Terapia encenada
Maria tem 32 anos e uma filha de 7. Maria está constantemente a sufocar a filha com as suas preocupações injustificadas, da mesma forma que a mãe a sufocava a ela. Reconhece isso, mas sente que não consegue mudar.
Força-se a ser diferente, acabando muitas vezes por ser um híbrido materno sem consistência afectiva. Procura a terapia com a esperança de se tornar uma mãe melhor do que a sua, e com isso poder desfrutar (em vez de contaminar) da relação com a filha.
Juntos, Maria e eu exploramos a sua identificação com a mãe e a incapacidade de separar-se dela. Através de novas identificações (não tóxicas) é possível avançar lentamente.
A distância não é corte, é continuidade (de existir).
Com o decorrer da psicoterapia sente menos necessidade das minhas intervenções. Começa a poder fazer escolhas e a reconhecer as opções como sendo suas. Essa liberdade crescente permite-lhe iniciar pequenos percursos (dentro e fora da terapia), com esforço, mas com igual prazer.
O desenvolvimento da capacidade de compreender e aceitar os relacionamentos nas suas múltiplas dinâmicas levam-na a usufruir da ligação com outros e em particular com a filha.
Apanhada na rede da transmissão intergeracional, onde de pais para filhos se perpetua certo tipo de funcionamento mental, parece agora, mais perto, de pôr fim a esse ciclo.
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