Elogio – melhor que receber só mesmo merecer
Há coisas onde as crianças não diferem muito dos adultos: a satisfação de receber um elogio. Em ambos os casos o elogio pode não ser merecido, mas no que diz respeito aos filhos, os pais têm sempre um elogio “gratuito” para um poema horrível, para uma performance musical de arrepiar ou para um golo a 20 metros da baliza.
– Confiança -, dizem. – É preciso que ganhem auto-confiança para triunfarem na vida. Será que o elogio incondicional gera confiança ou dependência?
As crianças e os jovens gostam de sonhar com conquistas mirabolantes e aplausos intermináveis. No entanto, fazem-no muito mais pelo prazer do devaneio do que pelo desejo real de concretização. Por seu lado, os pais, investem (por vezes na pior acepção da palavra) de corpo e alma nos sonhos dos filhos (ou seus) exponenciando os seus dotes de forma desmesurada.
Os pais estão convencidos que para os filhos triunfarem precisam confiar cegamente nas suas qualidades, esquecendo que sem esforço nada se consegue. Assim, mesmo sem se justificarem, os pais desfazem-se em aplausos.
O problema é que os elogios incondicionais em vez de produzirem auto-confiança provocam dependência: os filhos ficam dependentes da aprovação dos pais e, mais tarde, dos outros. Escravos desta situação, invertem as prioridades: em vez de se esforçarem na concretização dos seus desejos, buscam os elogios.
Hoje, os filhos são o centro da vida de muitos pais e, ainda que encontremos aí um enorme altruísmo, na verdade, está também um grande vazio, que os pais procuram preencher através dos filhos. Isto acaba por gerar uma dependência desigual: os filhos tornam-se importantes para os pais e os pais indispensáveis para os filhos. Cada passo que o filho dá tem que ser antecedido de um sms de autorização/aprovação.
A visão actual sobre as crianças é muito diferente e, como normalmente acontece, para as compensar de todo o mal que lhes provocámos, passa-se para o outro extremo: endeusamento. Talvez as coisas não sejam assim tão simples e esse endeusamento tenha um preço elevado e, já lhes esteja a ser cobrado.
As crianças são o futuro, é incontestável. Não quererá isso também dizer que lhes colocamos a responsabilidade de compensarem as nossas falhas e fracassos? Não andaremos à procura de um orgulho retroactivo?
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