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Tristeza ou Depressão. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Tristeza ou Depressão

Onde havia sentimentos hoje há sintomas. Onde havia tristeza hoje há depressão. Onde havia uma reacção “normal” (egossintónica) hoje há patologia.

Ao abolir-se a reacção “normal” perante vivências inevitáveis da nossa vida, como por exemplo, a tristeza pela morte de alguém, transformando-a em sintoma, estamos a amputar a experiência humana e a enriquecer as estatísticas.

O ser humano, cada vez mais alfanumérico e menos ser-humano, trilha caminhos que o conduzirão à loucura, quando, paradoxalmente, foge dela. A coragem, humilde e primária da procura, deu lugar à arrogância do pseudo-conhecimento.

Este falso conhecimento assente em construções delirantes sobre o próprio e sobre o outro, mais não é que uma autofagia. Distorcendo a realidade, somos isto e somos aquilo, até deixarmos, simplesmente, de ser.

anorexia distorção imagem corporal

Anorexia Nervosa – Caracterização

Caracterização da anorexia nervosa

A anorexia nervosa é caracterizada por uma atitude rígida, obsessiva e distorcida face ao peso, alimentação e gordura corporal.

Normalmente tem início na puberdade e na adolescência e é causa de morbilidade e mortalidade.

A tríade sintomática associada à anorexia mental é o emagrecimento, a anorexia (perda ou diminuição acentuada do apetite) e a amenorreia.

Os primeiros sinais da doença podem resultar de uma experiência de separação física ou psicológica da mãe.

Por exemplo, passar para uma escola mais distante, umas férias longe dos pais, ou começar a namorar/interessar-se por alguém e ser rejeitada.

O percurso da anoréxica na doença começa por norma com uma dieta auto-imposta (só 25% das anoréxicas que começam a fazer dieta tem excesso de peso) muito pobre onde se excluem os alimentos mais gordurosos e calóricos com o objectivo de perder 3/4 kg para diminuir certas partes do corpo e pode terminar numa mais radical ou mesmo total.

A perda inicial de peso é sentida como uma vitória, que vai trazer uma força adicional para a perseguição de um corpo cada vez mais magro.

Perder peso é sentido como um sinal de auto-controlo e de disciplina.

À medida que emagrece aumenta o medo do ganho ponderal ao ponto de não admitir que o peso fique estacionário, pois tem muito medo de ficar obesa em poucos dias.

Engordar é visto como um fracasso.

De forma inversa perder peso é sentido como um sinal de auto-controlo e de disciplina.

A anoréxica faz uma verificação diária da perda progressiva do peso.

Cada vez que o peso diminui, mesmo que apenas alguns gramas, é sentido como uma vitória na caminhada para o peso ideal.

Quando aumenta alguns gramas fica muito angustiada e em pânico.

A contagem obsessiva das calorias ingeridas e dos alimentos está sempre presente e parece contrastar com apetência para cozinhar para os familiares.

O exercício físico diário é quase obrigatório, em último caso pode resumir-se a caminhar a pé.

Os transtornos das condutas alimentares ocupam uma posição de cruzamento entre a infância e a idade adulta como ilustra a sua ocorrência electiva na adolescência, entre o psíquico e o somático, entre o individual e o social.

Este cruzamento ilustra a provável ligação entre esta patologia e os processos de mudança como por exemplo a puberdade e a autonomia.

Há uma impossibilidade de expressão através da representação psíquica que vai obrigar a recorrer a uma expressão actuada no corpo.

A anorexia nervosa pode ser considerada a expressão do bloqueio do desenvolvimento feminino.

As questões da adolescência – identidade, dependência, imagem corporal, o ideal – são as mesmas que se encontram na anorexia nervosa, a diferença está na forma como são elaboradas.

A anorexia nervosa pode ser considerada a expressão do bloqueio do desenvolvimento feminino, com fixação a uma imagem idealizada do corpo infantil, recusa do corpo sexuado, alicerçada numa relação simbiótica com a mãe e negação da feminilidade.

Se por um lado é a expressão de dificuldades e sofrimento psíquico, por outro, também representa uma tentativa de reorganização, re-adaptação e por isso, uma forma de auto-terapia.

O corpo magro é fácil de alcançar por qualquer rapariga, criando-se assim uma organização defensiva compensatória perante uma insatisfação interna.

As adolescentes com anorexia nervosa procuram uma nova oportunidade de serem compreendidas e que algumas coisas possam agora ser elaboradas, mas que ao mesmo tempo pode trazer desfechos fatais.

Não se pode anular uma situação existencial sem pôr em perigo a própria existência.

A partir do momento em que na anoréxica os processos defensivos do Eu forçam ao retraimento extremo, não muda mais nada e o sujeito agarra-se deuma forma quase delirante à ideia de imortalidade, que em casos extremos pode mesmo levar à morte.

Como manifestações fisiológicas da doença as anoréxicas apresentam:

amenorreia, enfraquecimento e queda do cabelo, lanugo, cianose das extremidades, magreza, caquexia ou emaciação, desidratação com possíveis sinais de choque, atraso no início ou interrupção do desenvolvimento pubertário, pele seca e descamativa, perda de pêlo axilar e púbico, cabelo seco e quebradiço, hipotermia, bradipneia, bradicardia, hipotensão, edemas periféricos e osteoporose.

In : “CONTRIBUTO À COMPREENSÃO DA ANOREXIA MENTAL FEMININA A PARTIR DO PROCESSO DE SEPARAÇÃO-INDIVIDUAÇÃO” – Pedro Martins

A Síndrome do Burnout. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

A Síndrome do Burnout

Burnout – “Oito em cada dez portugueses estão exaustos e querem mudar de emprego”: eis o título de uma notícia do PÚBLICO, na semana passada, onde se divulgava o resultado de um inquérito.

Esta forma de exaustão é global, é uma epidemia, e foi baptizada em língua inglesa com um nome cuja tradução ainda não foi fixada com rigor nas línguas latinas: burn-out.

Diz-se que o pai do conceito é Graham Greene, que o utilizou como título de um romance, de 1960, A Burnt-out Case (a ortografia do termo inglês tinha, então, um t final).

O burnout é uma doença da civilização, exclusivamente ligada aos aspectos que caracterizam a organização contemporânea do trabalho.

Distingue-se, pois, da depressão, que não precisa do contexto laboral para se revelar.

Esta doença do bom cidadão trabalhador, que sofre um “incêndio” metafórico (como sugere a palavra inglesa) apresenta os seguintes sintomas:

fadiga até ao limite do esgotamento, ansiedade, incapacidade de controlar o stress, despersonalização e impotência.

Esta doença do “too much” é reveladora de um demónio – o demónio do trabalho – que retira o mais precioso dos nossos bens: o tempo.

E a palavra “demónio” justifica-se plenamente porque os estudiosos desta doença social dizem que ela tem um equivalente na acédia medieval – esse mal de que sofriam os monges na Idade Média e que os fazia perder a fé no sistema divino.

O burnout é uma doença da civilização, exclusivamente ligada aos aspectos que caracterizam a organização contemporânea do trabalho.

Por conseguinte, o burnout é para as empresas o que a acédia foi para a Igreja.

Em média, o tempo de trabalho é hoje superior ao que vigorava no século XIX.

Todas as utopias que prometiam uma sociedade do lazer e viam no progresso tecnológico um meio que nos libertaria do trabalho foram desmentidas.

Pior do que isso: a evolução e multiplicação dos utensílios, em vez de serem factores de libertação, dilataram o tempo de trabalho e elevaram à máxima potência a lógica económica que se realiza na corrida pelo aumento da produção e do lucro.

Evidentemente, isso só foi possível pondo em prática métodos de gestão que submetem, controlam, pressionam, induzem a uma competição que quebra solidariedades e criam delatores.

Veja-se, aliás, como o apelo governamental à delação – algo que outrora seria considerado abjecto – se começa a generalizar.

O burnout consiste em ultrapassar o limiar da resistência a uma adaptação violenta, coerciva, que, no limite, exige dos empregados que eles sejam “empreendedores” e, até, que os artistas se inclinem perante os códigos e as prerrogativas das indústria culturais.

Adaptação e flexibilidade são os nomes da actual ideologia do trabalho e da produção.

A descoberta desta doença chamada burnout deve-se muito a um médico americano (nascido na Alemanha em 1926), chamado Herbert J.

Freudenberger, que a diagnosticou em si mesmo.Ao tratar de toxicómanos numa clínica de Nova Iorque, ele descobriu a certa altura que estava mais doente do que eles.

O burnout consiste em ultrapassar o limiar da resistência a uma adaptação violenta e coerciva.

Esta situação é a regra em que vivemos: os hospitais estão cheios de médicos doentes; as escolas estão cheias de professores que temem mais as aulas e a avaliação a que estão submetidos do que os alunos que eles ensinam e avaliam; os guardas das prisões estão tão encarcerados como os detidos que eles vigiam. Não há exterior ao tempo de trabalho.

E, imersos em tudo isto, aqueles que dizem combater o capitalismo, ou pelo menos as suas lógicas mais nefastas, não fazem senão exaltar o trabalho e fixar as formas de vida que ele implica.

O axioma de Carl Schmitt, segundo o qual o nosso inimigo se assemelha a nós, encontra aqui uma bela confirmação.

António Guerreiro

in Ípsilon (21.03.2014)

Ataques de Pânico - a experiência do desamparo. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Ataques de Pânico – A Experiência do desamparo

Os ataques de pânico constituem a marca e a prova de que o aparelho psíquico descobriu a sua precariedade fundamental enquanto tal.

Através do ataque de pânico, o sujeito busca, de alguma forma tornar apreensível no plano psíquico a experiência inominável do desamparo.

As experiências repetidas do “estar morrendo” que se instalam no pânico parecem constituir uma tentativa de obter um certo domínio sobre o que escapa às possibilidades de simbolização.

Ter ataques repetidos de pânico constitui uma tentativa, por assim dizer, de controlar o momento de abandono por parte do outro suposto protector e fiador do mundo.

A experiência de desintegração psíquica acompanha a ameaça do seu desaparecimento.

O sujeito em pânico considera que a presença concreta do outro fiador da estabilidade do seu mundo é uma condição indispensável para a sua própria sobrevivência.

Se há algo de mortal no pânico é essa sorte de ataque contra si mesmo como expressão de apelo – mas também de revolta e desespero – diante do outro protector que abandona.

Um ataque de pânico constitui, assim, um grito desesperado, um pedido de ajuda e uma expressão de revolta dirigidos a este fiador superpotente de quem o sujeito espera protecção e amor.

A crise de pânico dirige-se, portanto, ao “Outro” ainda que este não possa ser objectivado em alguém delimitável:

– A crise constitui um pedido de amor, um reconhecimento, um apelo ao sujeito para não ser abandonado, sem ajuda, ao seu próprio desamparo.

Os ataques de pânico constituem um grito desesperado, um pedido de ajuda.

As vertigens e as sensações de estar em queda livre (de estar caindo sem parar), tão frequentes nos ataques de pânico, parecem manifestar corporalmente a vivência de abandono pelo objecto protector, fiador da estabilidade do mundo.

Realmente não há garantia para nada, ninguém me pode proteger contra o possível.

Até ao início das crises, a questão do desamparo não se colocara de facto.

Quando, subitamente, o individuo se vê confrontado com ela, a ilusão desaba mas nada consegue ser colocado no seu lugar.

Não há nenhuma possibilidade de subjectivação da falta de garantias pois essa “descoberta” terrível é feita toda de uma vez.

Restam apenas o desespero e o esforço desatinado para “fazer alguma coisa”: a confluência dessas duas tendências materializa-se no pânico.

O abandono tão temido pelo indivíduo acometido por ataques de pânico tem contornos bastante específicos.

Primeiro, apresenta-se como algo concreto: a ameaça de separação de uma pessoa em particular, da perda de uma situação estável, o medo de que mudanças venham a interferir de modo catastrófico na sua vida habitual ou na sua saúde.

Eles [ataques de pânico], começam frequentemente (…) após um evento que confirma ao sujeito o carácter incerto, imprevisível e potencialmente ameaçador do mundo.

Assim, a morte de um ente próximo, uma doença grave na família, a separação de um ser amado são situações relatadas de modo quase rotineiro aos que cuidam de pessoas sofrendo de ataques de pânico como tendo desencadeado os ataques.

A perda real de um próximo constitui para esses sujeitos a mais abominável concretização dos seus fantasmas de abandono e de impotência ante um mundo excessivamente perigoso.

Eles constatam: “Então a situação de desamparo é mesmo possível!” e ficam desesperados.

In Pânico e Desamparo

Mário Eduardo C. Pereira

 
 
Ataques de Pânico Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Ataques de Pânico

Os ataques de pânico constituem uma tentativa extrema de tornar o desamparo apreensível para o psíquico.

A especificidade metapsicológica do pânico situa-o dentro do campo dos estados em que a angústia é extrema e transbordante.

No pânico, o sujeito parece tentar levar a sua experiência do desamparo ao seu nível mais extremo, mais insuportável, como uma forma de obter um certo domínio sobre ela.

Desse ponto de vista, um ataque de pânico não pode ser concebido como a manifestação directa de uma pura descarga “automática” da energia.

Para quem os experimenta, os ataques de pânico podem parecer absurdos e sem qualquer relação com o resto da sua vida psíquica.

Ser tomado por um ataque de pânico atesta, pois, o reconhecimento inequívoco por parte do sujeito da dimensão de desamparo.

Os ataques de pânico – brutais, incompreensíveis, repetitivos – não parecem remeter a nada senão a eles mesmos, constituindo-se aparentemente uma experiência de pura perda.

Aos olhos de quem os experimenta, tais ataques podem parecer absurdos e sem qualquer relação com o resto da sua vida psíquica.

Os ataques de pânico apresentam-se como “espontâneos” e “incompreensíveis”.

Através do pânico busca-se um certo domínio sobre as realizações possíveis do perigo.

Trata-se, em última instância, de uma estratégia bastante singular de eliminação do horizonte do possível, no qual tudo o que é da ordem do terrível pode, efectivamente, realizar-se.

Tal estratégia consiste em tornar presente, imediato, aquilo que assusta apenas por ser possível.

O pânico distingue-se do terror, estado afectivo caracterizado precisamente pela perda de referências a um lugar de desamparo no psíquico.

No terror, o desamparo é sem limites, está em todo o lugar e todo o momento. O não-senso é a sua marca fundamental.

Já o pânico refere-se aos momentos de vacilação em que os limites que o sujeito reconhece como separando-o de um abismo infinito parecem apagar-se. O terror implica paralisia, entrega de si mesmo ao mortífero. É do lado da vida que se tem pânico.

Bibliografia: Pânico e Desamparo – Mário Eduardo C. Pereira

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