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Crescer sem psicoterapia - Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicólogo Clínico

Crescer Emocionalmente sem Terapia

Crescer emocionalmente é difícil de conseguir por conta própria.

De vez em quando, encontro alguém que parece ter crescido sem terapia, uma pessoa relativamente equilibrada e satisfeita, pouco sobrecarregada com conflitos internos.

Como psicanalista e psiquiatra, interrogo-me sobre isso. Crescer emocionalmente apresenta tantas dificuldades e desafios que ultrapassá-las com sucesso parece uma tarefa assustadora.

Onde é que a criança tem o guia para desenvolver um senso de autonomia pessoal enquanto também desfruta de relacionamentos com as outras pessoas?

Como é que um filho de três ou treze anos descobre como lidar com a inveja que tem dos outros, as questões da sexualidade, os seus desejos destrutivos e vingativos?

Como é que a criança pode saber que a sua dor de estômago representa ansiedade em ir para a escola, ou que sua preocupação com a escola pode servir para distraí-la de preocupações mais sérias sobre fantasias e acontecimentos que surgem em casa?

Há uma razão para que tantos filmes sobre ou para crianças (como o E.T.) retratem os adultos como pessoas que não compreendem o mundo das crianças: há uma certa verdade nisso.

Mesmo os pais mais intuitivos e empáticos não conseguem compreender completamente o mundo interior de uma criança, mesmo que eles já tenham sido crianças.

No entanto, os seus esforços são importantes e os pais costumam ajudar as crianças a aprender, a aceitar, a entender e a regular os seus sentimentos e desejos.

 

É muito difícil vermos os nossos pontos cegos.

 

Mas há sempre sentimentos de vergonha e culpa que as crianças preferem que os pais não conheçam, e sentimentos e fantasias que os pais não conseguem imaginar.

Uma menina de quatro anos pode dizer descaradamente à mãe que planeia casar-se com o pai, mas esconde o quanto ela adoraria fazer desaparecer o irmão mais novo.

Independentemente da forma como a mãe responde, a menina ainda está muito por sua conta, enquanto tenta discernir a fantasia da realidade.

Com pouco conhecimento ou experiência, as crianças são chamadas a lidar com os seus desejos imperiosos e as autocríticas.

Com os seus corpos em mudança e as exigências dos pais e professores, sem mencionar a existência de doenças, tristezas, rejeições de amigos, e golos falhados.

Os pais podem ajudar a crescer emocionalmente (e também podem magoar), mas há sempre muito mais coisas do que aquelas que eles podem controlar.

Com os seus recursos limitados, as crianças passam por fases onde despontam medos, peculiaridades, crenças, rituais e maneiras de se relacionar com o mundo.

Estas adaptações diminuem e fluem, mudam, ficam inactivas e reaparecem.

Todos nós carregamos pelo menos parte dessa bagagem -eu-estou-a-lidar-com-esta-loucura-o-melhor-que-posso-, para a vida adulta, e normalmente queremos deixar conteúdo da bagagem por analisar.

É tão difícil ver os nossos próprios pontos cegos, e surpreendentemente, a maioria de nós deseja ferreamente apegar-se a eles.

 

Mesmo os pais mais intuitivos e empáticos não conseguem compreender completamente o mundo interior de um filho.

 

No meu consultório vejo constantemente pessoas que se casaram para evitar um envolvimento profundo e depois divorciam-se porque o envolvimento não é suficientemente profundo;

ou que, inconscientemente, estão a fazer um esforço tão grande para serem diferentes dos seus pais, que não conseguem fazer com que o relacionamento funcione com um parceiro;

ou que continuam a fazer jogos e a tentar não se vingar de pequenos ou grandes traumas de infância.

Muitas vezes eles dizem-me: “Eu deveria ter vindo vê-lo há vinte anos”, e eu não discordo.

Por que eles não vieram?

Na maioria das vezes, as pessoas transportam os sentimentos desconfortáveis que têm sobre as suas lutas emocionais da infância para o presente.

As pessoas falam sobre o estigma de procurar ajuda para os problemas emocionais, mas o mais importante e omitido “estigma” são sobretudo, as próprias hesitações e as auto-depreciações.

A afirmação “Preciso de ajuda e vou obtê-la” raramente é mal recebida, mas a vergonha de querer ou precisar de ajuda para estas questões é tão grande que poucas pessoas se sentem à vontade para a verbalizar.

 

Como existe muito do passado no presente, mesmo que invisível, os obstáculos emocionais ao trabalho, ao amor e ao lazer são muitos.

 

Quando eu estava na faculdade, tinha tanta vergonha e medo de precisar de terapia como qualquer outra pessoa, mas existiam coisas que me incomodavam e com as quais eu não conseguia lidar.

Naquela altura, ter feito psicoterapia por um curto período de tempo ajudou-me a reconhecer que compreendia muito pouco sobre mim e sobre os meus sentimentos em relação à minha família – um começo muito útil.

Voltar a fazer psicoterapia quando era estudante de medicina ajudou ainda mais.

Durante a formação para psicanalista fiz uma psicoterapia mais longa que me proporcionou uma sensação tremendamente gratificante de finalmente desatar os nós emocionais mais apertados e ocultos.

Que sorte não me ter sentido obrigado a fingir que era maduro a ponto de me privar da ajuda essencial dos outros.

Freud sugeriu que era desejável que as pessoas pudessem amar e trabalhar, e, alguns, acrescentou, brincar.

Podem parecer coisas simples – amor, trabalho e diversão -, mas exigem equilíbrio emocional e flexibilidade, além de percepções realistas de si mesmo e dos outros.

Como existe muito do passado no presente, mesmo que invisível, os obstáculos emocionais ao trabalho, ao amor e ao lazer são muitos.

Embora algumas pessoas de facto atinjam estes objectivos aparentemente simples, mas realmente muito ambiciosos, é muito mais fácil quando alguém nos ajuda a esclarecer certas percepções erróneas.

Em qualquer idade, pode ser difícil crescer emocionalmente, dar o próximo passo no desenvolvimento.

E, os quiproquós no desenvolvimento são resolvidos com muito mais facilidade, e, geralmente, de forma mais profunda, com, do que sem terapia.

No entanto, apesar de existirem outras opções, muitos de nós parecem preferir crescer da maneira mais difícil – sozinhos -.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
a partir de: Growing Up Without Therapy – Lawrence D. Blum

dores do crescimento psicólogoclínico

As dores do Crescimento

As dores do crescimento

Luke, vinte e quatro anos, faz duas sessões por semana há seis anos. Ele dedicou-se, com o apoio financeiro dos pais, a “trabalhar em si mesmo”. Nunca chega atrasado; nunca se esquece da sessão, apesar das várias alterações de horário devido ao meu trabalho e à escola dele.

Ao longo dos últimos seis anos ele “odiou-me”, “amou-me” e sentiu que eu era “irritante e muito maternal” com ele.

Sentimentos positivos, sentimentos negativos, sentimentos neutros não parecem mudar o seu compromisso com o nosso processo. Ele quase desistiu do ensino secundário, já que mal conseguia sair da cama para ir à escola, mas agora está a estudar medicina, em breve vai ajudar outros que precisam dele. Os pais disseram-me que temiam que, com tanta psicoterapia, ele quisesse ser psiquiatra, como se isso fosse uma má escolha. Para sorte deles, ele está a caminho de ser cirurgião.

Como ele diz: “Tenho pouco interesse em falar com as pessoas. Eu odiaria ter que lidar com pessoas como eu que berram e gritam consigo, como se fosse a mãe deles.” Eu quase senti que era um pedido de desculpa por tempos muito difíceis que passámos juntos, mas ele não tem razão para remorsos. Nós concordámos em trabalhar juntos e empenhados numa luta honesta, e a frustração e a raiva, são inevitáveis. Ambos tivemos comportamentos que nos fazem desejar que tivéssemos sido mais ponderados e controlados.

“Porque é que eu quero ver você todos os dias”, Luke pergunta-me de uma maneira doce, cativante e desafiadora. “Você está a avançar e com isso surgem as dores do crescimento”, digo-lhe, explicando que ele agora está no meio de um grande crescimento emocional, e a tentar decidir entre tantos encontros com raparigas, com quem ele deseja ter um relacionamento mais sério a longo prazo. Com um enorme sorriso, ele diz: “Bolas! Obrigado Dra. Vollmer, fico tão feliz de ouvir isso.”

De repente, eu enquadrei a dor de Luke como um meio para um fim mais profundo, e de repente ele deixou de se sentir mal com a sua indecisão, para se sentir bem quanto à forma como estava a considerar as coisas. Luke teve muitos problemas com os relacionamentos. Não tanto por as raparigas não gostarem dele, mas por não aprofundar os seus sentimentos em relação a elas. Consequentemente, cresceu insatisfeito com a maioria das suas experiências íntimas.

Ao explorarmos os seus próprios desejos num relacionamento, ele tornou-se mais cauteloso ao entrar em assuntos amorosos quando se tratava de gostar mais profundamente de uma rapariga.

Agora, Luke tem que tolerar a solidão da qual se defendeu através de constantes relacionamentos insatisfatórios.

A sua vontade de me ver diariamente é reflexo do seu novo desafio e da gestão desses sentimentos difíceis. Ao termos compreendido a necessidade de Luke me querer ver com mais frequência, e de a pensarmos à luz do seu crescimento emocional, não foi necessário aumentar o número de sessões.

 

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

A partir de “Why do I want to see you everyday” – Shirah Vollmer

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