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Mudar é doer. Sofrimento em psicoterapia. Pedro Martins Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Mudar é doer. Sofrimento em psicoterapia

Ao ler o artigo “Mudar é doer” lembrei-me de algo que se passou há uns anos. Um amigo meu estava a considerar iniciar uma psicoterapia mas antes quis conversar comigo para esclarecer algumas questões. Falei-lhe superficialmente do processo, os moldes e os objectivos.

Como me atrasei a dar-lhe um contacto ele marcou com o psicoterapeuta de uma amiga. Saiu de lá em choque porque nada do que eu lhe tinha dito batia com o que acabara de ouvir. Entre elas estavam as coisas que encontrei no artigo: “Mas se tiver coragem de enfrentar esse estado de coisas; de dor insuportável, mas necessária, verá o incrível milagre da vida acontecer diante dos seus olhos.”

O que podemos encontrar nesta frase?

Em primeiro lugar temos uma espécie de sedução/manipulação por parte do psicoterapeuta: – É corajoso ou não é? Se não for pode ir embora. Aqui só há lugar para corajosos. Mas eu sinto que você é corajoso para enfrentar as coisas.

Depois de a coragem estar à flor da pele, aplica-se o segundo golpe – Não pode fugir à dor insuportável, porque, obviamente, ela é necessária. Para quê? Para ver um incrível milagre acontecer! Nesse caso vale bem a pena. Quando é que começamos?

Perante esta aceitação tácita, o paciente está condenado às atrocidades que estão para vir. Se não as suportar é porque não é corajoso, e o milagre da vida não quer nada com os fracos. Moral da história: Se as coisas correrem mal a culpa é sua!

Vamos passar ao lado do adjectivo “insuportável”, porque a dor em si é quanto baste. Introduzir mais dor em pessoas que certamente passaram por muitas ou que as vivem neste momento é mais que maldade, é uma perversão (caso esta pessoa não tenha perdido para sempre a esperança na psicoterapia, terá mais um problema quando entrar no gabinete do novo terapeuta).

A psicoterapia não é, nem pode ser uma fonte de dor, muito menos insuportável. Há coisas que custam, que são difíceis, mas não o são porque fazemos terapia – já o eram muito antes. Na verdade, é por essa razão que as pessoas decidem fazer psicoterapia: superar os bloqueios que as impedem de ter uma vida melhor.

psicoterapia lisboa

O seu psicoterapeuta é demasiado simpático?

O artigo Is your therapist to nice? fez-me recordar uma expressão que vem dos tempos da faculdade: “Terapia de Chá e Bolinhos”, e que diz respeito às psicoterapias em que os pacientes saem sempre felizes e contentes da sessão; com o sentimento de estarem em perfeita sintonia com o psicoterapeuta e de receberem excelentes conselhos para resolver os seus problemas.

O seu terapeuta concorda sempre consigo? Está constantemente a elogiá-lo? Sorri e gesticula com frequência em sinal de aprovação? Já reparou que sai quase sempre bem-disposto da sessão? Estes podem ser sinais de que o seu terapeuta é solidário, empático, cuidador e preocupado com o que se passa consigo, ou, sinais de que o seu terapeuta é excessivamente amável.

Se o seu psicoterapeuta é demasiado simpático talvez esteja na altura de procurar um novo.

Consideremos os riscos para a terapia resultantes de ter um terapeuta demasiado simpático:

É muito gratificante termos alguém que concorda sempre connosco, principalmente se ao longo da vida fomos sistematicamente contrariados. Esta atitude do terapeuta pode ir ao encontro do nosso desejo de finalmente termos alguém que concorde connosco, mas assim que surgir alguma pessoa que discorde voltará tudo à estaca zero. Isto acontece porque as atitudes do terapeuta não passam de “festinhas ao ego” não produzindo qualquer tipo de mudança estrutural.

A questão deve ser olhada de outro ângulo. Devido a vários impedimentos não conseguimos reagir da forma desejada contra as pessoas que invariavelmente fizeram com que as suas ideias, valores e escolhas se sobrepusessem às nossas, e dessa forma, contribuíram para o desenvolvimento de sentimentos de inferioridade. O importante é encontrar uma maneira de respondermos a essa desconsideração e assim recuperar a auto-estima que foi sendo esmagada.

Ao mesmo tempo, esta atitude do terapeuta faz aumentar os sentimentos de dependência negativa (também existe a positiva). Uma vez que as coisas acontecem a um nível superficial o paciente está sempre necessitado de um reforço positivo. É como se estivesse a comer alimentos pouco nutritivos (chá e bolinhos) e por isso está constantemente com fome. Não lhe é dado um alimento afectivo que o possa deixar saciado por mais tempo.

Por outro lado, se pensarmos objectivamente, a constante concordância não existe na vida real. Logo é uma fraude que põe em causa um dos pilares da psicoterapia: A Verdade.

Se o paciente teve pais muito intrusivos, excessivamente preocupados, que tinham opiniões sobre tudo e sobre nada, é natural que o seu Eu tenha sido formatado de forma muito rígida. Mas isso quer também dizer que está desejoso que o terapeuta lhe diga o que deve fazer, afinal foi assim que viveu toda a vida – a seguir as escolhas dos outros.

Nesse sentido é importante criar um espaço de liberdade que permita antes de mais questionar, abrir a porta à dúvida, considerar outros ângulos, outras perspectivas. Na maioria das vezes o paciente constrói uma narrativa que contraria a que lhe foi imposta, a única que tinha sobre si mesmo.

Muitos de nós tivemos pais que ficaram muito aquém do desejável. Nalguns casos podemos mesmo falar em maus pais. De qualquer forma, essa questão não se ultrapassa com novos pais (de preferência bonzinhos), mas reconhecendo que na maioria das vezes a maldade dos pais ficou a dever-se a algo que existia neles e que não foi provocado pela nossa maldade.

Chá e Bolinhos sabem muito bem. Sabem ainda melhor em boa companhia.
Mas a vida é muito mais do que isso. E a terapia também!

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