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Patologia Narcísica - Pedro Martins Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Patologia Narcísica

Quando a mãe não é suficientemente boa, não ocorre a idealização do Eu, comprometendo ou impedindo a formação de um ideal do Eu.

Nestes casos o indivíduo não pode reagir de uma maneira interna, pelo que a sua autoestima, o seu sentimento de integridade vai depender dos outros, de algo exterior.

Assim na patologia narcísica a regulação da auto-estima continua a ser obtida através dos outros/exterior que, pela identificação projectiva, recebem essa função por delegação e, pela identificação introjectiva, ocuparão provisoriamente o lugar que deveria ocupar a estrutura interna.

A insegurança e os sentimentos de inferioridade que o próprio sente impedem-no de se auto valorizar, procurando a valorização através do exterior.

Somente com a formação de um ideal do Eu suficientemente estável está assegurado o narcisismo indispensável.

Assim, consideramos que narcísico é aquele que não teve, na relação com a mãe o espaço para se ver como uno.

Foi vivenciado como um pendente, um projecto da mesma, conferindo-lhe um sentimento de que não possui vida própria e independente.

Anulado na sua existência, tornou-se servo do outro com quem aprendeu que deve satisfazer e não desiludir.

Não se conheceu através do outro, não se reconhece sem ele. Vivencia com estranheza o seu corpo e os seus sentimentos, sente-se incompleto.

Projecto de uma mãe que não reconheceu as suas qualidades e de um pai que permitiu que permanecesse uma ligação fusional à mãe.

Filho de pais cujos desejos correspondem à recusa de dependência do filho bebé, porque lhes desencadeia ansiedades intoleráveis e porque exigem que o filho seja a perfeição (omnipotente), de modo a reflectir a própria imagem de perfeição dos pais narcísicos.

 

Não amado e não reconhecido no seu valor, o indivíduo passa a adoptar condutas de compensação que possibilitem o disfarce da imagem de inferioridade que tem de si próprio.

 

O narcísico impede-se de olhar para o seu interior e passa, de forma maníaca, a mascarar a sua ferida, escondendo-se no exterior e por detrás de um ideal do Eu, impessoal e megalómano, que face ao menor desequilíbrio se despenha num precipício de inferioridade e vergonha.

Quando a perda do amor do outro ocorre precocemente durante a fase de formação da auto-imagem como pessoa, durante o processo de narcisação primária, desencadeia uma tendência mais depressiva em que a imagem que o sujeito tem de si é, de um modo generalizado, negativa.

O indivíduo tem uma autoestima baixa relativamente a todo o seu desempenho.

O sujeito que ao longo do seu desenvolvimento não se sentiu valorizado estabelecerá relações amorosas que lhe permitam a ilusão de possuir uma autoestima verdadeira e de libertação dos seus sentimentos de auto-desvalorização.

O facto de ter sido amado parcialmente faz com que se ligue ao outro de modo parcial, estabelecendo relações bidimensionais baseadas em processos primários onde o que interessa são os aspectos exteriores e não a pessoa em si.

 

Na patologia narcísica a autoestima é regulada através dos outros e não pelo próprio.

 

Em termos de resumo podemos dizer que não amado e não reconhecido no seu valor, o indivíduo passa a adoptar condutas de compensação que possibilitem o disfarce da imagem de inferioridade que tem de si próprio.

Passa então, a rodear-se de pessoas que lhe conferem a ilusão mágica de “eu sou o que tenho”, possibilitando a criação de estratégias de sedução que serão tanto mais eficazes quanto se rodeie de pessoas deslumbrantes.

O indivíduo sente que para afirmar o se Eu necessita compulsivamente de possuir e ganhar poder.

Num exibicionismo contínuo que cria a ilusão de unicidade e exclusividade, acrescentando ao próprio o sentimento de que é importante.

No nosso entender o narcísico é alguém que procura através da ligação com o outro, um auto-reconhecimento e a aquisição de um sentimento de existência, que não conseguiu com os cuidadores/pais.

Considera-se que o narcísico tem uma imagem desvalida de si, procurando na ligação ao outro atingir a identificação ao Ideal do Eu, não investindo o outro, mas sim a imagem grandiosa que julga poder obter através dessa ligação.

A ligação ao outro processa-se de forma maníaca evidenciando uma tríade de sentimentos:

controle, desprezo e poder, permitindo que o indivíduo se coloque numa posição de destaque, eliminando a inveja e a competição.

Pedro Martins

Mães Narcisistas Pedro Martins Psicoterapeuta

Mães Narcisistas

Quando a psicóloga Karyl McBride começou a ler livros sobre o vínculo mãe-filha, não pôde deixar de chorar.

Esses textos despertaram lembranças do seu passado. Ela tentou encontrar situações que a lembrassem do apego e da proximidade com a mãe.

Detalhes como o perfume que ela usava, o som da sua voz ou a temperatura da sua pele quando ela a abraçava. Mas não chegou a nenhuma.

Foi assim que ela teve consciência dessa carência e deu conta que, pelo menos na literatura, não havia nada escrito para filhas de mulheres não-maternais.

“Embora esta seja uma relação que muitas vezes deixa grandes feridas, não encontrei nada escrito que falasse sobre isso.”

“As meninas não odiavam as suas mães e a maternidade era mostrada como uma instituição sagrada na maioria das culturas”, escreveu mais tarde no seu texto “A minha mãe não me mima: como superar as sequelas causadas por uma mãe narcisista” (2018).

Este foi um projecto que ela desenvolveu como uma espécie de catarse: uma viagem emocional à sua infância, momento em que se sentiu carente de afecto e absolutamente invisível.

“Há mães tão emocionalmente carentes e tão ensimesmadas e egoístas que são incapazes de dar amor incondicional e apoio emocional às suas filhas.

 

As filhas das mães narcisistas gastam tempo e energia a tentar obter amor, atenção e validação do resto das pessoas, sem resultado.

 

Eu vi como os relacionamentos turbulentos das minhas pacientes com as suas mães, bem como a relação com a minha mãe, estavam claramente relacionados com o narcisismo materno.”

 

Quais são as dinâmicas da relação entre uma filha e uma mãe narcisista?

As meninas criadas por uma mãe narcisista sentem falta da empatia e a incapacidade da sua progenitora se sintonizar com o mundo emocional delas.

Não se sentem reconhecidas, ouvidas ou vistas. Elas referem que são invisíveis para os seus pais.

E, embora em alguns casos não tenham consciência dessas situações, elas crescem com a sensação de que as suas necessidades emocionais não são satisfeitas pelos adultos.

Podem ter um teto, roupas, comida, e todas essas coisas físicas asseguradas, mas as suas emoções não são escutadas ou validadas.

A mãe narcisista não demonstra afecto pela filha, a menos que isso a ajude em alguma coisa.

O carinho é uma retribuição, algo que é dado como moeda de troca. Não é incondicional.

Então cresce e vive toda a sua vida em torno das necessidades do outro, tentando fazer a sua mãe feliz, sem espaço para se auto-construir.

 

Quais são as consequências na vida quotidiana de um adulto ter crescido com uma mãe narcisista?

Como a menina não conseguiu fazer a sua mãe feliz, ela internaliza uma mensagem negativa de “eu não sou suficientemente boa”.

A internalização da falta de empatia e de amor faz com que sinta que “ninguém me pode amar”, “sinto-me vazia”, “não confio nos meus próprios sentimentos”, “as dúvidas paralisam-me”.

Depois, as filhas das mães narcisistas gastam tempo e energia a tentar obter amor, atenção e validação do resto das pessoas, sem resultado. Isso causa-lhes tristeza, raiva, angústia e decepção.

 

“Eu vi como os relacionamentos turbulentos das minhas pacientes com as suas mães, bem como a relação com a minha mãe, estavam claramente relacionados com o narcisismo materno.”

 

A necessidade primordial de se sentir unida a alguém é interrompida e deixa essa cicatriz, porque quando a confiança é afectada na infância, torna-se difícil confiar nos outros na idade adulta.

Além disso, torna a pessoa susceptível a atrair inconscientemente outros narcisistas na sua vida, mas agora na figura de amigos ou amantes, porque é a maneira de “gostar e ser gostada” que conhecem.

A menina, já adulta, não confia em si mesma e cresce sempre com dúvidas.

A falta de validação de quem elas são e das suas emoções faz com que se tratem a si mesmas como foram tratadas pela mãe narcisista.

Isso inclui serem duras consigo e não darem crédito a nada das coisas que constroem e conquistam.

 

Como a menina não conseguiu fazer a sua mãe feliz, ela internaliza uma mensagem negativa de “eu não sou suficientemente boa”.

 

Se a pessoa não se submete a um tratamento e toma a seu cargo a sua recuperação, vai experimentar sintomas semelhantes aos do transtorno de stress pós-traumático.

 

Como se explica uma mãe narcisista?

O narcisismo resulta de um trauma na infância. E não distingue géneros. São adultos que também foram vítimas de pais narcisistas.

Crescem sem terem consciência, sem trabalhar em si mesmos, a noção de que não são responsáveis ​​por seus próprios sentimentos ou comportamentos e, portanto, transmitem o que eu chamo de “legado do amor distorcido”.

Como especialista, decidi aprofundar a relação filha-mãe, mas também a relação pais e filhos, do género masculino, que são narcisistas.

McBride enfatiza a relação mãe-filha, porque as meninas, ao contrário dos seus irmãos homens, enfrentam uma dinâmica que eles não têm: a mãe narcisista vê a filha como uma extensão, não como alguém independente, com sua própria identidade.

 

Quando a confiança é afectada na infância, torna-se difícil confiar nos outros na idade adulta.

 

É por isso que ela pressiona a rapariga a agir e reagir tal como ela faria. E, por efeito, quando a filha não recebe validação desde a mais tenra idade, descobre que não tem transcendência no mundo e que os seus esforços não têm nenhum efeito.

“Há muitos temas de adultos que não devem ser expostos aos filhos. Tem de se permitir que eles sejam crianças, para se concentrarem nas coisas que importam para eles.

Não devem ser sobrecarregados com as preocupações dos “crescidos”. Pais narcisistas envolvem os seus filhos prematuramente no mundo adulto.

Uma mãe narcisista que constantemente confia à filha as dificuldades que tem no seu relacionamento com o marido, por exemplo, não entende como isso pode ser doloroso para a menina.

A filha sabe que compartilha traços com o pai e com a mãe; portanto, a menina interpreta a crítica ao pai como uma crítica a si mesma.

 

Como se rompe com o legado narcisista?

Ao trabalhar com um adulto vítima de uma relação parental narcisista, deve, em primeiro lugar, reunir-se os antecedentes, identificar o problema, e entendê-lo a um nível cognitivo.

Processar os sentimentos relacionados com a situação: sentir e reprogramar as mensagens negativas herdadas.

O conceito chave é a aceitação.

Separar-se psicologicamente da mãe e começar a construir uma consciência autêntica.

 

Os pais narcisistas envolvem os seus filhos prematuramente no mundo adulto.

 

Pergunte a si mesma quais são os seus direitos, reconheça o seu valor, a sua capacidade de assumir compromissos e desenvolver uma mãe interior: tornar-se alguém que pode nutrir-se, amar e cuidar-se a si mesma.

Então pode começar a ter um relacionamento saudável com a sua mãe, identificar as suas próprias características narcísicas e a recusar-se a transmitir esse legado. Todos podem mudar.

No entanto, embora a perspectiva seja encorajadora, não é um caminho fácil: “A terapia é necessária nesse processo para que o paciente se possa sentir validado e reconhecido.

É difícil para os pacientes desenvolver este “processo de acusação” às suas mães por causa dos sentimentos de culpa e do tabu que essa questão desperta.

O perdão é algo interno que vem depois de processar o trauma de uma infância difícil.

É claro, costumo recomendar aos meus pacientes que evitem confrontar a mãe ou o pai narcísico porque eles não aceitarão a responsabilidade ​​e a discussão terminará com os pais a acusar o filho de estar errado ou louco.

E como você evita ser uma mãe narcisista?

Com empatia. Se você se emociona com os sentimentos dos outros, você não é narcisista. É tão simples A empatia é a antítese do narcisismo. E, portanto, essa é a melhor maneira de cuidar de um filho.

 

Entrevista de Juan Cruz Giraldo a Karyl McBride

Traduzida/adaptada por Pedro Martins

Amores Ardentes, Amores Frustrantes. Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Amores Ardentes, Amores Frustrantes

A vida de certas pessoas é marcada por grandes entusiasmos e amores ardentes que rapidamente abandonam, porque rapidamente frustrantes – pela não correspondência ao ideal desejado.

Muito desejado porque nunca obtido – não fora essa a sua falta básica:

– A de um amor materno/paterno de qualidade indiscutível, que as tivesse verdadeiramente preenchido.

Um afecto incondicional, que não dependesse dos seus atributos ou desempenhos; cuja única condição fosse a de existir e ser filho.

Esse amor que só um pai ou uma mãe pode e sabe dar.

Que nenhum homem ou mulher irá oferecer numa relação conjugal;

Que nenhum amigo, colega, mestre ou discípulo preencherá.

Que só quem ama como mãe ou pai pode fornecer;

Ou quem possa entender essa falta essencial – alguém muito empático que a sorte lhe possa trazer.

Habitualmente isso não acontece.

 

Os amores ardentes são frustrantes por não corresponderem ao ideal desejado.

 

Só uma psicoterapia que considere o lado experiencial lhe poderá pôr cobro, pelo encetar de uma relação diferente que o paciente desconhece, e por isso nova.

É um novo vínculo de apego que se estabelece e vai relançar o desenvolvimento normal; e novo, também porque nunca antes verdadeiramente experimentado.

Processo que se inicia na relação terapêutica, mas que passa, se contínua e persiste no quotidiano.

 

São pessoas que, sobretudo, fazem escolhas precipitadas.

 

Nelas impera mais a primeira impressão que um exame cuidadoso, a razão apaixonada que o bom senso, o brilho do outro que a natureza do seu interior.

É uma escolha narcísica – o sujeito reflecte-se no espelhado do outro, no outro que o ecoa ou admira; ou aquece-se ao seu brilho e participa na sua grandiosidade.

Tais relações revelar-se-ão sempre decepcionantes e desprazerosas:

– porque simétricas e não complementares -, trazendo sofrimento e conduzindo a inevitáveis e até a desejadas roturas.

Enquanto persistir o mesmo mecanismo de selecção – o que acontece se a estrutura e o funcionamento mental não mudarem -, o ciclo reinicia-se a cada novo relacionamento amoroso.

Bibliografia: “O Desespero” – A. Coimbra de Matos

O Ressentimento Nas Relações. Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

O Ressentimento nas Relações

A intensidade e a rapidez com que se instala o ressentimento afecta, sobretudo, os relacionamentos afectivos.

Como sabemos, o ressentimento está ligado à vulnerabilidade narcísica.

Estamos a falar de situações em que a pele psíquica é fina e delicada, e, portanto, facilmente ferida.

O ferimento não só desencadeia raiva, como um enorme ressentimento (característico da patologia borderline).

A decepção com alguém ou o desprazer com uma situação leva à rotura do laço afectivo e ao desinvestimento em relação à pessoa ou à situação frustrante.

Em virtude do violento, indomável e duradouro desejo de vingança, dá-se uma retracção narcísica e uma rotura relacional: a rotura por ressentimento.

Trata-se de uma rotura tendencialmente definitiva e dissolvente da representação do outro, que se apaga, quase desaparece.

Consequentemente, surge o sentimento de vazio – fruto da desertificação do mundo interior.

 

o ressentimento está ligado à vulnerabilidade narcísica.

 

O ressentimento resulta do não reconhecimento e insuficiente apreço de que o sujeito foi vítima na infância por parte de pessoas significativas.

E, por vezes, objecto de troça e alvo do ridículo.

O ressentimento é a espinha irritativa que permanentemente espicaça a agressividade destas pessoas.

De realçar que na génese da vulnerabilidade narcísea, está a ausência ou insuficiente confirmação narcísica nos momentos de reaproximação:

– Quando a criança volta à proximidade com as pessoas de referência e espera ver nestas o comportamento de aplauso pelos seus desempenhos.

Mas há ainda outro importante aspecto da rotura relacional por ressentimento. Trata-se do seu desastroso resultado:

O sujeito não parte para a luta, não se bate pela conquista ou reconquista do outro, da relação, do seu próprio objectivo. Fica preso na raiva.

A fim de limitar o sofrimento e a decepção, em fase de circunstâncias desagradáveis ou mesmo insuportáveis, retira-se e desinveste.

Trata-se de um desinvestimento temporário, voltando ao fim de algum tempo a investir de novo.

Muitas vezes, na mesma pessoa ou objectivo: o que se tornou hostil e desprezível pode voltar a ser amável e interessante.

Só a resolução de ressentimentos antigos pode pôr fim a este ciclo.

Bibliografia: “O Desespero” – A. Coimbra de Matos

As famílias dos pacientes Borderline - Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

As Famílias dos Pacientes Borderline

Nas famílias dos pacientes borderline  temos um dos pontos-chave da etiopatogenia: a insuficiência narcísica dos pais e a sua própria personalidade limite ou próxima.

A necessidade que alguns pais têm de que os filhos preencham as suas lacunas narcíseas, é um dos aspectos mais importantes para o desenvolvimento dos estados limite.

O amor que dedicam ao filho depende de uma condição: que o filho os complete, lhes dê o brilho que eles não têm ou julgam não ter.

O amor que os pais dedicam não é incondicional, mas condicionado.

O filho é, então, uma espécie de prótese, instrumento ou adorno de um ou de ambos os pais. Só é valorizado enquanto tal, quando e como desempenha essa função.

Função tão essencial para o pai, que o filho será maciçamente desprezado e desinvestido se não a executar.

Vemos, portanto, um amor condicionado, não incondicional (é neste sentido que se emprega o conceito de “amor incondicional”; não, como é óbvio, na acepção de um amor exagerado, sem limites – que seria abafante e impeditivo de um desenvolvimento autónomo e diferenciado.

Trata-se de um vínculo de indiferença mais do que propriamente de hostilidade, que empobrece significativamente a interacção e a vida mental.

As pessoas vivem em conjunto mas sem intimidade afectiva; estão próximas, mas pouco comunicantes; dependentes, mas sem densidade de relação. Têm uma necessidade amorosa que jamais satisfazem.

As mães narcísicas e simbiotizantes tratam os filhos como objectos.

A mãe ou pai narcisista apresenta ainda outro aspecto patológico: o seu amor é captativo – na intenção de receber – e não de um amor oblativo como é próprio dos pais mentalmente saudáveis, e, desde logo, promotores de um desenvolvimento normal.

Cria-se então um laço filho-mãe/pai invertido: é o próprio filho que desempenha a função parental.

Se não cumpre este mandato será eternamente acusado de mau filho, sem amor pelos pais, abandonante, filho ingrato.

Em resumo a etiologia da patologia borderline:

– Personalidade borderline dos pais

– Modos anómalos de comunicação intra-familiar (informação paradoxal, abuso da mentira, manipulação).

– Encorajamento e recompensa dos comportamentos de obediência, de pendência, apego/desencorajamento e punição dos comportamentos de espontaneidade, autonomia e desapego.

– Incompetência e incoerência maternas – respostas inadequadas e ditadas, não pelas necessidades da criança, mas pelas variações de humor da mãe.

– Mães narcísicas e simbiotizantes que tratam os filhos como objectos transitivos, não considerando as suas (deles filhos) próprias necessidades – que, portanto não satisfazem – e controlando-os e utilizando-os para e a seu bel-prazer.

– Falência do pai: ausência de um pai que não só preencha as falhas como corrija os erros maternos e ajude na desidealização da mãe.

Assim, podemos considerar duas ordens de factores causais preponderantes:

a) Pais intrusivos, abafantes, controladores, agressivos, e traumatizantes. Famílias fechadas.

b) Pais distantes, abandonantes, negligentes e rejeitantes. Famílias desunidas.

Bibliografia: “O Desespero” – A. Coimbra de Matos

A Criança Aprende a Dar -Amor- Recebendo

A Criança Aprende a Dar -Amor- Recebendo

Toda a criança, para um desenvolvimento afectivo normal, precisa de: Amor, Consideração; Apreço

Qualquer carência ao nível destas necessidades afectivas básicas conduz a um sentimento depressivo de falta; a qual, se não for preenchida, provoca a insuficiência narcísica.

A dor da privação ou da perda deixa como cicatriz a deficiência. Por isso, as carências ou perdas precoces não apresentam um bom prognóstico.

As privações ou perdas posteriores – depois da adolescência – já não têm a mesma influência sobre a organização narcísica; a não ser que reactivem feridas anteriores que tenham sido mal curadas.

De contrário, a solidez da compleição narcísica não se deixa facilmente abalar, mesmo que as carências ou perdas actuais sejam importantes.

Até mesmo as situações de humilhação ou de grande insucesso raramente atingem de forma depressivante a auto-imagem e o amor-próprio; provocam uma revolta sadia e eficiente e uma adaptação fácil.

Incidências psicopatológicas da falta de Amor, Consideração; Apreço

– A falta de amor, por indiferença ou rejeição da parte do outro, conduz, preferencialmente, ao bloqueio afectivo e à atitude agressiva.

– A falta de consideração, com atitude possessiva por parte do outro, e esmagamento dos desejos e dos direitos da criança, tende a produzir um desenvolvimento masochista.

– A falta de apreço, por desvalorização e, algumas vezes, troça por parte do outro, provoca uma deterioração da auto-imagem, repercutindo-se a lesão narcísica principalmente ao nível da auto-imagem sexuada. É aqui que o sentimento de inferioridade vais morder mais o amor-próprio.

A criança aprende a dar (amor) recebendo.

É importante sublinhar que a criança aprende a dar (amor) recebendo. Só, portanto, pais suficientemente amantes dos filhos – dando-lhes uma amor sereno, equilibrado, espontâneo e natural, humano e autêntico, mais oblativo que captativo, no intuito de apoiar o florescimento da personalidade genuína da criança e não no desejo normativo de a encaixar no modelo que eles concebem ou no desejo egoísta que o filho preencha as suas próprias carências ou realize, por delegação, os seus projectos frustrados – poderão ensinar a amar.

A criança vai-se direccionando mais para o outro, na medida em que vai aprendendo – intuindo, pois é uma aprendizagem predominantemente afectiva -, que amando o outro reforça o amor que dele recebe. É o circulo do amor ou da relação amorosa, que, pela reciprocidade do afecto, se vai desenvolvendo e aperfeiçoando até atingir uma maturidade genital.

Bibliografia: “A Depressão” – Coimbra de Matos

Depressão, Depressividade e Depressibilidade

Depressão, Depressividade e Depressibilidade

1 – Existe uma depressão – dita “reactiva” – que é a depressão normal ou fenómeno do luto:

– Corresponde à perda de alguém significativo.

Neste caso falamos de DEPRESSIBILIDADE: qualidade de se poder deprimir, de ser capaz de fazer um trabalho de luto – o que é um sinal de boa saúde mental.

2 – Falamos em DEPRESSÃO patológica quando os laços afectivos são predominantemente narcísicos.

Assim, verifica-se uma intolerância e uma susceptibilidade particularmente intensas à perda do amor e protecção desse outro fundamental.

Como a relação com o outro é de tipo funcional ou complementar – um instrumento ou prolongamento do próprio -, o sujeito sente, ao perdê-lo, que se destaca e afasta uma parte essencial de si mesmo.

3 – A DEPRESSIVIDADE diz respeito ao esforço defensivo continuo para não se deixar deprimir: ficar deprimido (abatido), ou deprimir-se (sentir-se triste e com sentimentos de solidão) devido a uma perda.

Podemos dizer que são pessoas que jogam à defesa; quanto muito, ao contra-ataque.

O medo é grande, e por isso, a batalha, quando possível, quase sempre evitada.

As depressões manifestas que estes sujeitos apresentam são curtas (ainda que frequentes).

Por um lado, a sua fraqueza não lhes permite correrem o risco de sentirem verdadeiramente a perda de alguém.

A depressividade não é, propriamente, uma depressão:

– O que domina o estado afectivo não é a tristeza e o sentimento de perda, mas um mal-consciencializado sentimento de dependência e opressão.

Um receio de ficar só, uma incapacidade de se visualizar autónomo – numa palavra, uma impossibilidade de verdadeiramente se deprimir, ou seja, de aceitar a perda.

“A depressividade remete para um estado permanente e a depressibilidade para um estado temporário/transitório.”

A depressividade não é, em rigor, um estado de humor, mas uma disposição de fundo – a disposição depressiva; é-se (ou não) depressivo.

Na depressividade falamos em “ser” e na depressão normal em “estar”.

A depressividade remete para um estado permanente e a depressão normal para um estado temporário/transitório.

A relação do depressivo é constantemente ambitendente; quer, e não quer.

O relacionamento oscila entre a submissão e a revolta: uma jamais aceite; a outra, nunca completamente assumida.

“Depressibilidade: Os depressíveis são aqueles que se podem deprimir”

Há, por outro lado, aqueles que sabem e podem perder:

– Fazem o luto do que desapareceu e investem novamente, reparando facilmente a perda narcísica.

É o que designámos no ponto 1 por DEPRESSIBILIDADE (aqueles que são depressíveis, ou seja, que se podem deprimir).

Realizam lutos normais aquando da perda:

– Pois não estão excessivamente dependentes do outro (patologicamente afeiçoados);

– Nem o outro é detentor de partes importantes do Self, arrastando no seu naufrágio partes do próprio.

E este último é um motivo de relevo:

Na personalidade depressiva, o outro é, em grande medida, um prolongamento, um complemento da pessoa – por isso a sua perda é tão dolorosa e incapacitante, deixando uma ferida aberta que equivale a uma verdadeira amputação do próprio.

Acresce que a personalidade normal (o tal depressível) tem uma compleição narcísica razoavelmente sólida, uma auto-imagem suficientemente boa, uma auto-estima capaz de suportar sem afundamento do valor próprio as lesões narcísicas que, mesmo independentemente da acção dos outros, a vida vai provocando: perdas de prestígio, de capacidades, de funções, de situações sociais ou económicas, o envelhecimento, etc., etc., que são inerentes a toda a existência individual.

Bibliografia: Matos, A. C. (2001). A Depressão. Lisboa: Climepsi Editores

psicólogo clínico

A diferença entre Auto-estima e Narcisismo

Um elevado narcisismo não é o mesmo que uma elevada auto-estima. “Entre eles existe apenas uma fraca relação”.

Brummelman e seus colegas descobriram que quando as mães e os pais são calorosos e afectuosos, passam tempo com os seus filhos e mostram interesse pelas suas actividades, “as crianças gradualmente interiorizam a crença de que são indivíduos meritórios – o núcleo da auto-estima -, e isso não se transforma em narcisismo.

Em contrapartida, a sobrevalorização dos pais – colocar as crianças num pedestal – promove traços narcisistas. Nesse sentido, é melhor os pais dizerem às crianças: “fizeste um bom trabalho”, em vez de: “mereceste ganhar” ou “porque é não foste tão bom quanto ela?”

Um foco precoce e pronunciado sobre o sucesso pode levar a um apego inseguro entre os pais e os filhos. Pode fazer com que os filhos apreendam que o amor e a atenção de uma mãe ou de um pai só estão disponíveis se as expectativas elevadas forem atingidas.

As crianças que sentem que nunca conseguem corresponder aos desejos dos pais podem tornar-se adultos com um ego frágil e ficarem presos a pensamentos e comportamentos narcisistas de forma a suster o ego.

Ludden refere que os pais que criam narcisistas, “apresentam aos seus filhos um mundo onde tudo é uma competição : Há vencedores e perdedores e tu tens que ser o vencedor.” Uma abordagem mais saudável seria ensinar as crianças que “elas não têm que ser o melhor, mas apenas o melhor que podem ser.”

psicoterapia lisboa cara-metade

Encontrar a Cara-Metade

O apaixonado projecta, ou transfere, sobre o objecto (idealizado/cara-metade) da sua paixão a ilusão de poder encontrar o que lhe falta.

A ilusão da completude narcísica alimenta a ideia de que o objecto da paixão amorosa pode preencher o vazio da falta, que é constituinte da nossa existência. Com ele, tudo se tem, sem ele, nada se tem e nada tem sentido.

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