Os pais também devem colocar limites a si próprios
O medo do mundo exterior leva os pais a querer controlar a vida dos filhos. Mas será que os pais não deveriam colocar limites a si próprios?
“Eu não sei com quem meu filho namora, ou o que ele faz quando não está em casa. Eu gostaria de saber com quem conversa e quem conhece na internet.
Cada vez que chega a casa eu me pergunto o que ele fez o dia todo mas ele não me explica nada. Fecha-se em copas.
Às vezes eu mexo nas coisas dele ou entro no computador dele.” Estes são apenas alguns dos comentários repetidos entre pais de adolescentes.
A razão pela qual muitos pais fazem extensos interrogatórios aos seus filhos tem a ver com os medos gerados pelo mundo exterior.
Pode ser resumido no medo de que algo de mau aconteça aos filhos. O mundo, a rua ou a internet estão cheios de perigos.
Ao longo da adolescência, os jovens realizam duas operações que estão intimamente ligadas e que são necessárias.
Por um lado, ao sentir a necessidade de criar o seu próprio espaço eles recolhem-se na sua própria privacidade, livre da tutela dos pais que controlam tudo e, por outro, precisam explorar o mundo para alcançar a exogamia, que lhes permitirá formar uma família, sair de casa, ou assumir as suas próprias responsabilidades e viver em sociedade.
Há uma geração atrás, os adolescentes faziam estas duas operações rompendo com os pais numa mudança radical.
Tinham outros interesses, ouviam outra música, vestiam-se de maneira diferente. Num dado momento, havia uma ruptura, fruto de uma crise, e o jovem afastava-se dos pais e iniciava uma vida mais autónoma. Falava-se em rebeldia da juventude.
Para evitar que o adolescente tenha frustrações os pais acabam por super-proteger os filhos.
Actualmente, apesar da ilusão de que não há diferença entre uma geração e a outra, ela manifesta-se de outras maneiras. É algo estrutural em cada geração, mesmo que tenha novas formas.
Em relação às gerações passadas, agora tudo é mais subtil. Os pais esforçam-se para ouvir a mesma música, vestem-se da mesma forma, são pais “modernos”.
Mas, ao mesmo tempo, assim como com os seus próprios pais, eles tentam impedir os filhos de se separarem e acabam por recorrer à superprotecção.
O argumento usado é o de evitar que o adolescente tenha frustrações. No entanto, os pais fazem isso pelos filhos ou por eles?
Verificamos, ouvindo os adolescentes, que eles têm dificuldade em criar espaços de intimidade porque os pais estão muito em cima deles.
Uma mãe disse-me: “Eu quero que minha filha sinta que eu sou amiga dela”.
Efectivamente há perigos na sociedade e há jovens que fazem coisas delicadas. De qualquer forma, esta época não é pior do que outras em termos de perigos.
No entanto, já não vemos crianças na rua a brincar sozinhas – quando no passado era a coisa mais normal do mundo.
Na era da informação, tudo é amplificado. Algo que acontece no Bornéu pode servir para assustar os pais e pensar que isso certamente pode acontecer com os seus filhos.
Tudo isto esconde outra questão que o psicanalista Jacques Alain Miller define como “a intromissão do adulto na criança”. O que significa isto?
A intrusão tem a ver com querer moldar as crianças à nossa imagem, baseada em ideais, o que é verdadeiramente impossível e está na base do conflito geracional.
Os pais devem permitir que o adolescente possa experimentar e encontrar os seus próprios limites.
O adolescente deixa de ser transparente aos olhos dos seus pais e fecha-se mais sobre si mesmo.
A reacção dos pais é de mais controlo, opinar sobre a sua vida, interferir nos estudos, nas amizades, nos momentos de diversão, pressioná-lo para que saia ou deixe de sair, imiscuir-se sobre o que lhes convém.
A reacção lógica dos adolescentes é geralmente o silêncio ou o negativismo, o que gera um círculo vicioso de impotência e mal-estar.
Provavelmente ajuda recordar que nós adultos fomos adolescentes e que passámos por situações de confusão, momentos difíceis e que há algo inevitável em tudo isso.
Nas associações de pais, geralmente insiste-se em falar sobre como colocar limites nos filhos.
Podemos brincar com isso e pensar se os pais não precisam de se limitar para intervir menos na vida dos filhos.
Pense nos limites como uma separação. Separar-se deles para poder acompanhá-los melhor na jornada que, definitivamente, é deles.
A nossa é a nossa. Aproveitar isto para fazer uma introspecção sobre a nossa vida como adultos.
São muitos os pais que pensam que os filhos têm de viver as suas próprias experiências, cometer erros, serem mais autónomos.
Como se diz em francês: “faire confiance”, que nada mais é do que permitir que o adolescente possa experimentar e encontrar os seus próprios limites.
Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de “Por qué los padres también deberían ponerse límites en la relación con sus hijos” – Mario Izcovich
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