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amar-se a si mesmo

Até Onde Pode Amar-se a Si Mesmo?

“A melhor defesa ou reparação da depressão é o amar-se a si mesmo.”

Quando o indivíduo não se sente amado, deprime-se. E a melhor defesa ou reparação dessa depressão é o amar-se a si mesmo, o investir-se narcisicamente.

Simplesmente, este processo tem limites – se o sujeito continua a não ser amado, esgota-se a energia amorosa para amar-se a si próprio (pois o amor nasce e desenvolve-se apenas na relação amorosa).

Mas do amor também se constituem reservas. E a maior reserva amorosa forma-se na infância, pelo amor que os pais dedicam aos filhos.

Se esta reserva não foi constituída ou é pequena, o indivíduo tem necessidade constante de ser amado e deprime-se em face da mais leve perda de amor ou da sua mais curta ausência. E só um forte amor posterior o poderá curar dessa carência.

O trágico é que o indivíduo que não foi amado não aprendeu a amar. E enquanto não souber amar dificilmente poderá vir a ser amado. A sua sede de amor é muito grande, mas o seu ódio à relação amorosa ou a sua descrença no amor levam-no a estragá-la ou a nunca a conquistar – pela relação ambivalente e depressivante à qual adere.

Só um verdadeiro amor, uma paixão, seja ela na vida ou na relação terapêutica, pode fazer uma renovação do sentir conduzindo a um renascimento do ser. É no estado nascente do enamoramento, no movimento amoroso, que se curam as feridas de amor.

“Ninguém se cura enquanto não adquirir um sentimento de ser capaz de merecer e atrair o amor de outrem.”

O poder ser objecto de amor é fundamental: ninguém se cura enquanto não adquirir um sólido sentimento de ser uma pessoa capaz de merecer e atrair o amor de outrem; vale dizer, enquanto não reparar a sua ferida narcísica, desfizer o sentimento de inferioridade ou menor valor.

A raiz dos sentimentos de inferioridade está no passado, na infância; nos insucessos infantis e adolescenciais; e na prisão às regras e aspirações da família de origem, no juízo crítico dos pais e educadores que sempre apontaram exemplos de perfeição, estabelecendo comparações deprimentes para o sujeito ou lamentado as suas imperfeições.

Designadamente, esta última atitude é altamente danificante da auto-imagem: o sujeito interioriza essa pena, essa mágoa, lamentando-se eternamente daquilo que é (“se eu fosse mais bonita… Se eu fosse mais forte… Se tivesse ouvido para a música… Se tivesse jeito para dançar”… etc.)

“Só muda quem se apaixona, quem se entusiasma, quem ama outra coisa, outro ser.”

Normalmente, o depressivo é aquele que vive no passado, prisioneiro do passado, do que foi. E ninguém pode viver no passado! Todos temos de ir para a frente.

Viver no passado é viver no purgatório, a expiar culpas; e na sombra, admirando os resplandecentes. Mas viver, propriamente viver, é saltar para o “paraíso”, dando-se a si mesmo o direito ao acesso ao prazer e deixando-se banhar pelo sol que é de todos! Podemos queimar-nos no inferno da decepção e do desaire, mas também atingir o éden da paixão. E só vivida apaixonadamente a vida tem sentido.

Só na paixão amorosa encontramos a verdade do outro e a nossa própria verdade. É a porta de entrada no mundo da autenticidade.

O depressivo deixou de se apaixonar (é isso a depressão), tem medo de se apaixonar, não quer (por raiva contra o outro e o mundo, e que se vira contra si próprio) apaixonar-se.

Toda a terapia que mereça esse nome passa por um movimento de rotura com o passado e com o presente, um movimento de renovação, um renascimento, um nascimento para uma nova vida, em moldes diferentes, com outros horizontes.

Esta rotura processa-se através de um movimento emocional, afectivo, por uma paixão por outra coisa, por outra pessoa. Só muda quem se apaixona, quem se entusiasma, quem ama outra coisa, outro ser – para se tornar ele próprio “outra pessoa”.

Bibliografia: Matos, A. C. (2001). A Depressão. Lisboa: Climepsi Editores

A crítica Pedro Martins Psicoterapeuta

A Crítica – entre o desagradável e o insuportável

A crítica nunca é fácil.

Lidar com o facto de os outros nos considerarem ridículos, feios, desagradáveis ou incompetentes é um dos aspectos mais desafiadores de qualquer vida.

No entanto, o impacto da crítica é extremamente variável – e depende, em última análise, de um detalhe um pouco inesperado: o tipo de infância que tivemos.

O facto de a crítica ser experimentada como meramente desagradável ou completamente catastrófica depende do que aconteceu connosco há muitos anos com os nossos cuidadores.

O que se entende por uma “infância má” é aqui, simplesmente, uma questão de amor.

Uma criança chega ao mundo com uma capacidade muito limitada para lidar consigo própria.

É a tolerância, o entusiasmo e o perdão do outro que gradualmente nos acomoda à existência.

A forma dos nossos cuidadores nos olharem torna-se na forma como nos vemos.

É por sermos amados pelos outros que adquirimos o dom de olhar com simpatia para nós próprios.

Simplesmente, não está na nossa incumbência acreditar em nós mesmos por conta própria.

Estamos totalmente dependentes de um sentimento interior de termos sido valorizados de forma indirecta por outra pessoa, como uma protecção contra a subsequente negligência do mundo.

Nós não precisamos ser amados por muitos.

Nós não precisamos ser amados por muitos, um bastará, e doze anos podem ser suficientes (idealmente dezasseis).

No entanto, sem esse amor, a contínua admiração de milhões nunca será capaz de nos convencer de que somos bons.

Mas com esse amor, o desdém de milhões é indiferente.

As infâncias más têm a triste tendência:

— De nos levar a procurar situações em que existe uma possibilidade teórica de recebermos uma aprovação excepcional (o que também significa, um alto risco de encontrar uma enorme desaprovação) e por isso fazemos esforços desmesurados na tentativa de sermos famosos e visivelmente bem-sucedidos.

Mas é claro que o mundo em geral nunca dará emocionalmente a confirmação incondicional desejada.

Existirão sempre os discordantes, críticos e pessoas igualmente afectadas pelo seu próprio passado para poderem ser gentis com os outros.

E é para essas vozes que aqueles que tiveram infâncias complicadas se vão direccionar, por mais entusiástica que a multidão possa ser.

Ao longo do caminho podemos constatar que o principal indicador de ser um bom pai é quando um filho, simplesmente, não tem interesse em ser admirado por um grande número de desconhecidos.

Nós não ouvimos todos a mesma coisa quando somos criticados.

Alguns de nós, os sortudos, ouvimos apenas a mensagem superficial do aqui e agora: que nosso trabalho ficou abaixo das expectativas, que devemos esforçar-nos mais nas nossas funções, que o nosso livro, filme ou música não é brilhante. Isso é suportável.

Mas os mais feridos entre nós ouvem muito mais.

A crítica leva-os directamente para a ferida primitiva.

Um ataque no presente entrelaça-se com os ataques do passado e cresce desmesuradamente e de forma incontrolável na sua intensidade. O chefe ou colega pouco amável torna-se o pai que nos decepcionou.

Tudo é questionado. Não só achamos que fizemos um mau trabalho, como somos uma miséria, pois foi assim que nos sentimos naquela época, na nossa mente infantil, frágil e indefesa.

Saber mais sobre a nossa infância proporciona-nos uma via fundamental de defesa contra os efeitos da crítica.

Isso significa que podemos estar atentos, quando nos sentimos atacados e despoletamos a desnecessária auto-depreciação.

Podemos aprender a separar o veredicto de hoje do veredicto emocional que trazemos connosco e que constantemente procuramos confirmar através de eventos do dia-a-dia.

Podemos aprender que, por mais tristes que sejam os ataques que enfrentamos, eles não são nada comparados com a verdadeira tragédia e causa efectiva da nossa tristeza: que as coisas não correram bem naquela época.

Saber mais sobre a nossa infância proporciona-nos uma via fundamental de defesa contra os efeitos da crítica.

E assim podemos dirigir a nossa atenção para onde é realmente precisa; longe das críticas actuais e apontada para aquele pai da nossa infância, pouco convencido do nosso valor.

Podemos perdoar-nos por sermos, neste caso, inocentes, fatalmente sensíveis e, em essência, mentalmente afectados.

Não podemos parar os ataques do mundo, mas podemos – através da exploração das nossas histórias – mudar o que significam para nós.

Também podemos e devemos dar uma segunda oportunidade: voltar atrás e corrigir o veredicto original do mundo.

Podemos tomar medidas para nos expormos ao olhar de amigos ou, idealmente, de um bom terapeuta que possa ser um espelho mais benigno e ensinar-nos o que deveriam ter-nos ensinado desde o início:

Como todos os humanos, quaisquer que sejam as nossas falhas, merecemos estar aqui. Este é o nosso lugar.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de “Criticism when you’ve had a bad childhood” – Alain de Botton

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