Etiqueta: <span>sexualidade</span>

O Medo de Ser Mau na Cama Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

O Medo de ser Mau na Cama

Em momentos de baixa auto-estima, pode ser difícil evitar o medo de que se possa – e isso pode explicar certos altos e baixos nos relacionamentos – ser “mau na cama”.

Três ansiedades tendem a predominar:

– Que nossos corpos não são suficientemente atraentes

– Não praticamos ou não conhecemos certas posições

– Que nos cansamos com demasiada facilidade

 

Estes receios reflectem a visão subjacente de que o sexo é predominantemente uma actividade física – e que, portanto, o “bom sexo” depende de ter uma grande resistência e flexibilidade corporal.

Desta forma arriscamos a não entender o que está no cerne do erotismo.

Embora tradicionalmente o sexo faça uso do nosso corpo, o prazer sexual pode estar mais relacionado com certas “posições mentais”.

Como a tecnologia nos mostra, é bem possível que duas pessoas provoquem um erotismo extraordinário enquanto os seus corpos estão perfeitamente encaixados ou sem tocarem um no outro.

Isto porque o erotismo é – na verdade – sobre algo completamente diferente: ideias, fantasias.

Ser um bom amante é, antes de tudo, uma competência da mente.

O sexo torna-se tanto mais agradável quanto mais funciona como uma libertação de muitas das ideias pré-concebidas do que é normal.

 

Mau na cama? O prazer sexual depende mais de certas “posições mentais” do que corporais.

 

O bom sexo permite-nos admitir e compartilhar uma enorme quantidade de pensamentos e fantasias que normalmente mantemos escondidas.

No bom sexo, ser-nos-á permitido – por exemplo – mostrar:

– Que estamos mais interessados em controlar e dominar alguém do que normalmente acontece na nossa vida não sexual

– Ou, pelo contrário, que estamos interessados em submeter-nos e sermos dominados.

– Podemos querer subverter as hierarquias da vida normal, explorando cenários de pilotos e assistentes de bordo, professores e estudantes, pacientes e médicos.

– Podemos confessar que, embora monógamos por natureza, a ideia de outras pessoas nos observarem ou se juntarem a nós excita-nos bastante.

– Ou podemos revelar que os nossos interesses eróticos não circulam – como é suposto – exclusivamente em torno dos genitais; que estamos muito mais interessados na nuca, nos pulsos ou mesmo sapatos ou collants.

– Podemos ter a coragem de desafiar as regras cronológicas normais, revelando que gostaríamos de passar mais tempo com as nossas roupas vestidas, ou despirmo-nos apressadamente.

Sexualidade é a excitação de nos sentirmos livres dos tabus restritivos do resto das nossas vidas. É um lugar seguro, onde podemos levar outra pessoa para o lado não inteiramente responsável, um pouco cruel e louco de nós.

Que alguém nos dê permissão para fazer isso, está no cerne do que é a sensualidade.

A pessoa que é boa na cama não é aquela que se sabe articular ritmicamente por longos períodos: é a pessoa que encoraja, defende e legitima os segredos do parceiro ao mesmo tempo que está muito consciente e é verdadeira com os seus próprios desejos.

Trata-se de uma mútua nudez da mente, tornada possível através da confiança.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton

 

A Satisfação Conjugal Depende do Desejo Sexual das Mulheres - Pedro Martins Psicoterapeuta/Psicólogo Clínico

A Satisfação Conjugal Depende do Desejo Sexual das Mulheres

O declínio do desejo sexual nas mulheres prediz menor satisfação para ambos os parceiros.

O casamento é projectado para consolidar a permanência de um relacionamento, no entanto, muitos cônjuges ficam insatisfeitos com o casamento.

Os pesquisadores identificaram uma (outra) fonte potencial dessa insatisfação:

– Uma incompatibilidade na forma como os desejos sexuais dos casais mudam ao longo do tempo (McNulty et al., 2019).

McNulty e os seus colegas avaliaram, em casais heterossexuais recém- casados, o desejo sexual, a frequência, a satisfação conjugal e outras dimensões, como o stress e sintomas depressivos.

Eles também observaram se os recém-casados ​​tiveram filhos no decorrer do estudo.

Em dois estudos longitudinais (um de um ano e outro de quatro anos), os pesquisadores descobriram que em média, os níveis de desejo sexual das mulheres eram não apenas inferiores aos dos homens no início dos seus casamentos, mas também com muito mais variações ​​que nos homens.

Os níveis de desejo sexual dos homens permaneceram mais altos e mais constantes que os das mulheres ao longo dos dois estudos.

Além disso, declínios do desejo sexual das mulheres prediziam um declínio na satisfação conjugal nos dois membros do casal.

Curiosamente, embora a libido das mulheres tenha diminuído ao longo do tempo, a frequência das relações sexuais dos casais não diminuiu.

Isto sugere que as mulheres, provavelmente, tinham relações sexuais mesmo quando não o desejavam.

Como os dados foram recolhidos ao longo do tempo, os autores também avaliaram a possibilidade inversa – que a satisfação conjugal em declínio era preditiva de menos desejo sexual. No entanto, isso não foi suportado pelos dados.

 

Em média os níveis de desejo sexual das mulheres são inferiores aos dos homens.

 

Para os casais que tiveram filhos durante o decorrer do estudo, o desejo sexual das mulheres diminuiu ainda mais acentuadamente, mas o dos homens ainda tendia a permanecer estável.

No entanto, os autores enfatizam que, como os casais sem filhos também apresentaram declínios, a paternidade não é o único factor a influenciar a libido das mulheres e a satisfação conjugal dos casais.

Os autores sugerem que o desejo sexual nas mulheres pode funcionar não apenas para facilitar a reprodução, mas também para favorecer a ligação dos casais.

Eles especulam que, uma vez casadas, as mulheres podem não sentir uma necessidade tão grande de sexo para garantir o vínculo com os maridos.

Os pesquisadores referem que os resultados podem ser diferentes em casais homossexuais. Em futuros estudos é importante considerar outros grupos e culturas.

Além disso, os casais do estudo eram todos recém-casados; portanto, os autores acreditam que as correlações podem mudar para casais mais velhos ou não-casados.

Os pesquisadores também recomendam estudar os factores que podem prevenir/impedir o declínio do desejo nas mulheres, como “estar mais disposto a reconhecer e a responder às necessidades sexuais de um parceiro, tendo consciência que o sexo dá trabalho e o desejo tem flutuações”.

Referem que uma incompatibilidade no desejo sexual nos casais é normal e típico e os casais podem procurar resolver esses problemas com um terapeuta.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de :

Relationship Satisfaction Is Closely Tied to Women’s Sexual Desire – Madeleine A. Fugère

Por que o sexo de reconciliação e de despedida são tão bons Pedro Martins Psicoterapeuta

Por que o Sexo de Reconciliação e Despedida é fantástico?

“O sexo de reconciliação foi 10 vezes mais intenso do que eu alguma vez experimentei.”

“A única coisa que sei sobre sexo de reconciliação é que funciona muito bem.” – (mulher casada)

As pessoas descrevem o sexo de reconciliação como selvagem e extremamente gratificante, e é experimentado após uma discussão intensa.

O que faz com que no seguimento de uma discussão amarga, tudo seja esquecido, quando o casal se envolve no que muitos dizem ser um sexo incrivelmente selvagem e prazeroso?

E por que o sexo de despedida também é tão excitante?

 

Transferência de excitação

A explicação básica para a excitação no sexo de reconciliação é a transferência do estado de excitação de uma situação para outra.

Quando estamos excitados devido a um estímulo, é provável que sejamos facilmente excitados por outro.

O sexo de reconciliação é considerado por muitos como o melhor sexo que existe, o que, em muitos casos, compensa a discussão.

A excitação de transferência é explanada na clássica experiência da ponte realizada em 1974 por Donald Dutton e Arthur Aron.

Nessa experiência, transeuntes do sexo masculino são abordados por uma mulher muito atraente que lhes pede para preencher um questionário.

Metade dos entrevistados estava a atravessar uma ponte suspensa que gerava algum medo. A outra metade atravessava uma ponte baixa e segura.

A excitação sexual em relação à mulher foi maior nos sujeitos que atravessavam a ponte que gerava medo.

A excitação do medo foi transferida para a excitação sexual gerada pela presença de uma mulher atraente.

Outro exemplo deste género de transferência pode ocorrer quando assistimos a certos filmes:

– A nossa raiva em relação ao vilão pode facilmente transformar-se em excitação; a felicidade de vermos o vilão a ser castigado.

 

A transferência da excitação não resulta apenas de emoções negativas mas também de outras experiências agradáveis.

 

A grande excitação gerada pelo sexo de reconciliação pode ser explicada à luz dos exemplos anteriores.

O alto estado de excitação associado à discussão é transferido para um estado de grande excitação durante o sexo de reconciliação.

O sexo fantástico após uma discussão, deve-se, em certa medida, à mudança de humor e ao alívio (pelo menos temporário) que a reconciliação com o parceiro produz.

Mas também é resultado da transferência da excitação da discussão para o sexo.

O sexo de reconciliação ocorre após uma discussão desagradável e acalorada com um parceiro que abriu um abismo entre os dois, e assim, ameaçou a continuidade do relacionamento.

O sexo de reconciliação restabelece o vínculo de uma forma bastante palpável.

Como referiu uma mulher:

“O nosso relacionamento é muito mais seguro depois do sexo de reconciliação, para além do alívio adicional da re-conexão com o meu companheiro.

É um lembrete de que, embora nos tenhamos magoado, ainda estamos lá um para o outro.”

Uma maneira semelhante de aumentar a excitação sexual, através da transferência de excitação, é quando um parceiro age de forma selvagem e até mesmo sádica, em relação ao outro.

Aqui a excitação subjacente à raiva e até ao deseja de vingança é transferida para a excitação sexual.

Os casais também desenvolvem formas mais subtis de aumentar a excitação sexual. Por exemplo, através de provocações (teasing).

 

“Eu sinto mais amor durante o sexo de reconciliação, porque apesar do que aconteceu, sei que o nosso amor sobreviveu.” – (mulher casada)

 

A transferência da excitação não resulta apenas de emoções negativas, como a raiva que prevalece durante as contendas, mas também de emoções positivas, como o desfrutar de um bom jantar em conjunto ou de outras experiências agradáveis.

Também pode ser activada pela excitação sexual desencadeada por uma terceira pessoa, como um vizinho de boa aparência ou o herói de um filme que é, então, transferida para o parceiro.

As emoções são fenómenos muito dinâmicos e contagiosos: elas podem facilmente passar de uma pessoa para outra.

Assim, quando vemos uma pessoa triste e a chorar, muitos de nós também ficamos tristes.

Quando alguém nos ama, é mais provável que amemos essa pessoa de volta.

E quando percebemos que a pessoa com quem estamos está excitada sexualmente, também ficamos excitados.

A natureza dinâmica e maleável das emoções não se reflecte apenas na transferência de emoções de uma pessoa para outra, mas também na transferência de emoções dentro da própria pessoa.

A situação de amor / ódio é um desses casos. O amor intenso pode tornar-se um terreno fértil para o surgimento de um ódio intenso.

 

Quando estamos excitados devido a um estímulo, facilmente somos excitados por outro.

 

Sexo de Despedida

O sexo de despedida (“one for the road”) é o sexo agridoce e apaixonado que você tem com o seu parceiro logo depois, enquanto, ou pouco antes de terminar o relacionamento com ele.

Algumas pessoas consideram que o sexo de despedida é ainda melhor do que o sexo de reconciliação.

A excitante natureza do sexo de despedida deve-se às suas circunstâncias únicas:

  • É a última oportunidade de desfrutarem do sexo um com o outro.

Tal como Ted Spiker referiu, “é como no dia anterior ao início de uma dieta. Amanhã vou começar, mas hoje vou aproveitar para comer as coisas que mais gosto”.

O sexo é especialmente prazeroso quando o relacionamento é basicamente bom.

“O sexo de despedida é incrível! É realmente difícil entender até você experimentar! É melhor do que fazer sexo de reconciliação!” – (homem anónimo)

O sexo de despedida envolve o carinho que permanece apesar da separação.

Devido à sua natureza “final”, as pessoas não sentem inibições ou restrições no sexo e comportam-se como desejam, sem se preocupar com o futuro ou o efeito no outro.

Nesta experiência comovente e triste, as pessoas geralmente não falam dos maus momentos e do que arruinou o relacionamento; elas estão imersas na presença excitante, sabendo que não existe amanhã.

Frequentemente adoptam a atitude de: “comer, beber e ser feliz, porque hoje é o ultimo dia das nossas vidas”.

Nada tem importância, excepto a presente união sexual.

No sexo de despedida, a excitação resulta de experimentar uma ligação que não é restringida por circunstâncias passadas e futuras.

 

A natureza dinâmica e maleável das emoções não se reflecte apenas na transferência de emoções de uma pessoa para outra, mas também na transferência de emoções dentro da própria pessoa.

 

No sexo de reconciliação, a excitação tem origem na superação das dificuldades do passado e em olhar positivamente para o futuro.

A total ausência de constrangimento é o que faz com que o sexo de despedida geralmente seja o mais excitante dos dois.

 

Os riscos do sexo de reconciliação e de despedida

O sexo de reconciliação tem os seus próprios riscos, um dos quais é reforçar as discussões, ou pelo menos não levar as contendas tão a sério quanto deviam.

Isto é particularmente verdadeiro quando as discussões são violentas, como no caso das mulheres agredidas.

Muitas vezes, imediatamente após a uma situação de violência doméstica, os homens obrigam as mulheres a fazerem sexo com eles.

Não é preciso dizer o quanto isto é terrivelmente devastador para as mulheres.

No entanto, noutros casos, quando já passou um certo tempo desde que a violência ocorreu, o sexo de reconciliação pode facilitar o retorno das mulheres aos seus companheiros violentos como se nada tivesse acontecido.

Esta é a história real de Tina Nash, uma mulher severamente espancada que ficou com o namorado apesar dos seus comportamentos violentos.

Depois de um episódio particularmente violento, ela voltou no dia seguinte com o intuito de apanhar o carro que ficado estacionado à porta de casa dele.

Ela refere: “Fizemos amor apaixonado naquela noite. O sexo de reconciliação com ele foi 10 vezes mais intenso do que eu já tinha experimentado antes. Ele foi carinhoso e olhava para mim como se quisesse possuir a minha alma.”

Alguns meses depois, ela perdeu a visão em resultado de outro episódio de violência.

Fazer sexo de reconciliação quando a relação é má não envolve uma verdadeira resolução para o conflito, mas um encobrimento temporário, que distrai a atenção do casal dos seus profundos problemas.

 

Riscos: pode facilitar o retorno das mulheres aos seus companheiros violentos como se nada tivesse acontecido.

 

Quando as discussões são constantes e extremas, o sexo de reconciliação pode funcionar como uma droga que dá um alívio temporário e ilusório, mas não é uma solução real.

O sexo de despedida pode ser importante, principalmente, em duas situações:

(a) Ainda gostam um do outro e querem continuar amigos

(b) A decisão de terminar a relação é mútua

Em alguns casos, o sexo de despedida pode ser muito triste e doloroso.

Miguel refere: “A minha namorada levou-me para um fim-de-semana romântico com a ideia de fazermos sexo o máximo de vezes possível e antes de se ir embora disse-me que a nossa relação estava terminada. Isso deixou-me enfurecido e amargurado”.

Para outras pessoas, especialmente aquelas cujo amor pelo parceiro se extinguiu, o sexo de despedida faz com que se sintam tristes por estarem a ser usadas e a cederem a fazer sexo por pena do parceiro.

Outro problema (ou vantagem) do sexo de despedida é que, se é tão bom, gera segundos pensamentos em relação ao fim da relação, que ambos pensavam ser a decisão certa.

 

Sexo de reconciliação em bons e maus relacionamentos

O sexo de reconciliação é um remédio superficial para as discussões.

O remédio é benéfico quando o relacionamento é basicamente bom, e as discussões são tipicamente circunscritas e reduzidas, ou seja, não expressam uma divisão profunda e hostil.

Entretanto, quando existem problemas mais profundos na relação, o sexo de reconciliação tem pouco valor e pode mesmo invocar emoções negativas ao não se abordar o problema com seriedade.

Quando os conflitos subjacentes ao sexo de reconciliação são circunscritos e reduzidos, eles podem ser como pequenas quantidades de um vírus que imuniza o sistema.

Mas quando as doses do vírus são grandes o sistema pode colapsar.

 

Ter relações sexuais extremamente prazerosas não se limita a experiências pós-discussões ou de despedida, também pode ser parte de um amor profundo.

 

Quando as discussões que antecedem o sexo de reconciliação são raras, elas podem ser consideradas como um obstáculo que o casal pode superar, e o sexo é uma das maneiras de fazê-lo.

Neste último caso, quando o relacionamento é basicamente bom, o sexo de reconciliação é normalmente muito bom, e a relação provavelmente melhora.

Quando as contendas são significativas e expressam a natureza problemática do relacionamento, o sexo de reconciliação pode prejudicar ainda mais a relação e os parceiros individualmente.

Não é necessário provocar discussões sérias para ter sexo muito prazeroso, pois há um preço a pagar pelas contendas.

Além disso, se uma discussão é deliberadamente provocada, o sexo subsequente pode perder a sua atracção como reafirmação do amor.

Para além do mais, como os desentendimentos, mal-entendidos e discussões são comuns nos relacionamentos saudáveis, não há necessidade de provocá-los artificialmente – somente a necessidade de superá-los de forma positiva.

Em suma, o sexo de reconciliação e o sexo de despedida podem ser importantes e maravilhosos em certas circunstâncias.

No caso do sexo de reconciliação, as discussões devem ser circunscritas e reduzidas

No caso do sexo de despedida, os dois ainda devem gostar um do outro, e o desejo de terminar resultar de um acordo mútuo.

Noutros casos, tanto o sexo de reconciliação como o sexo de despedida podem ser prejudiciais, já que não resolvem os problemas, mas apenas os aprofundam.

Em qualquer caso, um magnífico sexo não se limita a experiências pós-discussões ou de despedida, também pode ser parte de um amor profundo.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de Why make-up sex and breakup sex are so good – Aaron Ben-Zeév

Porque se Evita Falar de Desejos Sexuais- Pedro Martins Psicoterapeuta

Por que se Evita Falar de Desejos Sexuais?

O conflito é inevitável nos relacionamentos. Você gostaria de economizar mais dinheiro para o futuro, mas o seu parceiro gostaria que os dois aproveitassem mais a vida agora. Você acha que o seu companheiro é muito duro com as crianças, mas o seu parceiro acha que você é demasiado tolerante. Você acha que já faz mais que a sua parte das tarefas domésticas, mas o seu parceiro acha que você não faz o suficiente.

Frequentemente, os casais discutem sobre questões como estas e, muitas vezes, podem encontrar soluções para as divergências.

Os casais que conversam sobre questões sexuais estão mais satisfeitos com os seus relacionamentos

No mínimo, quando falam sobre os seus problemas, percebem melhor as preferências dos parceiros. Mas há uma área de conflito que muitos casais evitam discutir a todo o custo: diferenças nos desejos sexuais.

Várias pesquisas mostram que os casais que conversam abertamente sobre questões sexuais estão mais satisfeitos com os seus relacionamentos. No entanto, muitas pessoas preferem suportar uma vida sexual infeliz do que ter a temida conversa.

Porque é que tantas pessoas têm medo de dizer ao parceiro quais são os seus desejos sexuais?

Esta é a pergunta que a psicóloga Uzma Rehman e os seus colegas exploraram num estudo recente sobre comunicação de conflitos nos casais.

A comunicação de conflitos é sempre difícil, em grande parte porque estamos motivados para evitar emoções negativas. Os ânimos aquecem e as pessoas magoam-se.

Assim como evitamos ir ao dentista apesar duma dor de dentes, evitamos conversar com o nosso parceiro sobre questões delicadas. Então deixamos os problemas alastrarem-se.

Com os problemas não sexuais tendemos a chegar a um ponto em que, “rebentamos” e deixamos sair tudo.

As discussões podem ser saudáveis, sobretudo, quando a discussão permanece focada no assunto em questão e não é usada para desferir ataques.

Mesmo os casais que são razoavelmente bons a resolver vários tipos de conflito ficam presos quando se trata de discutir problemas sexuais.

Em vez de comunicarmos as nossas preferências e perguntar quais são as dos nossos parceiros, seguimos padrões culturais sobre como é suposto o acto sexual acontecer.

Apesar do nosso desejo de ruptura com a rotina, conservamos as fantasias para nós mesmos. Não é de admirar que as nossas vidas sexuais se tornem desenxabidas depois de anos de casamento.

Encontrar coragem para falar dos seus desejos sexuais pode impulsionar o relacionamento.

Pesquisas anteriores mostraram que os casais evitam a comunicação de conflitos porque os percepcionam como três formas de ameaça diferentes:

Ameaça ao relacionamento. As pessoas temem que a discussão sobre o conflito danifique irremediavelmente a relação. Noutras palavras, valorizam os seus relacionamentos mesmo quando não são felizes.

Então, preferem não dizer nada, a arriscar um conflito que poderia levar a uma melhoria na relação, mas que também poderia destruí-la.

Ameaça ao parceiro. As pessoas temem que a discussão sobre conflitos possa magoar os seus companheiros.

Ou seja, preocupam-se com o bem-estar dos seus companheiros, mesmo quando não estão felizes com a maneira como o relacionamento corre.

Mais uma vez, preferem viver nesse estado do que fazer com que o seu parceiro se sinta desconfortável, mesmo com a possibilidade de melhorar as coisas.

Ameaça para si mesmo. As pessoas temem que a discussão sobre conflitos as torne vulneráveis.

Se revelam muito sobre si mesmos, ficam preocupados com o facto de o seu companheiro os desaprovar ou fazer com que se sintam envergonhados.

Precisamos da aprovação do nosso parceiro, mas o medo de perdê-lo é a principal razão pela qual as pessoas evitam falar sobre assuntos delicados.

No seu estudo, Rehman e os seus colegas, pediram às pessoas com relacionamentos sérios que se imaginassem numa situação de conflito com o companheiro. O cenário envolvia uma questão não sexual sobre a divisão de tarefas domésticas e uma questão sexual sobre os envolvimentos íntimos.

Depois disso, os parceiros responderam a um questionário que media a sensação de ameaça ao relacionamento, ao parceiro e a si próprio.

Por um lado, os resultados mostraram que os conflitos sexuais são semelhantes aos conflitos não sexuais, em que todos os três tipos de ameaças percebidas eram altos.

Por outro lado, os argumentos sexuais resultaram em níveis ainda mais elevados de percepção de ameaça ao próprio do que os confrontos não-sexuais.

As pessoas não falam sobre questões sexuais é porque consideram uma ameaça a si mesmas

Em suma, este estudo mostrou que a principal razão pela qual as pessoas evitam falar com os seus companheiros sobre questões sexuais é porque elas consideram essa discussão como uma ameaça a si mesmas.

Com base nas respostas deste estudo e noutros, podemos apontar algumas razões pelas quais os casais se afastam das discussões sobre questões de intimidade.

Primeiro, por razões culturais, o sexo é um assunto embaraçoso, por isso evitamos, de todo, falar sobre isso. Ou então, aliviamos a tensão transformando as discussões sexuais em piadas.

Mesmo dentro de relacionamentos sérios, tendemos a ver o sexo como lascivo e por isso não falado.

Em segundo lugar, a educação sexual é, lamentavelmente, inadequada. Embora tenhamos noções sobre como o acto sexual deve ocorrer, poucos de nós entendemos a amplitude e o impacto que as actividades sexuais têm para os seres humanos.

Portanto, temos dificuldade de compreender os nossos impulsos sexuais, e não dispomos de vocabulário para comunicá-los aos nossos companheiros.

Por causa do nosso constrangimento e ignorância no que diz respeito às questões sexuais, sentimo-nos especialmente vulneráveis ao revelar as nossas fantasias secretas.

Como achamos que os nossos desejos são estranhos, assumimos que nosso parceiro pensará o mesmo.

As pessoas que têm coragem de discutir questões de intimidade com os companheiros geralmente são mais felizes nos relacionamentos.

Mas aprender a superar toda uma vida de constrangimento sobre sexo e desenvolver um vocabulário adequado exige esforço.

Apesar de o conflito ser inevitável nas relações e os casais fugirem deles, as questões de intimidade estão entre as mais difíceis de abordar.

O conflito em si não é um sinal de que algo corre mal na relação. Pelo contrário, se ambos os parceiros abordarem a discussão com a vontade de resolver a questão, o relacionamento será fortalecido.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de: “Why You Won’t Talk About Sexual Issues With Your Partner” – David Ludden. Ilustração Lumi Mae

 

puberdade psicologia clínica

A Puberdade e as suas consequências

A palavra puberdade, de origem latina, aparece no dicionário etimológico como o “conjunto de transformações psicofisiológicas ligadas à maturação sexual que traduzem a passagem progressiva da infância à adolescência”.

Trata-se de um conjunto de processos geneticamente pré-definidos que desencadeiam e levam à maturação sexual.

É uma fase crucial de mudanças somáticas e psicológicas, durante a qual se operam reestruturações nucleares que vão constituir matrizes da personalidade a consolidar ao longo da adolescência.

A puberdade caracteriza-se pelo surgimento da capacidade orgástica e reprodutiva. Sendo que a relação entre a preeminência do desejo sexual e a efectivação dessa possibilidade constitui uma fonte de angústia.

A puberdade tem o importante papel de transição, ou seja, põe fim à latência e dá início à adolescência e prepara o jovem para a autonomia. Trata-se de um processo ancorado no biológico mas com repercussões psicológicas, ou seja, organizador da vida psíquica, nomeadamente da psicossexualidade.

 

A crise na puberdade como organizador

Ao contrário do que acontece na adolescência, na puberdade pode mesmo falar-se de uma crise. Trata-se de um processo curto mas de grande agitação e até de disrupção, determinado por factores genéticos, que em último caso pode ser considerado um factor de risco para a saúde mental.

Uma vez que a crise puberal é uma situação disruptiva com implicações no narcisismo infantil, se esta crise se dá num Eu muito fragilizado pode acontecer que o desenvolvimento se interrompa, caindo numa situação psicopatológica.

 

Na puberdade dão-se alterações muito bruscas

A maturação genital que ocorre na puberdade impõe uma série de transformações corporais e funcionais de uma maneira tão brusca que provocam sentimentos de estranheza e até, em alguns adolescentes, despersonalização. É, talvez, a idade de maior sofrimento psíquico, caracterizado por estados confusionais de todo o tipo.

A puberdade no sexo feminino não apresenta a mesma continuidade com a latência como acontece no sexo masculino. Nesta altura a púbere sente que tem um corpo estranho, diferente daquele corpo harmónico da latência. Esse era um corpo controlável, este está “descontrolado” e a rapariga sente-se insegura e ineficiente sem controlo sobre o seu corpo, sendo incapaz de mentalmente elaborar as transformações que se processam.

Com a puberdade abre-se um caminho tumultuoso mas necessário para a evolução psíquica. Há uma luta entre o proibido e o imperioso.

No entanto este processo de bruscas alterações será sentido de forma menos dramática se decorrer dentro da evolução normal onde o desejo de crescer é predominante. Nessa altura começará a apreciar as alterações no seu corpo – face, seios, estatura, postura -.

 

O corpo na puberdade

O corpo com o qual a púbere se depara é um corpo estranho, diferente daquele que ela conhecia na latência. Esse era estável, sem grandes oscilações. Agora o corpo muda todos os dias. Esta velocidade dificulta a elaboração mental das transformações em curso.O corpo que a rapariga conhece é aquele da latência, e o corpo que lhe surge é um corpo de desejo, que é considerado estranho. Este “novo corpo” vai obrigar ao luto do corpo infantil.

A representação e a forma como é integrado o corpo sexuado, constituirá a matriz sobre a qual se vai organizar a futura sexualidade.

A forma como o corpo é investido narcisicamente, como masculino ou feminino, depende da forma de relacionamento objectal que a púbere teve com os pais e em particular da narcisação que deles recebeu. A púbere vai amar ou odiar o seu corpo conforme se sentiu amada ou rejeitada pelos pais.

A negação do corpo sexuado, fantasia de não pertencer a nenhum género (roupas muito largas), podem surgir nesta altura.

A integração da imagem do corpo sexuado no Self sofre vicissitudes e angústias que constituem pontos cruciais do desenvolvimento e da superação da puberdade”

As transformações nas relações entre pais e filho púbere estão ligadas às mudanças ocorridas na sua aparência física.

À medida que o corpo cresce também cresce o desejo de escapar ao domínio do outro, o que leva a pôr em causa as regras.

 

A regressão na puberdade

Na puberdade há um desejo de reconstruir a relação fusional como forma de atenuar a angústia de separação que reaparece no primeiro momento da maturação sexual genital.

Esta forte tendência regressiva até à mãe faz com que a ambivalência domine a situação: por um lado a dependência da mãe reaparece, negando a separação e o crescimento, e por outro, é agressiva, desafia a autoridade e as normas.

O desenvolvimento, de uma maneira geral, faz-se no permanente jogo entre forças de progressão e as paragens transitórias sempre ameaçadas pela regressão, no caminho para a diferenciação e a identidade. Desenvolver-se é diferenciar-se, e diferenciar-se é afirmar-se. Cada passo da diferenciação psíquica implica uma certa desorganização, acompanhada de um movimento regressivo.

Esta regressão não deve ser vista como uma coisa negativa uma vez que esta se encontra ao serviço do desenvolvimento, preservando o narcisismo, e corresponde a um tempo de espera que compense o descompasso entre a maturação sexual e a maturidade psicológica. O êxito na evolução para a feminilidade passa pela capacidade de superar as tendências regressivas da puberdade.

 

 A genitalidade e a sexualidade na puberdade

O termo puberdade tem uma relação estreita com a sexualidade. A palavra deriva de pūbēs, que designa a região genital. Também associado ao termo puberdade está, “velar” e “esconder”, neste caso escondido pelos pêlos. A descoberta da sexualidade é uma das tarefas dominantes da puberdade.

A puberdade com as suas transformações impõe a realidade (para alguns dolorosa) de um corpo sexuado e obriga a assunção de pertença a um dos géneros.A pulsão tem agora um objecto sexual – o outro -.

Com a maturação genital passamos do “não posso” da infância para o “posso” do púbere.

Nesta fase o funcionamento mental do púbere caracteriza-se por uma tensão excessiva, uma energia livre e uma sexualidade genital. Esta muitas vezes fica dentro do corpo (somatizações), ou é descarregada através do agir.

Em virtude do que foi descrito anteriormente pode compreender-se que os mecanismos de defesa mais usuais na puberdade sejam o ascetismo e a intelectualização. No que diz respeito à intelectualização, esta tem como fim a repressão emocional através da racionalização.

 

 

Excertos da Tese de Mestrado: “CONTRIBUTO À COMPREENSÃO DA ANOREXIA MENTAL FEMININA A PARTIR DO PROCESSO DE SEPARAÇÃO-INDIVIDUAÇÃO” – Pedro Martins

masturbação

Masturbação (?)

Recentemente, em casa de uns amigos, passou-se o seguinte:

O filho deles andava aos saltos de um lado para o outro, mas a mão, raramente se desprendia dos calções.

Não estará com vontade de fazer chichi, alguém perguntou. Descontraidamente, o pai respondeu, “está entretido…”

A manipulação dos órgãos genitais está associada à masturbação, mas para ser considerada masturbação falta o essencial, a fantasia.

A masturbação com um verdadeiro significado sexual é praticada em segredo, às escondidas e não no meio da sala onde todas as pessoas podem ver.

Os pais apercebem-se do que está acontecer e, felizmente, a maioria faz vista grossa à exploração que a criança faz do corpo.

Naturalmente, descobre que há partes mais agradáveis que outras.

Provavelmente, passa mais despercebido, mas é habitual encontrar-se crianças entretidas com o lóbulo da orelha ou a fazer caracóis com o cabelo.

Destituir de qualquer tipo de significado a manipulação dos genitais é cair no oposto.

Esta exploração passageira do corpo liga-se com emoções e fantasias vagas que prepara a sexualidade adulta.

Nos adultos a vida sexual infantil está reprimida, esquecida, sendo que muitos ficam angustiados com esta fase dos seus filhos, e são excessivamente severos em relação a este comportamento.

É importante que os pais/educadores possam entender e aceitar esta fase como fazendo parte do desenvolvimento, e preparação para uma vida sexual adulta e satisfatória.

Pensamento mágico. Pedro Martins Psicólogo clínico Psicoterapeuta

Pensamento Mágico

O termo pensamento mágico designa o pensamento que se apoia numa fantasia de omnipotência para criar uma realidade psíquica …

Identificação Projectiva. Pedro Martins - Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Identificação Projectiva

Em situações desconfortáveis com outra pessoa, por vezes é difícil saber de onde vem o desconforto, de nós ou do outro. …

Adoecer Mentalmente. Pedro Martins Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Adoecer Mentalmente

Adoecer Mentalmente: Durante bastante tempo podemos conseguir lidar suficientemente bem com as coisas. Conseguimos ir trabalhar …