Dormir na Cama dos Pais
Muito se tem escrito sobre a vontade dos filhos irem dormir para a cama do casal e se os pais devem ou não permitir.
Mas fala-se menos sobre a vontade dos pais terem os filhos a dormir com eles, e, em alguns casos, a permanecer lá durante anos.
De uma maneira geral, aconselha-se que a criança durma sozinha a partir do quarto ou sexto mês de vida, no sentido de favorecer o desenvolvimento da sua autonomia.
Para que a criança possa desenvolver a “capacidade de estar só” – Winnicott -, é importante que os pais a coloquem a dormir sozinha.
O simples facto de a criança dormir sozinha faz com que a “capacidade de estar só” se desenvolva?
A resposta é não.
O desenvolvimento da autonomia está dependente das características do vínculo mãe-bebé.
O desenvolvimento da “capacidade de estar só” está dependente do vínculo mãe-bebé. São as características deste vínculo que determinam se este processo será mais fácil ou mais difícil.
PAIS QUE DORMEM COM OS FILHOS
Nem sempre são os filhos a ir para a cama dos pais. Há casos em que acontece o contrário.
Devido aos medos que a criança manifesta na hora de adormecer muitos pais (a mãe ou o pai) dormem na cama dos filhos e por lá ficam.
Uns ficam umas horas, outros uns dias.
Mas temos também os pais que, aparentemente, trocaram de forma definitiva, a sua cama pela dos filhos.
O contrário também acontece, com os filhos a permanecer indefinidamente na cama dos pais.
Este funcionamento, de tão prolongado, adquire um carácter de normalidade.
Em ambos os casos a intimidade do casal está ameaçada ou, pelo menos, condicionada.
Muitas vezes, o nascimento de um filho é uma excelente justificação para os pais dormirem separados ou porem os filhos a dormir com eles, contornando, assim, os problemas pré-existentes no casal.
Ao mesmo tempo, o nascimento de um filho mexe, em certos casos, profundamente com a vida do casal:
O cansaço físico e emocional; a mãe que não aceita o seu corpo depois da gravidez, e por isso se afasta para não ter contacto íntimo com o parceiro; o pai que sente ciúmes do tempo que a mãe dedica ao filho; a diminuição do desejo sexual; etc.
Por vezes as mães sentem-se culpadas por continuarem a ser mulheres, depois da maternidade.
É como se o novo papel de mãe, para ser exercido plenamente implicasse recusar a sua feminilidade, e as coisas a ela associadas.
É muito importante que o pai não se afaste como homem e faça sentir à mãe que ela ainda é uma mulher desejada e com desejos.
Isto é importante para o casal como para o filho, na medida em que a mãe não busca somente na criança a gratificação afectiva.
A presença dos filhos na cama dos pais é uma ameaça à intimidade do casal.
Existem casos em que as mães têm medo de que algo fatal possa acontecer com o bebé se não dormirem com ele.
Passam grande parte da noite acordadas a ouvir o batimento cardíaco do bebé e a respiração, para se assegurarem que continua vivo.
Normalmente, isto está associado a sentimentos de culpa.
Por vezes, a ansiedade, o medo e a angústia dos pais é apaziguada de forma mais cómoda colocando os filhos a dormir com eles na cama do casal.
Nos casos em que um filho passou por uma situação traumática, ou na elaboração de certas perdas, dormir com a criança durante um tempo pode ser importante para recuperar a confiança e, aos poucos, voltar para a sua cama.
FILHOS QUE DORMEM COM OS PAIS
Nos casos em que a cama é compartilhada, é habitual que a criança durma com os pais, sempre ou alternadamente até chegar aos dois ou três anos de vida e depois vá para o seu quarto, sem qualquer implicação emocional para a criança ou para os pais.
Portanto, no nosso caso, a questão não é dormir ou não dormir na cama do casal, mas saber o que leva os pais a fazerem-no.
Em abstracto podemos dizer que as coisas vão bem quando é a criança que quer dormir com os pais e não tanto, quando são os pais que precisam de dormir com os filhos.
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