Personalidade Depressiva
Paciente mulher com personalidade depressiva
P: Tenho de pensar em mim, preocupar-me/ocupar-me com as minhas coisas. Só penso nos outros, preocupando-me com eles constantemente, ocupo-me apenas com as coisas dos outros. Esqueço-me de comprar roupa para mim, estou sempre a comprar roupa para o Francisco. Cozinho para ele; se estou só, não cozinho, como qualquer coisa que haja em casa.
T: Como há muito lhe venho mostrando
P: É verdade… Mas depois – penso – fico vazia, não tenho nada que me interesse ou motive. Assim ao menos – ocupando-me com os outros – ando entretida, sinto-me mais preenchida.
Nunca ninguém reparou que andasse deprimida, nem ela própria disso se apercebia.
Era assim, sempre foi assim; ela e os outros sempre acharam que era normal.
São as derrotas sucessivas que a trazem à terapia. Não percebe porque tal acontece.
Abandona umas vezes, é abandonada outras.
Nos abandonos afectivos, fica algum tempo deprimida – depressão que nem pela intensidade nem pela duração tem características patológicas;
O único aspecto patológico (mas que é importante e significativo) é a ausência de revolta e acusação do objecto abandonante:
– Sente sempre que a culpa/responsabilidade foi toda sua.
Quando é ela a abandonar, o motivo consciente é a saturação e o desinteresse progressivo pela relação.
Interessa-se pouco com si própria. Quando tem uma nova relação amorosa anima-se por algum tempo.
Só que não repara, desconhece a depressão larvar em que se arrasta – a depressividade.
A depressividade é uma certa e específica forma de personalidade depressiva, a mais característica – que se revela pelo abatimento, sintoma patognomónico da doença depressiva (depressão/personalidade depressiva).
Traduz-se a queda/declínio da líbido (sexual lato sensu e narcísica), restando ou exacerbando-se a líbido ideal (dessexualizada) e a ligação de aconchego e dependência;
Numa outra linguagem e perspectiva, a queda da energia psíquica (perda da vitalidade).
O abatimento é o sinal nuclear da doença depressiva.
Reiteramos: o abatimento é o sinal nuclear da doença depressiva.
A alteração do humor, a tristeza, não é um sintoma essencial.
O certo é que há depressões sem tristeza, mas não existem depressões sem abatimento.
Na depressão normal, que se distingue, não só pela menor intensidade e duração e pela proporcionalidade da alteração à grandeza da perda actual, mas principalmente pelo predomínio da revolta sobre o sofrimento depressivo – há algum abatimento.
Mas o que caracteriza a depressão normal é o ressentimento e a raiva.
Na depressão doença, predomina o sentimento depressivo e a inibição (abatimento) sobre a revolta.
É que na depressão patológica subjaz (mesmo que latente) a depressividade por um lado; pelo outro, são recrutadas/reactivadas perdas afectivas anteriores; por outro ainda, a agressividade está inflectida sobre o próprio.
A partir de a: “Depressividade/Personalidade Depressiva” – Coimbra de Matos
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