Triste e sem saber porquê? Pode estar deprimido
A tristeza aparece quando se perde algo ou alguém a que se estava fortemente ligado.
Quando esse algo que se perdeu era já tido como uma posse incerta ou duvidosa, só mantida por uma convicção ligada a certa omnipotência, a tristeza é sentida, mas negada a realidade da perda – ou, mais precisamente, negado o sentimento de perda.
“A Depressão é a negação do sentimento de perda.”
E assim se instala a depressão. A depressão é, pois, a negação do sentimento de perda; está-se triste sem se saber porquê.
Quando se perdeu alguém de quem se estava dependente, mas cuja dependência era sentida como uma inferioridade pessoal, da mesma forma a tristeza é sentida, mas negado o sentimento de perda. E, pela mesma razão, se instala um quadro depressivo.
Por conseguinte, a depressão é uma tristeza cujo o motivo se procura negar para manter incólume o narcisismo, a auto-imagem.
Mas negando o sentimento de perda, o trabalho de luto não se faz: a tristeza mantém-se, a depressão arrasta-se.
A cura da depressão passará, portanto, pela realização de um trabalho de luto que está bloqueado: pela consciencialização, aceitação e elaboração da perda; sobretudo, pela vivência e aceitação do sentimento de perda.
Portanto, enquanto no luto normal há propriamente uma perda de alguém, na depressão ou luto patológico há uma perda narcísica, uma perda de auto-estima.
O depressivo é um indivíduo em deficiência narcísica. O seu mundo – das coisas e das pessoas – serve para confirmar ou infirmar, avaliar, medir o seu valor próprio: é o espelho da sua auto-representação. O indivíduo vê-se no efeito que produz à sua volta, no reflexo da circunstância, na admiração e amor que desperta nos outros.
O défice narcísico, em consequência, acompanha-se sempre de uma faceta exibicionista. Ainda que de um exibicionismo tímido, envergonhado, dado o sentimento de inferioridade que caracteriza a estrutura depressiva.
Compreendemos agora melhor a reacção à perda nestas personalidades: a perda é negada para evitar o ferimento narcísico, para evitar o sentimento de lesão da auto-estima.
A auto-estima já de si pobre não pode expor-se a novo empobrecimento; por isso a consciência procura ignorá-lo. Mas a realidade impõe-se, e lá está a depressão para o evidenciar.
E, por micro-depressões sucessivas, o quadro de depressão crónica – latente, manifesta ou mascarada – vai-se agravando. Esta é a história existencial da personalidade depressiva.
Bibliografia: Matos, A. C. (2001). A Depressão. Lisboa: Climepsi Editores
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