O Medo de ser Mau na Cama
Em momentos de baixa auto-estima, pode ser difícil evitar o medo de que se possa – e isso pode explicar certos altos e baixos nos relacionamentos – ser “mau na cama”.
Três ansiedades tendem a predominar:
– Que nossos corpos não são suficientemente atraentes
– Não praticamos ou não conhecemos certas posições
– Que nos cansamos com demasiada facilidade
Estes receios reflectem a visão subjacente de que o sexo é predominantemente uma actividade física – e que, portanto, o “bom sexo” depende de ter uma grande resistência e flexibilidade corporal.
Desta forma arriscamos a não entender o que está no cerne do erotismo.
Embora tradicionalmente o sexo faça uso do nosso corpo, o prazer sexual pode estar mais relacionado com certas “posições mentais”.
Como a tecnologia nos mostra, é bem possível que duas pessoas provoquem um erotismo extraordinário enquanto os seus corpos estão perfeitamente encaixados ou sem tocarem um no outro.
Isto porque o erotismo é – na verdade – sobre algo completamente diferente: ideias, fantasias.
Ser um bom amante é, antes de tudo, uma competência da mente.
O sexo torna-se tanto mais agradável quanto mais funciona como uma libertação de muitas das ideias pré-concebidas do que é normal.
Mau na cama? O prazer sexual depende mais de certas “posições mentais” do que corporais.
O bom sexo permite-nos admitir e compartilhar uma enorme quantidade de pensamentos e fantasias que normalmente mantemos escondidas.
No bom sexo, ser-nos-á permitido – por exemplo – mostrar:
– Que estamos mais interessados em controlar e dominar alguém do que normalmente acontece na nossa vida não sexual
– Ou, pelo contrário, que estamos interessados em submeter-nos e sermos dominados.
– Podemos querer subverter as hierarquias da vida normal, explorando cenários de pilotos e assistentes de bordo, professores e estudantes, pacientes e médicos.
– Podemos confessar que, embora monógamos por natureza, a ideia de outras pessoas nos observarem ou se juntarem a nós excita-nos bastante.
– Ou podemos revelar que os nossos interesses eróticos não circulam – como é suposto – exclusivamente em torno dos genitais; que estamos muito mais interessados na nuca, nos pulsos ou mesmo sapatos ou collants.
– Podemos ter a coragem de desafiar as regras cronológicas normais, revelando que gostaríamos de passar mais tempo com as nossas roupas vestidas, ou despirmo-nos apressadamente.
Sexualidade é a excitação de nos sentirmos livres dos tabus restritivos do resto das nossas vidas. É um lugar seguro, onde podemos levar outra pessoa para o lado não inteiramente responsável, um pouco cruel e louco de nós.
Que alguém nos dê permissão para fazer isso, está no cerne do que é a sensualidade.
A pessoa que é boa na cama não é aquela que se sabe articular ritmicamente por longos períodos: é a pessoa que encoraja, defende e legitima os segredos do parceiro ao mesmo tempo que está muito consciente e é verdadeira com os seus próprios desejos.
Trata-se de uma mútua nudez da mente, tornada possível através da confiança.
Traduzido/adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton
Comentários recentes