A necessidade de estar sozinho
Uma vez que a nossa cultura atribui um valor muito alto à sociabilidade, pode ser particularmente estranho ter de explicar o quanto
– em certos momentos – precisamos estar sozinhos.
Nós, os sufocados, sem tempo para nós mesmos, damos uma enorme importância às outras pessoas.
Escutamos atentamente as suas histórias, entregamo-nos e respondemos com emoção e empatia.
Ao longo do tempo fomos sendo afastados dos nossos próprios processos de pensamento-
As inúmeras exigências externas impedem-nos de escutar os nossos receios.
A pressão de uma alegria superficial é suficiente para negar a legitimidade dos nossos estados internos latentes – e, uma camada de senso comum achata as nossas peculiaridades e desejos.
Os momentos em que estamos sozinhos podem ser uma condição prévia para se ser um amigo melhor e um companheiro verdadeiramente atento.
Precisamos estar sozinhos porque a vida junto das outras pessoas desenrola-se muito rapidamente.
O ritmo é implacável: as piadas, os insights, as emoções.
Às vezes, para cinco minutos de vida social necessitamos de uma hora para reflectir.
É uma peculiaridade das nossas mentes que nem todas as emoções que nos impactam são, de uma vez, totalmente reconhecidas, compreendidas ou mesmo – por assim dizer – verdadeiramente sentidas.
Depois de passarmos tempo com os outros, há uma miríade de sensações que permanecem numa forma “não processada” dentro de nós.
É possível que alguém tenha tocado num assunto que nos deixou ansiosos, provocando pequenos impulsos para fazermos mudanças nas nossas vidas.
Talvez uma brincadeira tenha mexido em sentimentos desconhecidos que vale a pena descodificar e compreender.
Talvez alguém tenha disparado subtilmente um dardo agressivo contra nós, e não tivemos a possibilidade de reconhecer o ferimento.
Precisamos de algum tempo de tranquilidade para consolar-nos, formulando uma explicação sobre a origem do que sentimos.
Somos mais vulneráveis e temos uma pele mais macia do que somos encorajados a imaginar.
O recolhimento em nós mesmos pode ser interpretado como falta de disponibilidade para o outro, mas os nossos momentos solitários são, na realidade, uma homenagem à riqueza da existência social.
Se não tivéssemos tempo para estarmos sozinhos, não teríamos opiniões originais, nem perspectivas vivas e autênticas.
Somos atraídos pela solidão, não porque desprezamos os outros, mas porque respondemos adequadamente ao que a companhia dos outros implica.
Largos momentos sozinhos podem, na realidade, ser uma condição prévia para se ser um amigo melhor e um companheiro verdadeiramente atento.
Traduzido/adaptado por Pedro Martins
a partir de “The need to be alone” – Alain the Botton
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