Casamento: Casei Com a Pessoa Errada?
“Não há nada de errado em se ter casado com a pessoa errada” – Alain de Botton
Alain de Botton analisa a questão do casamento a partir de uma perspectiva politicamente incorrecta, mas muito lúcida:
“Ninguém é perfeito. O problema é que, antes do casamento, raramente entramos na nossa própria complexidade.
O casamento acaba por ser uma espécie de aposta esperançosa feita por duas pessoas – que ainda não sabem bem quem são nem em quem se converterão -, que se unem tendo em vista um futuro que são incapazes de conceber e tiveram o cuidado de evitar investigar.”
De acordo com este pensamento, José Abadi refere que:
“Todos os relacionamentos implicam um risco, que tem a ver com o imponderável e o imprevisível.
Não existe um ideal, vivemos a aceitar as imperfeições recíprocas para nos aproximarmos da felicidade possível.”
O problema é que, antes do casamento, raramente entramos na nossa própria complexidade.
A ideia da cara-metade é um estereótipo do passado?
Ao longo do tempo, a ideia de casamento estava ligada a questões mais racionais do que sentimentais.
Mas o casamento da “razão” foi perdendo para o casamento com base em sentimentos, refere Botton.
A boa notícia é que não importa se damos conta de que casámos com a pessoa errada.
Não devemos abandonar essa pessoa, mas a ideia romântica sobre a qual a compreensão ocidental do casamento se tem baseado nos últimos 250 anos:
-Existe um ser perfeito que pode satisfazer todas as nossas necessidades e todos os nossos desejos.
Séculos atrás, um casal formava uma família e o amor não era o objectivo fundamental desse vínculo.
Actualmente as famílias assentam no amor – ou, pelo menos, tentam. No entanto, o amor é problemático porque não está garantido.
O erro é acreditar na existência da pessoa certa, explica o psicanalista Any Krieger. “É um erro esperar que o outro preencha as nossas faltas”.
“É um erro esperar que o outro preencha as nossas faltas”.
“Não há nada mais importante do que aceitar e admitir a complexidade de quem somos.
Temos aspectos negativos e positivos, temos luzes e temos sombras.
Temos traços do nosso carácter que resolvemos de maneira saudável e temos conflitos que continuam a aprisionar-nos.
Aprender a aceitar a imperfeição e até mesmo transformar essa falha em algo simpático e atraente é uma das chaves para o amor.”
Pelo contrário, o outro sinaliza essa falta, mostra a nossa incompletude, refere Krieger.
Outra forma de desmistificar o amor ideal é proposta por Arthur Aron, psicólogo americano que refere que com uma conversa profunda, íntima e sincera, com base num teste padronizado de 36 perguntas, duas pessoas podem terminar juntas.
Durante o processo de averiguação da eficácia do teste de Aron, dois participantes acabaram por casar.
A primeira das 36 perguntas é simples:
“Se eu pudesse convidar qualquer pessoa para uma refeição, quem convidaria?”.
A última pergunta aponta para um nível muito mais profundo de entendimento e intimidade:
“Compartilhe um problema pessoal e peça ao seu interlocutor para lhe dizer como ele ou ela teria agido para resolvê-lo. Pergunte-lhe também como ele acha que você se sente em relação ao problema que você partilhou. ”
De Botton sugere que nos primeiros encontros escondemos muito do que somos:
Numa sociedade mais sábia e consciente de si mesma do que a nossa, uma pergunta comum num dos primeiros encontros seria: ‘E tu, que problemas tens?’
Comentários recentes