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Psicoterapia

Trauma – Uma Introdução

No Vocabulário de Psicanálise, Laplanche e Pontalis descrevem trauma ou traumatismo (psíquico) como:

“Acontecimento da vida do indivíduo que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se acha o indivíduo de lhe responder de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patogénicos duradouros que provoca na organização psíquica.”

No entanto, nem toda a experiência de trauma é um acontecimento específico; ele pode ser cumulativo.

Neste caso, uma vez que as causas são menos claras, torna-se mais difícil de lidar.

Conceito importante associado ao de trauma, é o de sinal de angústia.

Laplanche e Pontalis referem:” O sinal de angústia reproduz de forma atenuada a reacção de angústia vivida primitivamente numa situação traumática, o que permite desencadear operações de defesa.”

Segundo P. Casement, quando se considera a revivência do trauma é importante pensar em conjuntos inconscientes.

“Isso dá-nos uma lógica em termos da qual podemos entender como a mente regista inconscientemente elementos particulares como sendo da mesma natureza – porque foram anteriormente vivenciados juntos.

Assim eles passam a ser estabelecidos como relacionados, de forma atemporal e sem excepção.

Para o inconsciente a parte pode representar o todo, logo, qualquer coisa associada a uma situação traumática pode representar o trauma como um todo e pode deflagrar o sinal de ansiedade, alertando a mente inconsciente como se aquela situação traumática estivesse na eminência de se repetir.”

Trauma: “Acontecimento da vida do indivíduo que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se acha o indivíduo de lhe responder de forma adequada.

P. Casement dá-nos um exemplo através de uma vinheta clínica:

Uma menina de dois anos de idade foi levada pela mãe para ser vacinada antes de viajar para o estrangeiro.

Para poder aplicar a vacina na coxa da criança, o médico pediu à mãe para levantar o vestido da filha.

Até aí nada de anormal, à excepção, talvez, da presença desse relativamente estranho – o médico de família.

Mas depois de ficar chocada com a súbita dor da injecção, foram necessários alguns meses para que a criança fosse capaz de recuperar da experiência que parecia estar sempre iminente.

Mais especificamente, ela demonstrava um claro sinal de ansiedade sempre que a mãe tentava trocar-lhe as roupas.

Qualquer tentativa da mãe de levantar o vestido da criança era recebida com gritos.

Uma reacção semelhante era evidente quando se tirava qualquer outra peça de roupa; quanto mais perto da parte inferior do corpo mais intensa era a reacção.

Outras pessoas tinham mais sucesso do que a mãe nessa operação, mas ninguém podia levantar-lhe o vestido.

Podemos ver neste exemplo como várias associações relacionadas com a situação de perigo foram estabelecidas em torno do trauma original.

As mais específicas eram as seguintes: a mãe com a criança ao colo levantando o vestido.

Associações menores também podiam ser identificadas: roupas perto da coxa e pessoas como a mãe.

Era perceptível que a criança tinha mais confiança no pai do que na mãe quando estava no colo.

Mas quando a criança estava no colo de outra pessoa, o pai tornava-se a fonte de ansiedade caso estendesse as mãos para ajudar a tirar a roupa.

O sinal de angústia reproduz de forma atenuada a reacção de angústia vivida primitivamente numa situação traumática.

Por isso, dava a sensação de existirem diferentes níveis de associação a funcionar:

– uma pessoa-colo do sexo feminino era mais temida do que uma pessoa-colo do sexo masculino, particularmente quando associada à tentativa de tirar a roupa.

Também um homem de braços estendidos para ajudar, quando associado à tentativa de tirar roupas, era mais temido do que uma mulher na mesma posição.

Neste exemplo podemos ver que o trauma passou a ser associado a um conjunto de elementos principais:

– estar no colo de uma mulher; roupas removidas ou levantadas; um homem a estender as mãos para fazer algo.

Reconhecendo intuitivamente as associações às quais sua filha reagia, a mãe encontrou uma maneira de lidar com o problema.

Ao colocar a criança na banheira e molhando as roupas, ao invés de tentar despi-la ao colo distanciou-se da situação traumática.

Conseguiu então tirar roupas que estavam molhadas em vez de secas.

Roupas molhadas não tinham participado no trauma original, de modo que essa diferença permitiu à criança aceitar uma nova maneira de se despir, apesar de que remover roupas ainda era parte daquilo que a mãe fazia.

Ela não estava, portanto, evitando completamente a experiência, mas encontrando uma maneira de fazer face a ela – na medida em que a criança estava em condições de a tolerar.

Gradualmente os vínculos associativos tornaram-se mais fracos e as roupas secas também puderam ser removidas: primeiro, removidas quando ela estava sentada numa banheira vazia e, depois, sentada ao colo da mãe.

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