Mês: <span>Fevereiro 2019</span>

Depressão Sorridente - Pedro Martins Psicoterapeuta

A Depressão Sorridente

Não creio que se possa falar em “Depressão Sorridente” como entidade nosológica.

Mais correcto será dizer que certas pessoas, apesar de deprimidas, apresentam-se “sorridentes”. Mais que sorridentes no sentido literal, mantém-se funcionais: continuam a trabalhar (baixo absentismo), a cuidar do lar, da família, e têm actividade social.

São pessoas que apesar de estarem deprimidas parecem felizes.

Tende a pensar-se que as pessoas com depressão estão impossibilitadas de funcionar, mas não é exactamente assim. Para além disso, não só não existem duas depressões iguais, como cada pessoa vivencia a depressão de forma diferente.

Há casos em que algumas destas pessoas podem nem perceber que estão deprimidas, principalmente se se mantiverem “funcionais”.

Apesar de notarem (principalmente) um cansaço maior do que o habitual, tendem a desvalorizar ou a considerá-lo resultado de qualquer outra coisa. O mesmo acontece quando sentem alguma desmotivação, “preguiça”, ou um desinteresse generalizado.

Pode parecer estranho que alguém possa “andar sorridente” e ao mesmo tempo estar deprimido, mas acontece com frequência.

Aqueles que fazem acompanhar a sua depressão com um “sorriso” são os ficam surpreendidos quando são diagnosticados.

Outros nunca chegam a ser diagnosticados porque o receio de estarem deprimidos é tão grande que se afastam de qualquer coisa que lhes possa trazer essa confirmação.

Apesar de a tristeza ser um dos principais sintomas da depressão, as pessoas podem apresentar ansiedade, medo, raiva, fadiga, irritabilidade, desesperança e desespero.

As pessoas que não admitem estar deprimidas têm receio de se afundarem caso vacilem perante o mal-estar que sentem.

Também podem ter problemas com o sono, falta de satisfação em certas actividades prazerosas (até então) e perda de libido. A experiência é diferente para cada um. É possível ter apenas um ou vários destes sintomas.

As pessoas que sofrem da chamada depressão sorridente – as que não admitem estar deprimidas – têm um receio não muito consciente de se afundarem caso vacilem perante o mal-estar que sentem.

Por isso usam capas rígidas atrás das quais “escondem” dos outros, mas principalmente de si, os sinais de depressão.

Algumas destas depressões acabarão por ser ultrapassadas com o tempo.

Em alguns casos pode tratar-se de uma personalidade depressiva em vez de uma depressão propriamente dita. (Ver: Personalidade Depressiva e Depressão)

Outras terão uma boa evolução se reconhecidas pelo próprio e pela família e amigos. Dado serem ligeiras poderão ser ultrapassadas sem recurso a terapia.

As mais profundas necessitam de tratamento.

Caso conheça alguém que tenha dificuldade em aceitar que está deprimido e procura ajudar essa pessoa, evite colocar a questão de forma muito directa. A resposta será um rotundo não.

Destapar à força a depressão que alguém procura tapar, não só é ineficaz, como contraproducente e até cruel.

Compartilhar sentimentos é a melhor forma de ajudar.

Por que algumas pessoas têm tanta dificuldade de admitir os seus erros - Pedro Martins Psicoterapeuta

Por que algumas pessoas têm tanta dificuldade de admitir os seus erros?

Todos cometemos erros com alguma regularidade.

Alguns erros são pequenos, como: “Não, não é preciso pararmos no supermercado, há leite que chegue para o pequeno-almoço”.

Alguns maiores, como: “Não é preciso andarmos a correr; temos tempo de sobra para chegar ao aeroporto e fazermos o check-in tranquilamente”.

Outros com grandes implicações, como: “Eu sei que estava escuro e a chover, mas tenho certeza de que foi este homem que arrombou a casa do outro lado da rua”.

Ninguém gosta de estar errado. É uma experiência emocional desagradável.

A questão é:

Como respondemos quando descobrimos que estávamos errados?

Quando não havia leite suficiente para o pequeno-almoço; quando apanhámos trânsito e perdemos o voo, ou quando descobrimos que devido à nossa identificação um homem inocente foi preso.

Alguns de nós admitimos que estávamos errados e dizemos: “Oops, tu estavas certa. Deveríamos ter comprado leite”.

Alguns de nós insinuamos que estávamos errados, mas não o fazemos explicitamente ou de uma maneira que seja satisfatória para a outra pessoa: “Tínhamos muito tempo para chegar ao aeroporto a horas, o problema foi o trânsito estar invulgarmente caótico. Mas tudo bem, para a próxima saímos mais cedo.

Mas algumas pessoas recusam admitir que estão erradas, mesmo diante de evidências esmagadoras: “Eles libertaram-no devido aos testes de DNA e à confissão do responsável? Ridículo! Tenho a certeza que foi ele; eu vi que foi ele!”

O que é que psicologicamente torna impossível admitir os erros? O Ego

Os dois primeiros exemplos são, provavelmente, familiares para a maioria de nós, porque são respostas típicas aos nossos erros.

Aceitamos a responsabilidade total ou parcialmente (às vezes, muito, muito parcialmente), mas não contrariamos os factos.

Não alegamos que havia leite suficiente quando não havia, ou que não estávamos atrasados para ir para o aeroporto.

Mas o que leva as pessoas a reagir contra os factos; a não admitir que estavam erradas em qualquer circunstância?

O que é que psicologicamente torna impossível admitir que estavam erradas, mesmo quando é óbvio que estavam?

E porque é que sistematicamente não admitem que estavam erradas?

A resposta está relacionada com o seu ego.

Algumas pessoas têm um ego tão frágil, uma auto-estima tão baixa, uma constituição psicológica tão fraca, que admitir que cometeram um erro ou que estavam erradas é insuportável para os seus egos.

Aceitar que estavam errados, lidar essa realidade, seria tão catastrófico psicologicamente, que a mente faz algo notável para evitar isso:

– Literalmente, distorce a percepção da realidade.

Dessa forma protegem o ego frágil, mudando os próprios factos na sua mente, para que não estejam errados ou sejam culpados.

Nesse sentido, fazem afirmações do tipo:

“Eu verifiquei e havia leite suficiente, alguém deve ter bebido”.

Quando lhes é dito que ninguém esteve em casa depois de saírem, logo, ninguém poderia ter bebido o leite, eles insistem:

“Alguém deve ter bebido, porque eu verifiquei e havia leite”.

As pessoas que repetidamente exibem esse tipo de comportamento são, por definição, psicologicamente muito frágeis.

A rigidez psicológica que apresentam não é um sinal de força, antes uma indicação de fraqueza.

Aliás, a rigidez psicológica, é, regra geral, sinal de fragilidade.

Estas pessoas não decidem manter-se firmes; são obrigadas a fazer isso para protegerem os seus egos frágeis.

Para admitir os nossos erros é necessária uma certa capacidade emocional.

Normalmente ficamos aborrecidos quando erramos, mas superamos isso.

Entre os que superam os erros, temos uns que o fazem com muita dificuldade: os perfeccionistas.

Mas quando as pessoas são constitucionalmente incapazes de admitir que erraram, quando não conseguem tolerar a ideia de que podem cometer erros, é porque têm um ego demasiado frágil para superar o sentimento de que falharam.

Daí terem que deformar a própria percepção da realidade e contestar factos óbvios no sentido de se defenderem de forma rígida contra a realidade.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de:

Why It’s So Hard for Some People to Admit They Were Wrong – Guy Winch

Amores Ardentes, Amores Frustrantes. Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Amores Ardentes, Amores Frustrantes

A vida de certas pessoas é marcada por grandes entusiasmos e amores ardentes que rapidamente abandonam, porque rapidamente frustrantes – pela não correspondência ao ideal desejado.

Muito desejado porque nunca obtido – não fora essa a sua falta básica:

– A de um amor materno/paterno de qualidade indiscutível, que as tivesse verdadeiramente preenchido.

Um afecto incondicional, que não dependesse dos seus atributos ou desempenhos; cuja única condição fosse a de existir e ser filho.

Esse amor que só um pai ou uma mãe pode e sabe dar.

Que nenhum homem ou mulher irá oferecer numa relação conjugal;

Que nenhum amigo, colega, mestre ou discípulo preencherá.

Que só quem ama como mãe ou pai pode fornecer;

Ou quem possa entender essa falta essencial – alguém muito empático que a sorte lhe possa trazer.

Habitualmente isso não acontece.

 

Os amores ardentes são frustrantes por não corresponderem ao ideal desejado.

 

Só uma psicoterapia que considere o lado experiencial lhe poderá pôr cobro, pelo encetar de uma relação diferente que o paciente desconhece, e por isso nova.

É um novo vínculo de apego que se estabelece e vai relançar o desenvolvimento normal; e novo, também porque nunca antes verdadeiramente experimentado.

Processo que se inicia na relação terapêutica, mas que passa, se contínua e persiste no quotidiano.

 

São pessoas que, sobretudo, fazem escolhas precipitadas.

 

Nelas impera mais a primeira impressão que um exame cuidadoso, a razão apaixonada que o bom senso, o brilho do outro que a natureza do seu interior.

É uma escolha narcísica – o sujeito reflecte-se no espelhado do outro, no outro que o ecoa ou admira; ou aquece-se ao seu brilho e participa na sua grandiosidade.

Tais relações revelar-se-ão sempre decepcionantes e desprazerosas:

– porque simétricas e não complementares -, trazendo sofrimento e conduzindo a inevitáveis e até a desejadas roturas.

Enquanto persistir o mesmo mecanismo de selecção – o que acontece se a estrutura e o funcionamento mental não mudarem -, o ciclo reinicia-se a cada novo relacionamento amoroso.

Bibliografia: “O Desespero” – A. Coimbra de Matos

O Ressentimento Nas Relações. Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

O Ressentimento nas Relações

A intensidade e a rapidez com que se instala o ressentimento afecta, sobretudo, os relacionamentos afectivos.

Como sabemos, o ressentimento está ligado à vulnerabilidade narcísica.

Estamos a falar de situações em que a pele psíquica é fina e delicada, e, portanto, facilmente ferida.

O ferimento não só desencadeia raiva, como um enorme ressentimento (característico da patologia borderline).

A decepção com alguém ou o desprazer com uma situação leva à rotura do laço afectivo e ao desinvestimento em relação à pessoa ou à situação frustrante.

Em virtude do violento, indomável e duradouro desejo de vingança, dá-se uma retracção narcísica e uma rotura relacional: a rotura por ressentimento.

Trata-se de uma rotura tendencialmente definitiva e dissolvente da representação do outro, que se apaga, quase desaparece.

Consequentemente, surge o sentimento de vazio – fruto da desertificação do mundo interior.

 

o ressentimento está ligado à vulnerabilidade narcísica.

 

O ressentimento resulta do não reconhecimento e insuficiente apreço de que o sujeito foi vítima na infância por parte de pessoas significativas.

E, por vezes, objecto de troça e alvo do ridículo.

O ressentimento é a espinha irritativa que permanentemente espicaça a agressividade destas pessoas.

De realçar que na génese da vulnerabilidade narcísea, está a ausência ou insuficiente confirmação narcísica nos momentos de reaproximação:

– Quando a criança volta à proximidade com as pessoas de referência e espera ver nestas o comportamento de aplauso pelos seus desempenhos.

Mas há ainda outro importante aspecto da rotura relacional por ressentimento. Trata-se do seu desastroso resultado:

O sujeito não parte para a luta, não se bate pela conquista ou reconquista do outro, da relação, do seu próprio objectivo. Fica preso na raiva.

A fim de limitar o sofrimento e a decepção, em fase de circunstâncias desagradáveis ou mesmo insuportáveis, retira-se e desinveste.

Trata-se de um desinvestimento temporário, voltando ao fim de algum tempo a investir de novo.

Muitas vezes, na mesma pessoa ou objectivo: o que se tornou hostil e desprezível pode voltar a ser amável e interessante.

Só a resolução de ressentimentos antigos pode pôr fim a este ciclo.

Bibliografia: “O Desespero” – A. Coimbra de Matos

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