Procrastinação: dificuldade em gerir tempo ou emoções?
A investigação tem procurado esclarecer se a procrastinação é uma dificuldade em gerir o tempo ou em lidar com as emoções.
Tim Pychyl, de Carleton University, no Canadá, e a sua colaboradora Fuschia Sirois, da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, propuseram que a procrastinação é uma dificuldade em lidar com as emoções, e não o tempo.
Adiamos uma tarefa porque ela faz-nos sentir mal – talvez seja chata, complicada ou estamos com medo de não a conseguirmos fazer bem, ou seja, do fracasso – e para nos sentirmos melhor (nesse momento) começamos a fazer outra coisa.
Uma das primeiras investigações a relacionar as emoções com a procrastinação foi publicada em 2001 por pesquisadores da Case Western Reserve University, no Ohio.
Ao pedirem às pessoas que lessem histórias tristes (tarefa) induziram-lhes sentimentos negativos.
Posteriormente, verificaram que isso aumentava a sua tendência para procrastinar,
Isso levou os participantes a distraíram-se com quebra-cabeças ou a jogar videojogos em vez de se prepararem para o teste de inteligência que estava incluído na investigação e do qual foram previamente informados.
Estudos subsequentes da mesma equipa mostraram que os sentimentos negativos só aumentam a procrastinação se estiverem disponíveis actividades agradáveis para se distraírem, e apenas se as pessoas acreditarem que podem mudar o seu humor.
Em investigações onde os sujeitos não contemplavam possibilidade de alterar o seu humor, não se verificou um adiamento da tarefa.
A tendência a procrastinar está associada à dificuldade em lidar com as emoções
A teoria da regulação emocional da procrastinação faz sentido de forma intuitiva.
A perspectiva da procrastinação como regulador emocional ajuda a explicar alguns novos e estranhos fenómenos, como a moda de assistir a vídeos de gatinhos, que tiveram milhões de visualizações no YouTube.
Uma pesquisa envolvendo milhares de pessoas, efectuada por Jessica Myrick, da Universidade de Indiana, confirmou a procrastinação como um motivo comum para ver os vídeos de gatos e que vê-los levou a uma melhoria do humor.
A pesquisa de Myrick também destacou outro aspecto emocional associado à procrastinação – a culpa.
Muitos dos inquiridos sentiam-se culpados depois de verem os vídeos dos gatos.
Isso mostra como a procrastinação é uma estratégia de regulação emocional ineficaz.
Embora possa trazer alívio a curto prazo, ela apenas adia os problemas para mais tarde.
Em certos casos, ao retardar o trabalho as pessoas começam a sentir mais stress, culpa e frustração.
Talvez não cause admiração que a pesquisa de Fuschia Sirois tenha mostrado que a procrastinação sistemática está associada a uma série de consequências na saúde física e mental, incluindo ansiedade, depressão, infecções e doenças cardiovasculares.
Sirois acredita que a procrastinação tem estas consequências adversas através de duas vias:
- a) – É stressante continuar a adiar tarefas importantes e não cumprir os objectivos
- b) – A procrastinação geralmente retarda comportamentos saudáveis, tais como fazer exercício físico ou consultar um médico.
Ao longo do tempo, o stress elevado e a ausência de comportamentos saudáveis teem um efeito negativo na saúde.
Isto significa que superar a procrastinação pode ter um impacto positivo na vida das pessoas.
A pesquisa de Sirois sugere que “diminuir a tendência de procrastinar sistematicamente em 1 ponto [numa escala de 5 pontos de procrastinação] significaria (potencialmente) que o seu risco de ter problemas de saúde cardíaca se reduziria em 63%”.
A procrastinação é uma estratégia de regulação emocional ineficaz
Outro dado importante das pesquisas indica que aqueles que procrastinam mais tendem a ter uma inflexibilidade psicológica:
– definida como o domínio rígido de certas reacções psicológicas sobre os valores pessoais na orientação das acções.
O estudo de Nikolett Eisenbeck e seus colegas, publicado no Journal of Contextual Behavioral Science, indica que os níveis mais altos de procrastinação estavam relacionados com um elevado sofrimento psicológico.
Tanto a procrastinação como a angústia foram associadas à inflexibilidade psicológica.
Além disso, a inflexibilidade psicológica mediou a relação entre o sofrimento psicológico e a procrastinação.
Este papel mediador foi observado nos três estados emocionais negativos: depressão, ansiedade e stress.
Estes resultados indicam a existência de uma ligação entre que os estados emocionais negativos e a procrastinação.
Outras pesquisas, mas também a experiência vivida, mostram muito claramente que, uma vez começada uma tarefa, normalmente somos capazes de continuar. Começar não é tudo, mas pode ser uma grande ajuda.
Aborde os verdadeiros motivos pelos quais procrastina e é provável que comece a alcançar os seus objectivos de forma mais rápida e menos angustiante.
Comentários recentes