Tipos de Reacção à Perda do Amor
A aflitiva, catastrófica perda do “outro” – no psicótico – resulta de que neste tipo de estrutura psicopatológica do Eu o outro é absolutamente único; e, consequentemente, na sua perda, fica completamente só e perdido no nada.
Na estrutura depressiva o “outro” – um outro especial – é bastante mais importante que os outros; podemos dizer, o único verdadeiramente importante. Quando o perde o depressivo sente-se sem verdadeiro objecto de amor.
Na organização neurótica há um “outro” privilegiado, mas há vários outros importantes e amados. Quando se perde esse outro privilegiado, não fica nem só nem sem amor – e esta distinção é fundamental.
Podemos acrescentar que o sujeito normal/neurótico tem um número de pessoas investidas com intensidades e formas variadas.
A desesperança resultante da perda, o sentimento de que não poderá conquistar um novo amor, organiza a estrutura depressiva.
Em regra, a uma série de perdas e desilusões, o indivíduo pode perder a confiança na sua capacidade de amar e/ou na sua qualidade para ser amado, e então perde a esperança e deprime-se verdadeiramente.
Já não é só o sofrimento pela perda havida mas também a desesperança, o sentimento de que não poderá conquistar novo amor e é esta desesperança que organiza a estrutura depressiva.
Na história do depressivo raramente há uma só perda, mas uma sucessão de perdas que estruturam um sentimento de incapacidade de conquistar o amor do outro.
As novas perdas de afecto são cada vez mais intoleráveis, não só porque diminuem as reservas narcísicas, como esgotam o debilitado capital de esperança.
Por outro lado, as relações amorosas, vividas sob o signo da inibição (e muitas vezes na desconfiança da sinceridade do amor do outro), são insatisfatórias. Quando perdidas deixam o sabor amargo do que não foi e podia ter sido, a perda do que ainda não tinha sido ganho – o desespero, a tristeza, a frustração de ter perdido o que apenas se saboreara parcialmente. É a morte antes da vida; a tristeza que se segue à tristeza e não à alegria.
A partir de “Psicopatologia Dinâmica” – A. Coimbra de Matos
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