O Perfeccionismo
Segundo Stoeber (2014), o perfeccionismo é caracterizado por padrões de exigência extremamente elevados, acompanhado por uma tendência a ser muito crítico nas avaliações.
Esta disposição reflete-se principalmente no desempenho escolar/académico e no trabalho, mas também na aparência física.
Hollender definiu o perfeccionismo como o hábito de exigir a si próprio e aos outros um elevado grau de desempenho; maior do que o requerido pela situação.
O perfeccionismo é a tendência para estabelecer elevados padrões pessoais de desempenho juntamente com uma avaliação excessivamente crítica desse desempenho e um enorme medo de errar.
Perfeccionismo e Psicopatologia
A necessidade de ser perfeito ou de ser visto como perfeito pelos outros é um factor de risco para a saúde mental.
Tem sido associado à depressão, às perturbações de ansiedade, às perturbações obsessivo-compulsivas e aos distúrbios do comportamento alimentar.
As pessoas perfeccionistas esforçam-se desmesuradamente para serem perfeitas e evitar o erro, que é sentido como catastrófico.
A marca indelével deixada pelo erro contribui para a formação de um sentimento negativo sobre si mesmo. Uma baixa autoestima ou a sua diminuição pode gerar sintomas depressivos.
Inúmeros estudos encontram uma correlação significativa entre perfeccionismo e depressão.
No perfeccionista o medo de falhar gera uma enorme ansiedade no desempenho das tarefas. Quanto mais importante e investida a tarefa maior a ansiedade.
Boivin e Marchand (1996) referem que o perfeccionismo está associado a várias perturbações de ansiedade.
O resultado de vários estudos indica que o perfeccionismo afecta diretamente a ansiedade, ou seja, um maior nível de perfeccionismo gera um maior nível de ansiedade.
Guidano e Liotti (1983) sugeriram que o perfeccionismo constitui um dos traços fundamentais para o desenvolvimento da perturbação obsessiva- compulsiva nos indivíduos com personalidade obsessiva.
A necessidade de ser perfeito ou de ser visto como perfeito pelos outros é um factor de risco para a saúde mental.
O funcionamento mental do obsessivo-compulsivo organiza-se em torno de certas crenças que se caraterizam por aspetos perfeccionistas, necessidade de certezas e a convicção de que existe uma solução perfeita.
O perfeccionismo tem sido associado à perturbação obsessivo-compulsiva, na medida em que o sujeito obsessivo-compulsivo tende a apresentar um ideal de perfeição em todas as áreas da sua vida.
O sujeito obsessivo-compulsivo tem dificuldade em suportar as incertezas e por consequência, tenta eliminá-las através de um comportamento compulsivo.
A crença destes sujeitos baseia-se no facto de que, não cometendo erros, evitam a crítica – tão difícil de suportar.
O perfeccionismo também tem sido associado às perturbações do comportamento alimentar (Shafran et al., 2002), tendo um papel importante na sua patogénese, manutenção e resposta ao tratamento.
Um estudo de Forbush et al. (2007), com amostra de 2482 sujeitos mostrou uma relação significativa entre o perfeccionismo e os distúrbios alimentares, particularmente, a Anorexia Nervosa e a Bulimia.
Outro estudo de Teixeira (2008) com 1465 adolescentes e jovens adultos, com idades compreendidas entre os 14 e os 20 anos que pretendia avaliar a relação entre perfeccionismo e as atitudes e comportamentos alimentares mostrou que os adolescentes que apresentavam resultados mais elevados no Teste de Atitudes Alimentares eram também os que apresentavam pontuações mais altas nos níveis de perfeccionismo.
O perfeccionista procura exteriormente, através do seu desempenho, uma validação que não encontra interiormente.
Os perfeccionistas adotam um estilo de vida marcado por um esforço intenso, persistente e compulsivo para atingir metas dificilmente atingíveis, acompanhado por autoavaliações excessivamente críticas e severas, procurando valorização através do seu desempenho.
Devido à insuficiência narcísica perfeccionista procura exteriormente, através do seu desempenho, uma validação que não encontra internamente.
Por mais perfeito que seja, jamais alcança esse sentimento interno de que é bom o suficiente para o outro.
Daí ter uma grande dificuldade de diminuir o grau de exigência que impõe a si mesmo.
Ao mesmo tempo, pode ficar enfurecido com aquele que não se rege pelos mesmos níveis (desproporcionados) de exigência.
A liberdade e a descontração do outro são sentidas como um ataque a quem é escravo do perfeccionismo e do qual não se consegue libertar.
Enquanto não conseguir fontes internas de valorização o perfeccionista não é dono e senhor de si próprio.
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