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Depressão – As Causas e como Resolvê-las

O que realmente causa depressão e ansiedade – e como podemos realmente resolvê-las?

Actualmente, no mundo ocidental, se você andar deprimido ou ansioso e for ao seu médico, porque, simplesmente, não consegue aguentar mais, provavelmente ele vai falar-lhe de uma certa “teoria”.

Aconteceu comigo quando eu era adolescente, na década de 90.

Você sente-se assim, disse o meu médico, porque o seu cérebro não está a funcionar correctamente.

Não está a produzir os químicos necessários. Você precisa tomar medicação para tratar o cérebro.

Eu tentei essa estratégia com todo o meu coração durante mais de uma dezena de anos. Ansiava por um alívio.

A medicação tinha um ligeiro efeito sempre que aumentava a dose, mas logo depois a dor voltava.

Acabei por rapidamente chegar à dose máxima e assim andei muitos anos.

Pensei que estava alguma coisa errada comigo porque estava a tomar antidepressivos e apesar disso, sentia uma dor profunda.

Por fim, a necessidade de respostas era tão grande que estive três anos a pesquisar o que realmente causa a depressão e a ansiedade, e como efectivamente as tratar.

Fiquei assustado com muitas coisas que aprendi.

A primeira foi que a minha reacção à medicação não era bizarra – era bastante normal.

Geralmente a depressão é medida pelos investigadores através da escala de Hamilton. Esta vai de 0 (extremamente feliz) a 59 (pensamentos suicidas).

De acordo com a pesquisa do professor Irving Kirsch, da Universidade de Harvard, melhorar os padrões de sono representa um aumento na escala de Hamilton de cerca de 6 pontos.

Os antidepressivos oferecem, em média, um aumento de 1.8 pontos. É um efeito real, mas modesto.

Quando as pessoas estão a comportar-se de maneiras aparentemente autodestrutivas, “está na hora de parar de perguntar o que há de errado com elas e começar a perguntar o que aconteceu com elas”.

O facto de ser uma média significa que algumas pessoas podem ter um aumento maior, mas para um grande número de pessoas como eu, não é suficiente para sair da depressão.

Para além disso, fiquei aturdido ao descobrir que reconhecidos investigadores pensam que a teoria que considera que a depressão é causada por um desequilíbrio químico está errada.

Fiquei ainda mais surpreso ao descobrir que esta não é uma posição marginal:

– A Organização Mundial da Saúde tem alertado durante anos para a necessidade de começar a lidar com as causas mais profundas da depressão.

De entre as várias causas apontadas para a depressão, uma foi pessoalmente, mais difícil de investigar, a ponto de quase não olhar para ela durante os três anos de pesquisa.

Finalmente, em San Diego – Califórnia pude compreender mais sobre essa causa quando conheci um notável investigador; o Dr. Vincent Felitti.

No entanto, tenho que dizer que desde o princípio foi muito doloroso investigar essa causa.

Isso obrigou-me a encarar algo de que eu fugi a maior parte da minha vida.

Uma das razões pelas quais me agarrei à “teoria” de que a minha depressão era apenas o resultado de algo errado no meu cérebro, percebo agora, era porque não queria ter que pensar nisso.

A história da descoberta do Dr. Felitti remonta a meados da década de 80, e aconteceu quase por acidente.

A princípio, parece que não é uma história sobre a depressão.

Mas vale a pena seguir a sua caminhada porque pode ensinar-nos muito.

Para tratar a depressão, você precisa lidar com as causas subjacentes.

Quando os pacientes foram pela primeira vez no gabinete do Dr. Felitti, alguns tiveram dificuldade em entrar.

Estavam nos estágios mais graves de obesidade, e foram designados para clínica, como sendo a sua última oportunidade.

Felitti ficou encarregue de encontrar uma forma de resolver a questão dos elevadíssimos custos da obesidade na empresa.

Comece do zero, disseram eles. Experimente qualquer coisa.

Um dia, Felitti teve uma ideia tão doida quanto simples:

“E se estas pessoas com obesidade, simplesmente, parassem de comer e vivessem à base das gorduras que acumularam nos seus corpos – com suplementos de nutrição monitorizados – até que alcançassem um peso normal? O que aconteceria?”

Cautelosamente, com muita supervisão médica tentaram e, surpreendentemente funcionou.

Os pacientes estavam a perder peso e a voltar a ter um corpo sadio.

Entretanto, aconteceu algo estranho.

No programa, algumas pessoas perderam quantidades incríveis de peso, e a equipa médica, e todos os seus amigos, esperavam que essas pessoas reagissem com alegria, mas muitas vezes entravam numa depressão brutal, pânico e/ou raiva.

Alguns tentaram suicidar-se. Sem aquele volume sentiram-se incrivelmente vulneráveis.

Alguns abandonaram o programa, empanturraram-se de fast-food e voltaram rapidamente ao seu peso inicial.

Felitti ficou desconcertado, até falar com uma mulher de 28 anos.

Em 51 semanas, Felitti ajudou-a a passar dos 185 kg para os 60 kg.

Então, de repente, sem nenhum motivo aparente, ela ganhou 17 kg no espaço de poucas semanas.

Em pouco tempo, ela ultrapassou os 185 kg. Então, Felitti perguntou-lhe gentilmente o que mudou quando ela começou a perder peso.

Parecia um mistério para ambos. Conversaram durante muito tempo. A certa altura ocorre-lhe uma coisa.

Perante acontecimentos terrivelmente dolorosos, a dor faz sentido. É uma resposta ao que está a acontecer consigo.

Quando ela era obesa, os homens nunca se interessavam por ela, mas quando ela chegou a um peso saudável, pela primeira vez em muito tempo, um homem atirou-se a ela.

Ela fugiu e imediatamente começou a comer compulsivamente sem conseguir parar.

Foi quando Felitti lhe perguntou: Quando é que você começou a aumentar de peso?

Ela pensou sobre a questão e respondeu: Quando tinha 11 anos.

Então ele perguntou: Aconteceu mais alguma coisa na sua vida quando você tinha 11 anos?

Bem, ela respondeu – foi quando o meu avô começou a violar-me.

Das 183 pessoas do programa, Felitti descobriu que 55% tinham sido abusadas sexualmente.

Uma mulher referiu que tinha aumentado de peso depois de ter sido violada porque “o excesso de peso faz com que passe despercebida, e é isso que eu quero”.

Descobriu que muitas dessas mulheres se tornaram obesas por uma razão inconsciente: proteger-se da atenção dos homens, que, acreditavam, iriam maltratá-las.

Felitti de repente percebeu:

“O que tínhamos pensado como sendo o problema – a obesidade, era de facto, com muita frequência, a solução para problemas sobre os quais nada sabíamos”.

Esta descoberta levou Felitti a lançar um enorme programa de pesquisa, financiado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

Felitti queria saber como é que os vários tipos de trauma infantil afectam os adultos.

Aplicou um questionário simples a 17 mil pacientes comuns em San Diego, que vinham apenas para cuidados de saúde gerais (desde uma dor de cabeça até uma perna partida).

Ele perguntou aos pacientes se alguma entre 10 coisas más lhes tinha acontecido em criança, como por exemplo, ser negligenciada ou abusada emocionalmente.

De seguida perguntou aos pacientes se apresentavam algum entre 10 problemas psicológicos, como obesidade, depressão ou dependência de drogas.

Quanto mais investiguei a depressão e a ansiedade, mais percebi que longe de ser causada por um espontâneo mau funcionamento do cérebro, a depressão e a ansiedade, são, principalmente, causadas por acontecimentos nas nossas vidas.

Ele queria analisar as correspondências.

Uma vez introduzidos, os números pareciam inacreditáveis.

A quantidade de pessoas com trauma infantil – factor de risco para a depressão no adulto – era assustador.

As pessoas que referiram sete categorias de eventos traumáticos em criança tinham mais 3100% de probabilidades de tentar o suicídio em adulto e mais de 4000% de probabilidades de consumir drogas duras.

Depois de uma das minhas longas conversas com o Dr. Felitti sobre estas questões, fui até à praia em San Diego. Todo eu tremia.

Enquanto caminhava fui tomado por uma quantidade enorme de sentimentos.

Ele estava a forçar-me a pensar sobre uma dimensão da minha depressão que eu não queria enfrentar.

Quando eu era criança, a minha mãe estava doente e meu pai estava noutro país e, nesse caos, fui sujeito a actos extremos de violência por parte de um adulto.

Entre outros actos, fui estrangulado com um cabo eléctrico.

Eu tentei selar essas memórias, para as afastar da minha mente.

Eu recusei pensar que elas estavam a afectar a minha vida adulta.

Porque é que tantas pessoas que experimentam maus tratos na infância sentem o mesmo?

Porque é que isso leva muitas delas a ter comportamentos autodestrutivos, como a obesidade, consumo de drogas duras ou o suicídio?

Passei muito tempo a pensar nisso. Eu tenho uma teoria.

Embora, quero salientar, vai além da evidência científica descoberta por Felitti, e não posso afirmar com certeza, que é verdadeira.

Quando somos criança, temos muito pouco poder para mudar o que nos rodeia.

Só o facto de se ser capaz de falar sobre o trauma levou a uma enorme queda na procura de cuidados médicos.

Você não se pode afastar, ou forçar alguém a parar de o maltratar. Então, você tem duas opções.

Pode admitir a si mesmo que é impotente – que, a qualquer momento pode ser maltratado, e, simplesmente, não há nada que possa fazer a esse respeito.

Ou você pode dizer a si mesmo que a culpa é sua.

Se fizer isso, você realmente ganha algum poder – pelo menos na sua própria mente.

Se é culpa sua, então há algo que você pode fazer para tornar as coisas diferentes.

Você não é uma bola numa máquina de flippers, é a pessoa que controla a máquina.

Desta forma, assim como a obesidade protegeu as mulheres dos homens que elas temiam que pudessem violá-las, culpar-se pelos seus traumas de infância protege-o de ver quão vulnerável você era e é.

Você pode tornar-se o poderoso. Se a culpa é sua – a um certo nível -, sente que controla.

Mas isso tem um custo. Se você é responsável por ser maltratado, então, de algum modo, deve pensar que mereceu.

Uma pessoa que acha que mereceu ser ferida em criança vai pensar que também o merece como adulto.

Isto não é maneira de viver.

Mas é a forma – a melhor possível na altura -, que permite sobreviver perante tamanhas adversidades.

Mas foi o que o Dr. Felitti descobriu a seguir que mais me ajudou.

Quando os pacientes que responderam ao questionário referiram que sofreram maus-tratos (trauma da infância), ele conseguiu que os seus médicos abordassem a questão:

“Vejo que você passou por uma má experiência em criança. Lamento que isso tenha acontecido consigo. Gostaria de falar sobre isso? ”

O acto de falar, de libertar-se da vergonha é – em si mesmo – a cura.

Felitti quis saber se ser capaz de falar sobre o trauma com uma figura de autoridade confiável, e reconhecer que não se é culpado, ajudaria a libertar as pessoas.

O que aconteceu foi surpreendente.

o facto de se ser capaz de falar sobre o trauma levou a uma enorme queda na procura de cuidados médicos (uma redução de 35% ao longo do ano seguinte).

Para as pessoas que foram encaminhadas para uma ajuda mais especializada, houve uma queda de mais de 50%.

Uma mulher idosa – que descreveu ser sido violada quando era criança – mais tarde escreveu uma carta dizendo:

“Obrigado por perguntar… Tinha medo de morrer sem que ninguém soubesse o que aconteceu”.

O acto de falar, de libertar-se da vergonha é – em si mesmo – a cura.

Então, junto das pessoas em quem confio, comecei a falar sobre o que me tinha acontecido quando era mais jovem.

Longe de me envergonharem e de pensarem que eu era perturbado, eles mostraram amor e ajudaram-me a ultrapassar o sofrimento passado e presente.

Enquanto ouvia as gravações das minhas longas conversas com Felitti, pensei que, se ele tivesse dito às pessoas o que meu médico me disse:

– que os seus cérebros não estavam a funcionar bem, e era por isso que eles estavam tão angustiados, e a única solução era a medicação –

talvez nunca tivessem sido capazes de entender as causas mais profundas dos seus problemas e nunca teriam conseguido libertar-se deles.

Uma das razões pelas quais me agarrei à “teoria” de que a minha depressão era apenas o resultado de algo errado no meu cérebro, percebo agora, era porque não queria ter que pensar nisso.

Quanto mais investiguei a depressão e a ansiedade, mais percebi que longe de ser causada por um espontâneo mau funcionamento do cérebro, a depressão e ansiedade, são, principalmente, causadas por acontecimentos nas nossas vidas.

Existem factores biológicos, como os genes, que podem tornar-nos significativamente mais sensíveis a essas causas, mas não são os factores principais.

E isso levou-me à evidência científica de que devemos tentar resolver a depressão e a ansiedade de uma maneira muito diferente (ao mesmo tempo os antidepressivos, devem, evidentemente, permanecer em cima da mesa).

Para fazer isso é necessário parar de olhar para a depressão e para a  ansiedade como uma patologia irracional, ou uma estranha falta de químicos no cérebro.

Perante acontecimentos terrivelmente dolorosos, a dor faz sentido. É uma resposta ao que está a acontecer consigo.

Para lidar com a depressão, você precisa lidar com suas causas subjacentes.

Um dia, um dos colegas do Dr. Felitti, o Dr. Robert Anda, disse-me uma coisa sobre a qual tenho pensado desde então.

Quando as pessoas estão a comportar-se de maneiras aparentemente autodestrutivas, “está na hora de parar de perguntar o que há de errado com elas e começar a perguntar o que aconteceu com elas”.

Tradução/adaptação – Pedro Martins

a partir de Johann Hari – HuffPost

Johann Hari – Lost Connections: Uncovering the Real Causes of Depression – and the Unexpected Solutions

Donald Winnicott

Winnicott era filho de Elizabeth Martha (Woods) Winnicott e do Sr. John Frederick Winnicott, um comerciante que se tornou cavaleiro em 1924 após servir duas vezes como prefeito de Plymouth.

A família era próspera e aparentemente feliz, mas atrás desse verniz, Winnicott se viu como oprimido por uma mãe com tendências depressivas como também por duas irmãs e uma babá. Foi a influência do seu pai, que era um livre-pensador e empreendedor que o encorajou em sua criatividade. Winnicott se descreveu como um adolescente perturbado, reagindo contra a própria auto-repressão que adquirindo sua capacidade de cuidar ao tentar suavizar os sombrios humores de sua mãe. Estas sementes de autoconsciência se tornaram a base do interesse dele trabalhando com pessoas jovens e problemáticas.

Decidindo se tornar um médico, ele começou a estudar medicina em Cambridge mas interrompeu seus estudos para servir como cirurgião aprendiz – residente em um navio (destroyer) britânico, o HMS Lúcifer, durante a Primeira Guerra Mundial. Ele completou sua formação em medicina em 1920 e em 1923, no mesmo ano do seu primeiro casamento com Alice Taylor, foi contratado como médico no Paddington Green Children’s Hospital em Londres. Foi também em 1923, que Winnicott iniciou sua análise pessoal com James Strachey (1887 – 1967), o tradutor das obras de Sigmund Freud para o inglês.

Em 1927 Winnicott foi aceito como iniciante na Sociedade Britânica de Psicanálise, qualificado como analista em 1934 e como analista de crianças em 1935. Ele ainda estava trabalhando no hospital infantil e posteriormente comentou que… ”naquele momento nenhum outro analista era também um pediatra, assim durante duas ou três décadas eu fui fenômeno isolado…” O tratamento de crianças mentalmente transtornadas e das suas mães lhe deu a experiência com a qual ele construiria a maioria das suas originais teorias. E o curto período de tempo que ele poderia dedicar-se a cada caso o conduziu ao desenvolvimento das suas “inter – consultas terapêuticas.” outra inovação da prática clínica que introduziu.

Durante os anos de guerra trabalhou como consultor psiquiátrico de crianças seriamente transtornadas que tinham sido evacuadas de Londres e outras cidades grandes, e separado de suas famílias. Ele continuou trabalhando ao Paddington Green Children’s Hospital nos anos 1960.

Passada a guerra, Winnicott tornou-se um médico contratado do Departamento Infantil do Instituto de Psicanálise, onde trabalhou durante 25 anos. Foi presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise por duas gestões, membro da UNESCO e do grupo de experts da OMS. Atuou como professor no Instituto de Educação e na London School of Economics, da Universidade de Londres. Dissertou e escreveu amplamente como atividade profissional independente.

Via Wikipedia

 

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