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O Terror de Ser Amado

É muito claro que todos queremos amor – mas estranhamente, uma das coisas mais difíceis de fazer é não empurrá-lo quando verdadeiramente retribuem os nossos sentimentos.

Pode ser muito difícil não sentir que aqueles que nos oferecem amor estão equivocados, são frágeis ou carentes.

Que de alguma forma têm qualquer coisa de errado.

Ficamos um pouco enjoados com a proximidade e desejo de nos abraçarem e acarinharem; com as palavras ternas e pela capacidade de encontrar pequenas coisas em nós que os fascina.

Pode ser mais fácil quando não se é correspondido.

Quando a nossa principal preocupação era o enorme medo de que não reparassem em nós.

Era mesmo bastante mais fácil (embora não o disséssemos aos nossos amigos) quando estávamos numa relação muito tempestuosa com uma pessoa que nunca se comprometeu connosco, que nos desprezou e que parecia estar permanentemente noutro lugar.

Mas agora que finalmente não existem dúvidas e é muito claro que eles gostam de nós, as coisas complicam-se.

O amor pode ser difícil de receber quando não achamos que somos capazes de suscitar o amor do outro.

Foi bom das primeiras vezes, claro, quando a memória da anterior ambiguidade ainda estava viva na mente, mas agora eles tornaram-se cada vez mais honestos, e disseram claramente que nos querem – e sentimo-nos, simplesmente, um pouco enfadados.

Estamos tentados a dizer que estávamos equivocados: que eles não são as pessoas admiráveis que pensávamos.

Mas a verdadeira questão não está no que fazer com eles.

Está num lugar completamente diferente: está em nós e na relação connosco mesmos.

O carinho deles parece suspeito, incompreensível e gera uma certa repulsa, porque, de alguma forma, não estamos acostumados. Não encaixa com a visão que temos de nós mesmos.

O amor pode ser difícil de receber quando não estamos particularmente convencidos de que somos capazes de suscitar o amor do outro.

Passamos o tempo à procura daqueles que nos podem fazer sofrer de maneiras que nos são familiares.

E torna-se natural supor que um amante atencioso está equivocado;

Não está a ver bem as coisas – e, talvez, então, nos comportemos de forma muito desagradável, para nos certificarmos que realmente percebem que não somos quem realmente pensaram que éramos, e, portanto, colocam fim à relação.

Ficamos magoados, mas de alguma forma, psicologicamente, mais tranquilos.

A esperança reside em contrariar as conclusões que tirámos das nossas histórias passadas, e que nos levam a sabotar as novas relações.

Mas temos que permitir considerar outras opções.

Talvez o carinho que estamos a receber não seja um sinal de que nosso amante está enganado ou que não tem outra opção.

Talvez seja um sinal de que viu algo em nós que, tragicamente, ainda não conseguimos ver e nunca nos permitimos acreditar, tendo em conta o passado: que merecemos o amor.

A esperança reside na nossa capacidade de confiar mais nos nossos amantes do que confiamos nos nossos impulsos auto-destrutivos.

Em interpretar o amor deles não como um sinal da sua ilusão ou fraqueza, mas como evidência de que somos capazes de despertar o amor do outro, e ao termos coragem de aceitá-lo, contrariar as conclusões que tirámos das nossas histórias passadas que nos levam a sabotar as novas relações.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de:
The Terrors of Being Loved – Alain de Botton

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