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A retoma do desenvolvimento suspenso

A Retoma do Desenvolvimento Suspenso

“Deve-se incluir numa teoria a respeito do desenvolvimento do ser humano a ideia de que é normal e saudável, para o indivíduo, ser capaz de defender o Eu contra fracassos ambientais específicos através do congelamento da situação de fracasso. Junto com isso surge a suposição inconsciente (que se pode tornar uma esperança consciente) de que mais tarde haverá oportunidade para uma experiência renovada, em que a situação de fracasso poderá ser descongelada e reexperimentada, com o indivíduo num ambiente que proporcione uma adaptação adequada.” – Winnicott 1958:281

É através do desenvolvimento de uma nova relação  – desenvolutiva e sanígena – com o terapeuta (relação terapêutica) que o paciente caminha para a cura.

 

Uma das mais importantes finalidades da psicoterapia é que o paciente retome o desenvolvimento suspenso e se apodere da sua pessoa profunda.

 

A nova relação retoma o desenvolvimento outrora suspenso e eventualmente desviado. A cura, é, portanto, um retomar do processo desenvolvimental.

A nova relação é também uma relação de transferência, mas de transferência do desejo – do desejo de um relacionamento empático, responsivo, em que o paciente se sinta reconhecido, compreendido e aceite na sua diferença e originalidade.

Uma das mais importantes finalidades da psicoterapia é que o paciente se apodere da sua pessoa profunda e desenvolva a sua identidade. A psicoterapia psicanalítica pretende que o paciente alcance modificações profundas e estáveis no seu modo de se relacionar com os outros e consigo mesmo.

Depois de uma psicoterapia com sucesso as relações interpessoais e intra-subjectivas do paciente serão completamente diferentes. Uma personalidade substancialmente recalcada dará lugar a uma pessoa mais inteira. As relações fortemente defensivas evoluirão para relações mais abertas e mais límpidas.

A experiência tendencialmente cognitiva e desafectivada enriquece-se por uma experiência que ser quer vivida e sentida.

Tudo isto se consegue por um processo de facilitação do contacto do sujeito consigo próprio e com o outro, que é, ao fim e ao cabo, a finalidade da relação terapêutica, interpretando as resistências que impedem a condutabilidade espontânea e natural do sistema de inter-relação humana.

psicoterapia

Como Funciona a Psicoterapia e Porquê

O contacto contínuo entre nós e o terapeuta, as sessões semanais que podem continuar durante meses ou anos, contribuem para a criação de algo que soa, num contexto profissional, particularmente estranho: uma relação.

Estamos quase certos que procuramos um terapeuta em primeiro lugar porque, de alguma forma, tornou-se difícil ter relações e não percebermos muito bem porquê:

– Talvez tentemos agradar às pessoas e garantir a sua admiração, mas acabamos por nos sentir pouco autênticos e interiormente entorpecidos e recuamos.

– Talvez nos apaixonemos muito intensamente, mas então, acabamos sempre por descobrir um grande defeito no parceiro que nos faz acabar com a história e reiniciar o ciclo.

A relação com o psicoterapeuta pode ter muito pouco em comum com o tipo de ligações que temos na vida quotidiana.

Não vamos fazer compras juntos nem ver televisão na cama. Mas, inevitavelmente levamos para os encontros com o terapeuta as nossas próprias tendências, que emergem nas nossas relações com outras pessoas das nossas vidas.

Na terapia também podemos ser sedutores, e de seguida frios; ou cheios de idealizações que são seguidas de impulsos para fugirmos.

Excepto que agora, na presença do terapeuta, as nossas tendências têm a possibilidade de serem testemunhadas, discutidas, exploradas com simpatia e – nas suas manifestações mais prejudiciais – superadas.

A relação com o terapeuta é um protótipo do comportamento que temos com as pessoas de forma geral e, assim, permite-nos, com base numa maior autoconsciência, modificar e melhorar a forma como nos relacionamos com os outros.

Na psicoterapia os nossos hábitos e tendências são reconhecidas e podem ser faladas – não como reprovações, mas como informações importantes sobre o nosso carácter do qual merecemos tomar consciência.

O terapeuta (com bondade) assinala que estamos a reagir como se tivéssemos sido atacados, quando ele fez apenas uma pergunta, e pode chamar a nossa atenção para a prontidão com que parecemos querer dizer-lhe coisas que impressionem (ainda que gostem de nós de qualquer maneira), ou como parecemos apressar-nos a concordar ou discordar dele quando está apenas a tentar explorar uma ideia que ele próprio tem dúvidas que esteja certa; sinaliza a nossa propensão a determinar as atitudes ou perspectivas que realmente não tem; pode dar nota de como parecemos estar acometidos pela ideia de que ele está desapontado connosco, ou nos considera chatos.

Com grande discrição, o psicoterapeuta vai salientar a nossa tendência para colocar as pessoas do presente em papéis que derivam do passado e vai procurar connosco as origens das emoções, que provavelmente sentimos em relação às pessoas importantes que cuidaram de nós – e que agora se tornaram naquilo que esperamos de todos.

A relação terapêutica actua como um microcosmos das nossas relações em geral e, portanto, pode ser usada como uma via particular para aprender sobre as nossas tendências mais imperceptíveis.

Ao revivermos os problemas relacionais com um outro empático que não responde como as pessoas comuns, que não gritará connosco, que não se vai queixar, ficar calado ou ir embora, pode ajudar-nos a entender o que andamos a fazer e assim, desenvolvermos novos padrões relacionais.

A relação com o terapeuta torna-se num modelo para a forma como podemos estabelecer relações com os outros no futuro, livres das manobras e dos pressupostos de fundo que carregamos dentro de nós desde a infância, e que nos podem magoar e limitar no presente.

A relação terapêutica pode ser para nós a primeira relação verdadeiramente saudável que temos, onde aprendemos a impedir que se imponham os nossos pressupostos sobre os outros e possamos confiar neles o suficiente para os deixar ver a realidade maior e mais complexa de quem somos, sem vergonha ou constrangimento.

Torna-se um modelo – adquirido numa situação altamente incomum – que começamos a aplicar no mais corriqueiro, até acabar por fazer parte da nossa forma de ser e de estar com os outros.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de:
“How therapy works and why” – Alain de Botton

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