Auto-suficiência: o outro lado
– Ninguém sabe como eu me sinto, ninguém se interessa…
– Já disseste a alguém como te sentes?
A expectativa de que os outros saibam como nos sentimos sem termos de o expressar, na maioria das vezes, não se concretiza.
A narrativa acaba por ser: “Não se interessam, não gostam de mim …”
O desejo de ser compreendido e que o outro venha ao nosso encontro sem necessidade de o expressarmos encontra paralelo na infância precoce onde a mãe antecipa os desejos/necessidades da criança e as satisfaz. Excluindo este “fenómeno” que resulta de uma profunda ligação mãe-bebé (que se desfaz gradualmente), a criança vai desde o início manifestando as suas necessidades e procurando pelos meios que dispõe que elas sejam satisfeitas.
Quando as coisas não correm bem nesta fase do desenvolvimento, a criança – amanhã adulto – vai-se fechando sobre si própria e reforçando a crença que pode, essencialmente, contar consigo mesma.
Se para algumas pessoas é difícil pedir ajuda, para outras isso é quase impossível. Sentem que pedir é uma espécie de pedinchar, sinónimo de pequenez, e nesse sentido, exposição de uma falha, de uma fragilidade que é necessário ocultar.
Quando pedem ajuda fazem-no de uma forma tão atabalhoada que por vezes mais parece que os outros é que sentem necessidade de os ajudar.
O receio de pedir e não receber não só expõe o sentimento de insuficiência como o pode ampliar.
Então, numa espécie de vitória invertida aguentam estoicamente em silêncio ao mesmo tempo que desenvolvem sentimentos hostis em relação ao outro que “não se interessa”.
Desta forma vai-se ampliando a distância, quando a proximidade é – e sempre foi – o maior desejo.
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