A Mãe Possessiva
Fala-se, em psiquiatria e em psicologia (e noutros meios), com extrema frequência da mãe possessiva.
Mas nem sempre esta frase significante traduz, na expressão de quem a emprega, o significado correcto da mãe concreta de características possessivas.
“O traço caracterológico mais típico da mãe possessiva é a insuficiência narcísica.”
Este tipo psicológico de mãe é, sobretudo, uma mãe que se apodera de um filho como um objecto de propriedade privada:
– Para benefício da sua (da mãe) segurança pessoal e na razão (da mãe, ainda) da sua insegurança intrínseca, constitutiva e fundamental.
É esta insegurança – esta insuficiência narcísica – o traço caracterológico mais típico, e essencial, das chamadas “mães possessivas”.
A mãe possessiva “ama” o filho de uma forma narcísica, como um prolongamento de si própria.
Mais ainda: como uma peça fundamental e imprescindível do seu equilíbrio dinâmico.
O filho é um suporte do seu equilíbrio instável, um pilar na sua organização psíquica deficitária.
Consequentemente, o filho é utilizado – com feroz egoísmo e num medo constante de o perder (o que conduz a não lhe permitir a sua independência progressiva, logo a formação como ser) -, persistente e indefinidamente, como objecto que preenche o funcionamento deficiente da mãe.
E nada perturba mais o desenvolvimento infantil do que este tipo de investimento em que a criança não é considerada um autêntico sujeito, ou, numa outra linguagem, objecto portador de desejos próprios.
Ao filho atormentado, tímido e culpabilizado, submisso e cumpridor, sem energia nem originalidade, é exigida uma lealdade a toda a prova, um amor (pela mãe) indefectível, uma gratidão sem limites.
“Estas mães apelam constantemente para os “sacrifícios” que fazem e fizeram pelos filhos.”
A mãe possessiva é descrita pela psiquiatria fenomenológica como ansiosa, fóbica, deprimida ou hiperactiva, ambivalente e dominadora.
No cerne da sua estrutura psicopatológica define-se por sentimentos de desvalorização pessoal e pela necessidade constante de compensação.
Estas mães apelam, passo a passo, para os “sacrifícios” que fazem e fizeram pelos filhos: numa persistente atitude de reparação da auto-imagem de insuficiência e de culpa (inconscientes).
Mas o apregoado sacrifício é uma falsificação da realidade.
De sacrifício tem apenas a aparência, pois, no íntimo, a sua atitude foi sempre ditada pelo benefício egoísta a retirar:
– Receber mais tarde os favores que agora dispensa.
Cronicamente dominadora – física, emocional ou moralmente, conforme a idade do filho e as circunstâncias -, esta mãe tentacular, que tem razão, é como uma espécie de Deus omnisciente e omnipresente.
Portanto, a sua influência crítica conselheiral, perdura na consciência do filho, ultrapassando as barreiras do espaço e do tempo (para além, portanto, da sua presença concreta).
É uma espécie de “supermãe”, que, com o álibi da protecção, superintende em toda a vida do filho.
Estas mães são tanto mais patogénicas, quanto menos se fez sentir a presença do pai.
É o que pode acontecer na situação da “mãe como educadora única”(mãe solteira, viúva, ausência prolongada do pai, etc.), ou quando o pai é uma figura apagada ou passiva.
Nestas situações falta ao filho um importante elemento de contraste, uma necessária figura de identificação secundária, o contraponto da realidade exterior (exterior à relação binária mãe-filho – gratificante e construtiva, mas também frustrante e devoradora).
É apoiando-se no modelo paterno que a criança suprime paulatinamente, a dependência da mãe; tornando-se autónoma e responsável.
Excertos do artigo “A Mãe Possessiva” – A. Coimbra de Matos
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