Adiar o início da Psicoterapia
Caminhando entre as insondáveis razões que levam as pessoas a adiar o começo de uma psicoterapia, deparamos com várias que, apesar de reconhecerem a necessidade, optam por coisas, digamos, menos convencionais. Tenho algo contra? Nada a opor, se forem uma ajuda. Na maioria das vezes não são uma ajuda, e quando o são, por norma é temporária (o seu efeito é proporcional à relação que se estabelece). Porque as pessoas optam por elas? Posso pensar que as considerem mais rápidas, mais baratas, mais eficazes, etc. Mas pode ser que uma das razões possa assentar no tipo de relação que se estabelece (ou não).
Recordo uma jovem mulher que recebi e que se mostrou muito interessada em discutir a minha orientação. Ainda que de forma superficial conhecia as principais correntes psicoterapêuticas. Para além disso conversamos um pouco sobre ela e sobre a sua vida. Ao falar-me das suas relações compreendi melhor o grande interesse sobre a minha orientação e até que ponto eu fazia uso das teorias.
Para ela se sentir segura era fundamental que existisse algo que a pudesse manter separada dos outros. Um muro de betão, um vidro ou uma fina película, conforme o género de relação.
No nosso caso queria assegurar-se que entre mim e ela existiria uma teoria que nos separava. Ficaria mais segura em saber que não era eu (a nossa relação) que a estava a ajudar mas a teoria.
As suas relações (defeituosas, intrusivas, insuficientes) levaram a que as conexões emocionais se fossem reduzindo e sujeitas a um grande escrutínio. Antes de entrar precisava saber o que ia encontrar. Por norma não é possível saber o que vai acontecer, antes de acontecer. Na ausência desse conhecimento fazia uso do conhecimento adquirido, supondo que, seguramente – para o bem e para o mal – se ia repetir.
Mas por muitas voltas que se dê, aquilo que foi estruturado na interacção com o “outro” só na relação com o “outro” pode ser modificado, através de uma nova, fresca e sadia via de conexão emocional.
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