Mês: <span>Abril 2019</span>

Podemos ser só amigos? Pedro Martins Psicoterapeuta

Não Podemos Ser Só Amigos?

Uma das coisas mais docemente amarga de ouvir; dita carinhosamente no final de uma longa e divertida noite, é a proposta de que devemos, afinal, permanecer “apenas bons amigos”.

Tomamos a proposta para uma amizade como sinónimo de uma ofensa, porque a nossa cultura romântica tem continuamente, e desde tenra idade, deixado uma coisa muito clara para nós:

O amor é o propósito da nossa existência; a amizade é o insignificante prémio de consolação.

Deveríamos reflectir um pouco sobre alguns aspectos relacionados com o amor:

– o comportamento, o nível de satisfação e o estado de espírito dos próprios amantes.

Se fôssemos julgar o amor, principalmente, pelos impactos, pela quantidade de lágrimas, pelas enormes frustrações, pela crueldade das ofensas que se desdobram em seu nome, não continuaríamos a avaliá-lo da mesma forma, e, poderíamos até confundi-lo com um transtorno mental.

 

A amizade é o insignificante prémio de consolação.

 

As cenas que tipicamente se desenrolam entre os amantes dificilmente seriam imagináveis ​​noutras relações.

Honramos aqueles que amamos com o nosso pior humor, com as acusações mais injustas e com os insultos mais malignos.

É para os nossos amantes que dirigimos a culpa por tudo o que deu errado nas nossas vidas.

Esperamos que eles saibam tudo o que queremos dizer sem nos preocuparmos em explicar.

É aos seus pequenos erros e mal-entendidos que respondemos com indignação e raiva.

E, em comparação, é na amizade, um estado supostamente inferior, cuja alusão no final de um encontro nos esmaga, que mostramos as nossas maiores e nobres virtudes.

Na amizade somos pacientes, encorajadores, tolerantes, divertidos e, acima de tudo, gentis.

Esperamos um pouco menos e, portanto, temos uma capacidade enorme de perdoar.

Não presumimos que seremos completamente compreendidos e, assim, aceitamos as falhas de uma forma mais leve e humana.

 

Paradoxalmente são os amigos que nos oferecem o verdadeiro caminho para os prazeres que o romantismo associa ao amor.

 

Não imaginamos que os nossos amigos devam admirar-nos sem reservas e apoiar-nos em qualquer coisa que façamos.

E, por isso, esforçamo-nos e comportamo-nos, agradando a nós mesmos e aos nossos amigos ao longo da vida.

Nós somos, na companhia de nossos amigos, os nossos melhores Eus.

Paradoxalmente é a amizade que nos oferece o verdadeiro caminho para os prazeres que o romantismo associa ao amor.

O facto de isto soar surpreendente é reflexo do quanto limitada a nossa visão quotidiana de amizade se tornou.

Mas a verdadeira amizade é algo mais profundo e digno de regozijo:

– É um espaço no qual duas pessoas podem ter uma noção das vulnerabilidades uma da outra;

– Apreciar as loucuras um do outro sem recriminação;

– Tranquilizar-se mutuamente quanto ao seu valor e acolher as tristezas e as tragédias da existência com delicadeza e carinho.

Colectiva e culturalmente, cometemos um grande erro que acaba por nos deixar mais solitários e mais decepcionados do que seria necessário.

Num mundo melhor, o nosso objectivo principal não deveria ser encontrar um amante especial que substitua todos os outros humanos, mas colocar a nossa inteligência e energia em descobrir e cultivar um círculo de amigos verdadeiros.

No final de uma noite, quem sabe diríamos, a prováveis futuros companheiros, com um sorriso envergonhado, que os convidámos para entrar – sabendo que isso seria uma rejeição dolorosa – ‘Sinto muito, não poderíamos ser apenas… amantes?

Ter noção das dificuldades dá confiança. Pedro Martins Psicoterapeuta

Ter Noção das Dificuldades dá Confiança

Uma das maiores fontes de desespero é a crença de que as coisas deveriam ter sido mais fáceis do que, na verdade, acabaram por ser.

Não desistimos somente porque as coisas são difíceis, mas porque não esperávamos que fossem assim.

O grande esforço implicado é interpretado como uma prova humilhadora de que não temos o talento necessário para concretizarmos os nossos desejos.

Tornamo-nos submissos e tímidos e acabamos por nos render, porque sentimos que uma luta tão grande só existe para nós.

Parece que para os outros é tudo mais fácil.

A capacidade de permanecer confiante depende, em grande medida, de se internalizar a narrativa correcta sobre as dificuldades que, provavelmente vamos encontrar.

E, no entanto, infelizmente, as narrativas que temos à mão são – por diversas razões – profundamente enganadoras.

Estamos cercados de histórias de sucesso que conspiram para fazer com que o êxito pareça mais fácil do que de facto é.

Portanto, acaba por involuntariamente destruir a nossa confiança diante dos nossos obstáculos.

 

Parece que para os outros é tudo mais fácil. Mas não é.

 

Algumas das explicações para o predomínio de narrativas optimistas são benignas.

Se disséssemos a uma criança o que lhe está reservado – momentos de solidão, relações instáveis, empregos insatisfatórios, etc., – ela poderia atemorizar-se e desistir.

Preferimos ler-lhe as aventuras do coelhinho “Miffy e os seus amigos”.

De outro ângulo, as razões para o silêncio em torno das dificuldades são um pouco mais egoístas:

– Procurar impressionar as pessoas.

O artista aclamado ou o empresário de sucesso esforça-se para disfarçar a energia implicada, e fazer com que seu trabalho pareça simples, natural e óbvio.

Sem sabermos detalhadamente o que implica desenvolver um projecto, não nos podemos posicionar correctamente em relação às nossas derrotas.

Como não sabemos o suficiente sobre o percurso espinhoso daqueles que admiramos, não perdoamos a forma trágica como correram as nossas primeiras tentativas.

Certas sociedades têm sido mais sábias do que as nossas em evidenciar a nobreza implicada nos esforços.

A confiança não é a crença de que não vamos encontrar obstáculos.

É o reconhecimento de que as dificuldades são uma parte inevitável de todos os projectos importantes.

É necessário que as pessoas saibam que a ansiedade, a dor e o desapontamento estão presentes nas vidas bem-sucedidas.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton

Comprrender as coisas de forma racional versus emocional. Pedro Martins Psicólogo Clínico

Compreender as coisas de forma Racional vs. Emocional

É necessário distinguir entre saber algo sobre nós mesmos de forma racional e emocional

Conhecer a nossa própria mente é, na melhor das hipóteses, difícil.

É, até, extraordinariamente difícil compreender coisas básicas sobre nós e o que está por trás delas.

Coisas que condicionam as nossas vidas, e, das quais, esperamos um dia libertar-nos.

Em certos momentos é, verdadeiramente desanimador, concluir que saber uma coisa sobre nós, ter consciência dela, não é suficiente para que ela se altere.

Uma compreensão racional do passado, apesar de correcta, por si só não é suficiente para nos libertar.

Podemos, por exemplo, saber do ponto de vista racional de que somos tímidos junto de figuras de autoridade porque o nosso pai era uma figura fria e distante, e que não nos apoiava nem dava o amor que precisávamos.

Conseguir chegar até esta conclusão pode ser o trabalho demorado e, tendo chegado, poderíamos esperar que os nossos problemas com a timidez e a autoridade diminuíssem.

Mas, na nossa mente, infelizmente, as coisas não são assim tão simples.

Uma compreensão racional do passado, apesar de correcta, por si só não é suficiente para nos libertar.

Para isso, temos de olhar de forma aprofundada o que se passou connosco e o que suportámos.

Precisamos dar mais um passo e compreender as coisas do ponto de vista emocional.

Teremos que contactar com um conjunto de episódios do passado, nos quais os problemas com os nossos pais e as questões da autoridade se originaram.

Temos de permitir recordar certos momentos que devido à sua intensidade foram remetidos para longe na nossa memória.

É preciso encontrar, contactar e escutar emocionalmente partes nossas.

Não basta saber que tivemos um relacionamento difícil com o nosso pai, é preciso contactar com os sentimentos associados à situação.

Sabemos que pensar racionalmente é importante – mas, por si só, dentro do processo terapêutico, não é suficiente para resolver os nossos problemas psicológicos.

Há uma diferença fundamental entre reconhecer que éramos tímidos enquanto crianças e vivenciar o que era sentir-se intimidado, ignorado e com receio de ser rejeitado ou ridicularizado.

É diferente saber, de uma maneira abstracta, que a nossa mãe não esteve muito focada em nós quando éramos pequenos e re-conectarmos com o que sentíamos quando tentávamos partilhar algumas das nossas necessidades com ela e não conseguíamos.

A psicoterapia permite reviver certos sentimentos. Só quando estamos em contacto com os sentimentos é que podemos corrigi-los com a ajuda das nossas capacidades – agora mais maduras – e, assim, abordar os problemas reais na nossa vida actual.

É preciso encontrar, contactar e escutar partes nossas – talvez pela primeira vez – para que possam ser ao mesmo tempo tranquilizadas e revigoradas.

É com base neste tipo de conhecimento emocional arduamente conquistado, e não no seu tipo racional, que podemos encontrar uma forma de resolver os nossos problemas internos.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de “Knowing things intellectually vs. knowing them emotionally”

Infantilização dos filhos - Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

A Infantilização dos Filhos

Tratar um adulto como se fosse uma criança – infantilização -, cria um ciclo de dependência.

A ponto de vermos jovens adultos a perguntar constantemente, o que fazer e como fazê-lo.

Os efeitos negativos da infantilização nos adultos estão bem documentados:

– traduzem-se numa crescente diminuição da capacidade de funcionar autonomamente.

Mesmo nas crianças, a infantilização pode ter consequências negativas.

Imagine que tem uma filha pequena que acabou de aprender a atar os atacadores dos ténis.

Ela, objectivamente, leva mais tempo para fazer isso do que você.

Como normalmente está com pressa para sair de casa, você vai continuar atar-lhe os atacadores de manhã para não perder uns minutos preciosos.

Ao assumir essa tarefa que ela já pode fazer sozinha, você está a afectar o sentimento de autonomia da sua filha, mesmo que esteja a fazer isso por um motivo perfeitamente legítimo.

A infantilização nos adultos traduz-se numa crescente diminuição da capacidade de funcionar autonomamente.

Depois deste exemplo, imagine o que acontece com os pais muito narcísicos.

Os pais narcísicos precisam que os filhos permaneçam dependentes deles por muito tempo.

Quando os filhos crescem estes pais têm muito medo de não se sentirem importantes na vida dos filhos.

Nathan Winner e Bonnie Nicholson (2018), estudaram o papel da superprotecção: tratamento continuado dos filhos como se fossem crianças – infantilização.

De acordo com os autores, a superprotecção envolve excesso de envolvimento e intrusão, combinada com calor humano e pronta capacidade de resposta, em situações em que as crianças não precisam de ajuda nem de se sentirem seguras.

Os pais super-protectores, ao manterem os filhos dependentes deles, podem impedir o desenvolvimento adequado da independência do jovem adulto.

O que, por sua vez, leva o indivíduo a não ser capaz de viver uma vida adulta.

A superprotecção envolve excesso de envolvimento e intrusão.

Os pesquisadores acreditam que o controlo excessivo presente na superprotecção está no centro das dificuldades que os filhos de pais narcisistas podem sentir.

Winner & Nicholson definem o “controlo psicológico parental” como uma intrusão emocional, e não apenas tentativas de limitar a criança a tornar-se um adulto.

Os resultados (obtidos através de correlações) permitiram que os autores considerassem a relação entre o comportamento de controlo excessivo dos pais e o narcisismo das crianças.

Noutras palavras, os sujeitos com sentimentos de inferioridade, foram os que estiveram expostos a pais intrusivos que os tentavam controlar.

Os autores concluem que os pais que vão longe demais no seu desejo de permanecerem proeminentes e envolvidos na vida dos filhos contribuem para o desenvolvimento de sentimentos de inferioridade.

Os pais intrusivos levam os filhos a desenvolver sentimentos de inferioridade.

A existência desta relação sugere que os problemas narcísicos podem ser transmitidos de geração em geração.

Os pais emocionalmente intrusivos produzem filhos que, por sua vez, sentem que essa é a melhor maneira de criar um filho.

Também é importante notar que os pais que são demasiado controladores, efectivamente, são muito carinhosos enquanto cuidam dos filhos e lhes dão tudo (ou mais do que tudo).

Assim, os filhos sentem que serão amados se acederam os desejos dos pais, deteriorando ainda mais o seu sentimento de autonomia.

Ter sido tratado como uma criança não significa que você tenha que ser criança para sempre.

Ao ter uma percepção da forma como se deu o seu crescimento pode, finalmente, reconhecer o seu próprio potencial para ser um adulto e encetar movimentos no sentido da independência .

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