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Rebelião e Desobediência nos Adolescentes Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Rebelião e Desobediência nos Adolescentes

Por que é que os adolescentes discutem tanto e como é que os pais devem reagir?

À medida que os pré-adolescentes entram na adolescência, expande-se a sua capacidade de raciocinar como um adulto e de fazer escolhas.

Ao mesmo tempo, entram no período de “separação-individuação” e de formação de uma “identidade adulta independente”. Ambas as tarefas podem levar a uma enorme frustração e angústia dos pais.

Segundo Nadine Medlin:

“A separação-individuação psicológica é o processo pelo qual o jovem adulto renegoceia a relação com os pais.

A resolução da crise de identidade envolve a síntese do passado e do presente, uma vez que o adolescente se reintegra de tal forma que permite que o jovem adulto assuma o seu lugar na sociedade.

Ambos os processos são uma parte vital do impulso para um ajustamento pessoal saudável.”

Para concretizar estas tarefas com sucesso, muitos adolescentes iniciam discussões com os pais, muitas vezes por razões triviais.

Isto pode ser especialmente instigador para os adultos, uma vez que não parece existir nenhuma razão por detrás das querelas que ocorrem.

As tentativas de raciocinar com o adolescente quase sempre acabam em fracasso.

Isto tem a ver com as origens do argumento, que se relacionam com o adolescente desenvolver duas competências:

– Afinar as suas capacidades verbais para expressar o seu ponto de vista

– Fazer entender que se trata de um adulto que pode tomar decisões independentes sobre a sua vida

Nenhum deles tem, necessariamente, nada a ver com a resolução de problemas ou conflitos, que tendem ambos a ser o centro das atenções dos pais.

 

Forçar o adolescente a fazer a escolha “correcta” raramente funciona e quase sempre resulta em confrontação.

 

Aceitar que a discussão que está a ter com o seu adolescente é uma actividade necessária pela qual eles têm que passar é muito difícil para uma grande parte dos pais, uma vez que não queremos que eles repitam os erros que cometemos enquanto adolescentes.

Queremos transmitir a nossa experiência, as frustrações que tivemos de suportar nas nossas próprias vidas para alcançar algo.

No entanto, cometer erros de mau julgamento faz parte do nosso crescimento; a função dos pais é tentar impedir que as decisões afectem permanentemente a forma como a vida se desenrola.

Tentar forçar o adolescente a fazer a escolha correcta raramente funciona e quase sempre resulta em confrontação.

As proibições categóricas que funcionavam com crianças mais novas tendem a cair em saco roto com os adolescentes.

Digamos, por exemplo, que o seu filho quer ir a uma festa na casa de um amigo onde os pais estão fora durante o fim-de-semana.

Declarações morais vagas, como “ainda arranjas problemas” ou “algo mau pode acontecer”, não são aceitáveis para o adolescente.

É necessário que os pais pensem através dos seus próprios sentimentos de mal-estar antes de responderem.

O que é que realmente receia que ocorra na casa da outra pessoa? Vai haver bebidas ou drogas? Serão estes receios apenas um reflexo da sua própria adolescência?

Quando você percebe o que realmente o incomoda e em que medida isso diz respeito à sua própria adolescência, então a honestidade é aconselhada.

Diga claramente quais são as suas preocupações morais e por que razão não dará autorização ao seu filho para fazer algo, mas esteja ciente de que isso não significa que haverá uma obediência inquestionável.

 

A função dos pais não é impedir que os filhos adolescentes comentam erros, mas impedir que os erros os afectem de forma permanente.

 

Muito provavelmente haverá protestos tais como “Bem, eu não sou você” ou “Você simplesmente não entende!”

No entanto, se você deu explicações fundamentadas e lógicas que são consistentes com as suas crenças pessoais, então é muito mais provável que o adolescente assinta no cumprimento da sua decisão.

Mesmo que o adolescente argumente para “salvar a face”, aceitará a proibição a um nível mais profundo.

Se usar um tom de voz calmo, tiver considerado os desejos e argumentos do seu filho, e os princípios subjacentes à sua decisão forem consistentes com os valores morais da família, estas coisas são normalmente muito mais importantes do que as próprias palavras.

Lembre-se de que o que você deseja que o adolescente retire da discussão é o processo de tomada de decisão que foi seguido.

É isto que será recordado muito depois de a festa ou outra fonte de discussão ter sido esquecida.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

A partir de: “Rebellion and Defiance in Adolescents” – James A. Powell

Imagem de Michael-Pouteyo

Borderline - Entre a Dependência e a simbiose. Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Borderline – Entre a Dependência e a Simbiose

A síndrome Borderline, em qualquer idade que se apresente – infância, adolescência ou adultícia -, traduz um conflito intrapsíquico não resolvido.

Esse conflito está relacionado com a separação, isto é, a dolorosa fixação do paciente num estado de certa dependência/simbiose da figura materna.

Com efeito, observou-se que as perturbações na fase do desenvolvimento afectivo-relacional – na subfase de reaproximação do processo de separação-individuação – são das mais influentes na génese da perturbação borderline.

A simbiose está em franco declínio, quase extinção, sendo assim um período sensível (crítico) à desafinação, delonga ou precipitação, omissão ou paradoxalidade das respostas de amparo, auxilio, atenção e reabastecimento narcísico.

Uma resposta desadequada ou estimulação inoportuna repetidas – mesmo que de pouca monta – instalam a falta de confiança nos outros e no próprio, e a instabilidade narcísea.

A relação patogénea (micro traumatismos acumulados), que destrói insensivelmente (água mole em pedra dura tanto bate até que fura”), é a causa mais frequente e em regra a mais grave que os grandes traumatismos isolados – porque menos reconhecível e por isso menos combatida ou evitada.

Os pais gratificam a simbiose/dependência e atacam os desejos, impulsos e comportamentos autónomos da criança.

Simbiose ou dependência, dissemos. Porquanto, algumas vezes é de verdadeira simbiose que se trata.

O outro elemento da díade (mãe/pai), fortemente unida, é também um simbionte em ligação simbiótica e simbiotizante com o filho.

Noutros casos, é uma dependência parasitária ou simplesmente passiva de uma pessoa que reduz a ansiedade.

De facto, a frequência com que encontramos, nestes doentes, uma mãe (pai ou ambos) com características simbiônticas – desejando, e vivendo predominantemente em simbiose – é enorme.

Isto leva-nos a considerar a importância etiológica na personalidade borderline do objecto maternante.

Assim, a simbiose da qual o paciente tem dificuldade em sair – ou na qual reentra por regressão – não é só produto de um período simbiótico infantil insuficiente ou insuficientemente vivido – por carência sistemática, abandono drásticos ou frequentes -, mas também da traça simbiôntica dos pais, que impede o desprendimento evolutivo e favorece o laço simbiótico.

São mães/pais que gratificam a simbiose/dependência e atacam os desejos, impulsos e comportamentos autónomos e autonomizantes da criança.

Toda a sua conduta de exploração e autonomia é sistematicamente reprovada e reprimida, ao mesmo tempo que é estimulado, valorizado e premiado o comportamento de aproximação e apego.

Logo, o percurso evolutivo é travado e distorcido por um predomínio do sistema de apego sobre o sistema de exploração.

É, vemo-lo, uma verdadeira colonização dos filhos; uma fábrica de gente casta, obediente, humilde e pobre. Mas que se revolta.

Submisso e rebelde, eis a dupla face do borderline.

À excessiva (em extensão e/ou intensidade) simbiose com a mãe, soma-se a carência paterna – por ausência ou indisponibilidade afectiva. O que, como é óbvio, não facilita a separação; pelo contrário, reforça a simbiose.

Bibliografia: “O Desespero” – A. Coimbra de Matos

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