão através da representação psíquica que vai obrigar a recorrer a uma expressão actuada no corpo.
A anorexia nervosa pode ser considerada a expressão do bloqueio do desenvolvimento feminino.
As questões da adolescência – identidade, dependência, imagem corporal, o ideal – são as mesmas que se encontram na anorexia nervosa, a diferença está na forma como são elaboradas.
A anorexia nervosa pode ser considerada a expressão do bloqueio do desenvolvimento feminino, com fixação a uma imagem idealizada do corpo infantil, recusa do corpo sexuado, alicerçada numa relação simbiótica com a mãe e negação da feminilidade.
Se por um lado é a expressão de dificuldades e sofrimento psíquico, por outro, também representa uma tentativa de reorganização, re-adaptação e por isso, uma forma de auto-terapia.
O corpo magro é fácil de alcançar por qualquer rapariga, criando-se assim uma organização defensiva compensatória perante uma insatisfação interna.
As adolescentes com anorexia nervosa procuram uma nova oportunidade de serem compreendidas e que algumas coisas possam agora ser elaboradas, mas que ao mesmo tempo pode trazer desfechos fatais.
Não se pode anular uma situação existencial sem pôr em perigo a própria existência.
A partir do momento em que na anoréxica os processos defensivos do Eu forçam ao retraimento extremo, não muda mais nada e o sujeito agarra-se deuma forma quase delirante à ideia de imortalidade, que em casos extremos pode mesmo levar à morte.
Como manifestações fisiológicas da doença as anoréxicas apresentam:
amenorreia, enfraquecimento e queda do cabelo, lanugo, cianose das extremidades, magreza, caquexia ou emaciação, desidratação com possíveis sinais de choque, atraso no início ou interrupção do desenvolvimento pubertário, pele seca e descamativa, perda de pêlo axilar e púbico, cabelo seco e quebradiço, hipotermia, bradipneia, bradicardia, hipotensão, edemas periféricos e osteoporose.
In : “CONTRIBUTO À COMPREENSÃO DA ANOREXIA MENTAL FEMININA A PARTIR DO PROCESSO DE SEPARAÇÃO-INDIVIDUAÇÃO” – Pedro Martins
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