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psicólogo clínico psicoterapeuta

A Confiança

Uma das razões pela qual a nossa confiança falha está em nos sentirmos muito ansiosos com a possibilidade de perda da nossa dignidade.

Há muitas situações que podem ser bastante interessantes e divertidas, mas também representam um perigo palpável de fazermos figura de parvos.

Se tentarmos beijar alguém, pode ser o começo de algo fantástico, mas também existe o risco que se afastem e pensem que somos idiotas por estupidamente termos presumindo que poderiam estar interessados em nós.

Se formos sozinhos a uma festa onde não conhecemos ninguém, podemos acabar por ter uma noite agradável – mas também é possível que nos sintamos muito sozinhos.

Podíamos em consciência pedir um aumento ou uma promoção, mas algumas pessoas seniores podem ver no nosso pedido um sinal de que estamos errados na avaliação do nosso mérito.

Quando dizemos que nos falta confiança, o que muitas vezes queremos dizer é que normalmente desistimos de oportunidades atractivas, mas incertas, de modo a evitar um possível golpe no nosso orgulho.

O nosso medo decorre da ideia comovente de que precisamos proteger a nossa dignidade para viver bem.

A imagem mental de nós mesmos é de que não somos idiotas – e, portanto, seria terrível se os outros começassem a pensar que somos.

Mas o facto estranhamente útil é que nós definitivamente já somos tontos.

Não porque haja algo particularmente estranho sobre nós como indivíduos: esta é apenas uma verdade básica sobre estar vivo.

É claro que somos estimulados por impulsos irracionais.

É claro que queremos coisas que não vamos conseguir.

Obviamente vamos perder coisas e fazer observações das quais mais tarde nos arrependeremos.

Inevitavelmente, interpretaremos mal certas situações e deixaremos os outros a pensar que somos estranhos.

Isso é o que acontece de forma regular se temos um cérebro humano que vagueia pelo mundo e interage com outras pessoas.

Para a pessoa com pouca confiança, o caminho para diminuir a ansiedade é a admissão firme e inteligente de que já somos tontos e, portanto, temos pouco a perder.

O pior que pode acontecer é os outros reconhecerem o que já reconhecemos como verdade. Assim não seremos afrontados por um ataque à nossa auto-imagem, teremos apenas a confirmação do que sabemos muito bem desde o início.

E – se nós assumirmos o risco – às vezes as coisas vão correr a nosso favor:

– O nosso pedido de promoção será recebido com um sorriso caloroso, faremos um novo amigo, e quem sabe, receberemos aquele beijo.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
a partir de “On Confidence” – Alain de Botton

não pensar

Pensar demasiado e Pensar muito pouco

Pensar em nós – nos nossos sentimentos, no nosso passado, desejos e esperanças – é uma tarefa extremamente complicada, daí que se gaste muita energia a tentar evitá-lo.

Mantemo-nos afastados de nós porque muito do que podemos descobrir pode ser doloroso.

Podemos descobrir que no fundo estamos profundamente furiosos e ressentidos com certas pessoas que deveríamos gostar muito.

Podemos descobrir a existência de muito espaço para nos sentirmos inadequados e culpados em virtude dos erros e dos julgamentos que fizemos.

Podemos descobrir que embora desejássemos ser pessoas honestas, respeitadoras da lei, abrigamos fantasias que entraram em direcções terrivelmente opostas.

Podemos reconhecer o quanto precisamos alterar as nossas relações e carreiras.

Nós não só temos muito a esconder, como somos mestres do embuste.

Faz parte do ser humano sermos auto-enganadores de forma muito natural. Usamos muitas técnicas e de forma quase imperceptível.

Duas delas merecem destaque particular: o nosso hábito de pensar demais. E a nossa propensão para pensar muito pouco.

Quando pensamos demais, em essência, estamos a preencher as nossas mentes com ideias capazes de impressionar, que anunciam manifestamente a nossa inteligência ao mundo, mas subtilmente dá-nos a garantia de que não teremos muito espaço para redescobrir sentimentos confusos que estão muito longe e, sobre os quais, o desenvolvimento das nossas personalidades, no entanto, repousa.

Escrevemos livros densos sobre o papel dos laços governamentais nas guerras napoleónicas ou publicamos extensivamente sobre a influência de Chaucer no romance japonês do meio do século XIX. Obtemos diplomas em instituições de renome ou cargos em conselhos editoriais de revistas científicas.

As nossas mentes estão abarrotadas de informações encobertas. Podemos falar das coisas mais singulares, mas não nos lembramos muito de como era a nossa vida lá para trás, a nossa antiga casa, quando o pai se foi embora, a mãe deixou de sorrir e a nossa confiança partiu-se em pedaços.

Nós implantamos conhecimentos e ideias que possuem um prestígio indubitável para proteger o surgimento de um conhecimento mais humilde, mas essencial, do nosso passado emocional.

Enterramos as nossas histórias pessoais sob uma avalanche de saberes.

A possibilidade de uma análise íntima e profundamente consequente é deliberadamente deixada por parecer fraca e supérflua comparada com a tarefa supostamente mais grandiosa de abordar uma conferência sobre as estratégias militares de uma tribo africana ou sobre o ciclo de vida do polvo indonésio.

Nós recostamo-nos no glamour de ter aprendido a garantir que não precisamos aprender muito daquilo que dói.

Quanto ao nosso hábito de pensar muito pouco.

Aqui, nós fingimos que somos mais simples do que realmente somos e que muita psicologia pode ser absurda, e demasiado barulho para nada.

Apoiamo-nos numa versão robusta de senso comum para evitar indícios da nossa incomum complexidade.

Concluímos que não pensar muito é, na base, evidência de um tipo superior de inteligência.

Entre nós ridicularizamos os relatos mais complexos da natureza humana.

Nós consideramos os caminhos do conhecimento pessoal como excessivamente extravagantes ou estranhos, implicando que, levantar a tampa da vida interior nunca poderia ser frutífera.

Usamos o humor prático das 9 da manhã de segunda-feira para afastar os insights complexos das 3 da manhã.

Implantando uma atitude de vigoroso bom senso, esforçamo-nos para que os nossos momentos de inquietação profunda pareçam aberrações – e não ocasiões fundamentais de compreensão.

Compreensivelmente ansiamos que as nossas personalidades não sejam intrincadas, pelo contrário: sejam simples e facilmente compreendidas.

Assim rejeitamos o estranho, mas ao mesmo tempo, factos muito úteis sobre o nosso intrincado Eu real.

A defesa da honestidade emocional não tem nada a ver com elevada moral. É, em última instância, cautelosa e egoísta.

Precisamos ser mais sinceros connosco próprios porque pagamos um preço muito alto pelas nossas mentiras. Através das nossas decepções, separamo-nos das possibilidades de crescimento.

Nós desligamos grandes partes das nossas mentes e acabamos desinteressantes, rabugentos e defensivos, enquanto os outros ao nosso redor têm que sofrer a nossa irritabilidade, melancolia, alegria fabricada ou racionalidades defensivas.

A nossa negligência com os lados estranhos de nós mesmos abrange o nosso próprio ser, aparecendo em forma de insónia ou impotência, gagueira ou depressão; vingança por todos os pensamentos que temos tido tanto cuidado para não ter.

O auto-conhecimento não é um luxo, mas uma condição prévia para a sanidade e para o conforto interno.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
a partir de “Thinking Too Much; and Thinking Too Little”

psicoterapeuta

Amigos imaginários

Os amigos imaginários não se constituem como alucinações que a criança vê fora de si, embora, em alguns casos, isso possa acontecer.

As crianças acreditam na sua existência real, procuram a sua companhia e conversam com eles.

Ao auxiliarem a criança na elaboração de angústias e ansiedades, os amigos imaginários têm um papel importante na constituição do Eu.

Estes também podem surgir quando a criança experimenta uma perda real ou fantasiada.

O amigo imaginário pode desdobrar-se em múltiplas personagens que actuam num teatro interno.

À medida que o Eu da criança se estrutura e vai sendo capaz de fazer frente a conflitos e aspectos contraditórios eles tendem a desaparecer.

Em alguns casos (raros), quando as condições para o seu desaparecimento não se verificaram eles permanecem, tornando-se aspectos cindidos da personalidade.

Ao auxiliarem a criança na elaboração de angústias e ansiedades, os amigos imaginários têm um papel importante na constituição do Eu.

Numa fase em que as crianças têm poucos amigos reais, os imaginários desempenham um papel importante na ampliação do seu mundo social.

Através dos vários papeis que os amigos imaginários vão desempenhando a criança vai experimentando sobre vários pontos de vista as relações humanas no mundo dos adultos.

À medida que se ampliam o número de amizades, os amigos imaginários vão-se tornando menos interessantes até ficarem para trás.

Isto não quer dizer que perante uma dificuldade, uma desilusão, a criança não recorra esporadicamente a ele para partilhar a tristeza, ou descarregar a raiva que está a sentir.

Às vezes fazem muita falta!

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Processar as Emoções

É um capricho das mentes que nem todas as nossas emoções sejam plenamente reconhecidas, compreendidas ou mesmo, verdadeiramente sentidas.

Existem sentimentos que se encontram numa forma “não processada” dentro de nós.

Muitas inquietações podem, por exemplo, permanecer sem autorização de acesso e de interpretação. Nesse caso, é possível que se manifestem sobre a forma de ansiedade generalizada.

Sob a sua influência, podemos sentir medo de passarmos tempo sozinhos, uma compulsiva necessidade de permanecermos ocupados, ou ficarmos presos a actividades que garantam que nos mantemos afastados do que nos assusta.

Um tipo semelhante de desaprovação pode acontecer em torno da mágoa.

Alguém pode ter abusado da nossa confiança e levar-nos a duvidar da sua bondade, ou afectado a nossa auto-estima.

A dor está algures dentro de nós, mas à superfície adoptamos uma frágil alegria; entorpecemo-nos quimicamente ou então adoptamos um tom de cinismo generalizado que mascara a ferida que nos foi infligida.

Pagamos caro por não “processar” os nossos sentimentos.

As nossas mentes crescem apreensivas quanto ao seu conteúdo. Não conseguimos dormir porque durante o dia não processámos certos sentimentos – a insónia é a vingança dos pensamentos que por serem omitidos, não foram processados durante dia.

Ficamos deprimidos com tudo, porque não podemos ficar tristes com nada.

Evitamos processar emoções porque o que sentimos é tão contrário à nossa auto-imagem, tão ameaçador para as ideias que a nossa sociedade tem de normalidade e tão em desacordo com quem gostaríamos de ser.

Uma atmosfera propícia ao processamento seria aquela em que as dificuldades do ser humano fossem calorosamente reconhecidas e amavelmente aceites.

Não é por preguiça ou desleixo que não nos conhecemos, mas porque tememos que seja doloroso.

Processar emoções requer bons amigos, psicoterapeutas competentes e momentos para reflectir.

Então, podemos baixar as nossas defesas (normais) de forma segura e permitir que o material venha à superfície e seja explorado.

Muitas vezes tomamos consciência que, numa área ou outra, a vida não é o que gostaríamos que fosse. Mas só aceitando e processando essas emoções, o nosso estado anímico pode melhorar.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton – Unprocessed Emotion

psicólogo clínico psicoterapeuta

Terapia encenada

Maria tem 32 anos e uma filha de 7. Maria está constantemente a sufocar a filha com as suas preocupações injustificadas, da mesma forma que a mãe a sufocava a ela. Reconhece isso, mas sente que não consegue mudar.

Força-se a ser diferente, acabando muitas vezes por ser um híbrido materno sem consistência afectiva. Procura a terapia com a esperança de se tornar uma mãe melhor do que a sua, e com isso poder desfrutar (em vez de contaminar) da relação com a filha.

Juntos, Maria e eu exploramos a sua identificação com a mãe e a incapacidade de separar-se dela. Através de novas identificações (não tóxicas) é possível avançar lentamente.

A distância não é corte, é continuidade (de existir).

Com o decorrer da psicoterapia sente menos necessidade das minhas intervenções. Começa a poder fazer escolhas e a reconhecer as opções como sendo suas. Essa liberdade crescente permite-lhe iniciar pequenos percursos (dentro e fora da terapia), com esforço, mas com igual prazer.

O desenvolvimento da capacidade de compreender e aceitar os relacionamentos nas suas múltiplas dinâmicas levam-na a usufruir da ligação com outros e em particular com a filha.

Apanhada na rede da transmissão intergeracional, onde de pais para filhos se perpetua certo tipo de funcionamento mental, parece agora, mais perto, de pôr fim a esse ciclo.

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Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Os obsessivos são extremamente ordenados e escrupulosos.

Desta forma procuram controlar ao mínimo pormenor tudo aquilo que pudesse relacionar-se directa ou indirectamente com os seus problemas.

O excesso de controlo, domínio de si próprio e do outro é uma uma das características fundamentais da neurose obsessiva.

Estes pacientes encontrarem-se submetidos a certas ideias ou pensamentos fixos ou à necessidade compulsiva de executar actos que despertam neles reacções emocionais intensas e cujo significado profundo não chegam a compreender.

Os obsessivos procuram controlar ao mínimo pormenor tudo aquilo que possa relacionar-se com os seus problemas.

As obsessões surgem por imposição de uma necessidade interna, sentindo-se obrigados a respeitá-las, às vezes, sob coação de uma angústia irreprimível.

Na neurose obsessiva há um hiperinvestimento do pensar – ruminação ideativa, indecisão e dúvida sistemática; omnipotência das ideias, superstição e recurso a fórmulas mágicas.

Este hiperinvestimento do pensamento é um reflexo do contra-investimento (como bloqueio do impulso de agir), que se evidencia na riqueza de formações reactivas que o obsessivo apresenta: parcimónia, delicadeza.

Os sintomas com que mais vulgarmente o obsessivo expressa os seus conflitos são:

– dúvidas, cismas, obsessões de contraste (o aparecimento de pensamentos obscenos durante uma prece), ideias compulsivas, mania da limpeza, tendência exagerada para a ordem e para a simetria, medos de contacto, fobias, superstições, etc.

Traços de carácter: forte teimosia ou obstinação, tendências exageradas para a poupança e extrema disposição para a ordem.

Nos obsessivos há um hiperinvestimento do pensar – ruminação ideativa, indecisão e dúvida sistemática

O obsessivo caracteriza-se, ainda, pela utilização de mecanismos de defesa específicos.

Entre os mais importantes pode destacar-se o da formação reactiva, que está profundamente enraizado na sua personalidade e com o qual procura opor-se à sua culpa, às suas hostilidades e às suas agressões inconscientes.

Isto pode dar lugar, por exemplo, a um comportamento permanentemente exagerado de amabilidade e cortesia.

O isolamento é o mecanismo por meio do qual se tende a separar ou distanciar aquelas pessoas, pensamentos ou objectos que por diversos motivos inconscientes não podem estar juntos nem tocar-se.

O mecanismo de anulação é um dos mais comuns e talvez o exemplo mais conhecido seja a “lavagem compulsiva” como forma de anular uma acção prévia (real ou fantasiada) vivida como “ter-se sujado”.

Ou seja, a culpa persecutória, por ter realizado ou fantasiado uma má acção, uma “porcaria”, tem tendência a reparar-se através da lavagem das mãos.

O obsessivo, por outro lado destaca-se em geral pelo grande desenvolvimento intelectual e pela sua aguda inteligência.

Mas a sua mentalidade encontra-se perturbada pela persistência de traços mágicos e ideias supersticiosas provenientes da época da omnipotência e da magia infantil.

Bibliografia:

Culpa de Depressão – León Grinberg

Breves considerações sobre a neurose obsessiva – A. Coimbra de Matos

Auto-suficiência: o outro lado

– Ninguém sabe como eu me sinto, ninguém se interessa…
– Já disseste a alguém como te sentes?

A expectativa de que os outros saibam como nos sentimos sem termos de o expressar, na maioria das vezes, não se concretiza.

A narrativa acaba por ser: “Não se interessam, não gostam de mim …”

O desejo de ser compreendido e que o outro venha ao nosso encontro sem necessidade de o expressarmos encontra paralelo na infância precoce onde a mãe antecipa os desejos/necessidades da criança e as satisfaz. Excluindo este “fenómeno” que resulta de uma profunda ligação mãe-bebé (que se desfaz gradualmente), a criança vai desde o início manifestando as suas necessidades e procurando pelos meios que dispõe que elas sejam satisfeitas.

Quando as coisas não correm bem nesta fase do desenvolvimento, a criança – amanhã adulto – vai-se fechando sobre si própria e reforçando a crença que pode, essencialmente, contar consigo mesma.

Se para algumas pessoas é difícil pedir ajuda, para outras isso é quase impossível. Sentem que pedir é uma espécie de pedinchar, sinónimo de pequenez, e nesse sentido, exposição de uma falha, de uma fragilidade que é necessário ocultar.

Quando pedem ajuda fazem-no de uma forma tão atabalhoada que por vezes mais parece que os outros é que sentem necessidade de os ajudar.

O receio de pedir e não receber não só expõe o sentimento de insuficiência como o pode ampliar.

Então, numa espécie de vitória invertida aguentam estoicamente em silêncio ao mesmo tempo que desenvolvem sentimentos hostis em relação ao outro que “não se interessa”.

Desta forma vai-se ampliando a distância, quando a proximidade é – e sempre foi – o maior desejo.

Trauma – Uma Introdução

No Vocabulário de Psicanálise, Laplanche e Pontalis descrevem trauma ou traumatismo (psíquico) como:

“Acontecimento da vida do indivíduo que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se acha o indivíduo de lhe responder de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patogénicos duradouros que provoca na organização psíquica.”

No entanto, nem toda a experiência de trauma é um acontecimento específico; ele pode ser cumulativo.

Neste caso, uma vez que as causas são menos claras, torna-se mais difícil de lidar.

Conceito importante associado ao de trauma, é o de sinal de angústia.

Laplanche e Pontalis referem:” O sinal de angústia reproduz de forma atenuada a reacção de angústia vivida primitivamente numa situação traumática, o que permite desencadear operações de defesa.”

Segundo P. Casement, quando se considera a revivência do trauma é importante pensar em conjuntos inconscientes.

“Isso dá-nos uma lógica em termos da qual podemos entender como a mente regista inconscientemente elementos particulares como sendo da mesma natureza – porque foram anteriormente vivenciados juntos.

Assim eles passam a ser estabelecidos como relacionados, de forma atemporal e sem excepção.

Para o inconsciente a parte pode representar o todo, logo, qualquer coisa associada a uma situação traumática pode representar o trauma como um todo e pode deflagrar o sinal de ansiedade, alertando a mente inconsciente como se aquela situação traumática estivesse na eminência de se repetir.”

Trauma: “Acontecimento da vida do indivíduo que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se acha o indivíduo de lhe responder de forma adequada.

P. Casement dá-nos um exemplo através de uma vinheta clínica:

Uma menina de dois anos de idade foi levada pela mãe para ser vacinada antes de viajar para o estrangeiro.

Para poder aplicar a vacina na coxa da criança, o médico pediu à mãe para levantar o vestido da filha.

Até aí nada de anormal, à excepção, talvez, da presença desse relativamente estranho – o médico de família.

Mas depois de ficar chocada com a súbita dor da injecção, foram necessários alguns meses para que a criança fosse capaz de recuperar da experiência que parecia estar sempre iminente.

Mais especificamente, ela demonstrava um claro sinal de ansiedade sempre que a mãe tentava trocar-lhe as roupas.

Qualquer tentativa da mãe de levantar o vestido da criança era recebida com gritos.

Uma reacção semelhante era evidente quando se tirava qualquer outra peça de roupa; quanto mais perto da parte inferior do corpo mais intensa era a reacção.

Outras pessoas tinham mais sucesso do que a mãe nessa operação, mas ninguém podia levantar-lhe o vestido.

Podemos ver neste exemplo como várias associações relacionadas com a situação de perigo foram estabelecidas em torno do trauma original.

As mais específicas eram as seguintes: a mãe com a criança ao colo levantando o vestido.

Associações menores também podiam ser identificadas: roupas perto da coxa e pessoas como a mãe.

Era perceptível que a criança tinha mais confiança no pai do que na mãe quando estava no colo.

Mas quando a criança estava no colo de outra pessoa, o pai tornava-se a fonte de ansiedade caso estendesse as mãos para ajudar a tirar a roupa.

O sinal de angústia reproduz de forma atenuada a reacção de angústia vivida primitivamente numa situação traumática.

Por isso, dava a sensação de existirem diferentes níveis de associação a funcionar:

– uma pessoa-colo do sexo feminino era mais temida do que uma pessoa-colo do sexo masculino, particularmente quando associada à tentativa de tirar a roupa.

Também um homem de braços estendidos para ajudar, quando associado à tentativa de tirar roupas, era mais temido do que uma mulher na mesma posição.

Neste exemplo podemos ver que o trauma passou a ser associado a um conjunto de elementos principais:

– estar no colo de uma mulher; roupas removidas ou levantadas; um homem a estender as mãos para fazer algo.

Reconhecendo intuitivamente as associações às quais sua filha reagia, a mãe encontrou uma maneira de lidar com o problema.

Ao colocar a criança na banheira e molhando as roupas, ao invés de tentar despi-la ao colo distanciou-se da situação traumática.

Conseguiu então tirar roupas que estavam molhadas em vez de secas.

Roupas molhadas não tinham participado no trauma original, de modo que essa diferença permitiu à criança aceitar uma nova maneira de se despir, apesar de que remover roupas ainda era parte daquilo que a mãe fazia.

Ela não estava, portanto, evitando completamente a experiência, mas encontrando uma maneira de fazer face a ela – na medida em que a criança estava em condições de a tolerar.

Gradualmente os vínculos associativos tornaram-se mais fracos e as roupas secas também puderam ser removidas: primeiro, removidas quando ela estava sentada numa banheira vazia e, depois, sentada ao colo da mãe.

Fazer Psicoterapia é um Sinal de Sanidade

“Optar pela psicoterapia não é um sinal de perturbação. É o primeiro sinal de sanidade …”

Há muitas coisas que nos fazem resistir de fazer terapia. Existe a ideia de que você tem que ser um pouco louco ou com um grande e estranho problema para fazer terapia.

Pode ser difícil ver que a terapia não é de facto para um grupo selecto e pequeno de pessoas com distúrbios.

É para todos, porque na verdade é completamente normal estar um pouco confuso, um pouco ansioso ou às vezes desafiado por relações, vida familiar e o rumo da carreira.

Então, na verdade, a única condição para fazer terapia é ser um ser humano normal.

A psicoterapia não é apenas uma oportunidade para as pessoas se sentirem genuinamente escutadas. É um espaço relacional que acolhe as angústias de que vão procurando fugir, ao mesmo tempo que as legenda e liga com os aspectos essenciais das suas vidas.

Ataques de Pânico Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Ataques de Pânico

Os ataques de pânico constituem uma tentativa extrema de tornar o desamparo apreensível para o psíquico.

A especificidade metapsicológica do pânico situa-o dentro do campo dos estados em que a angústia é extrema e transbordante.

No pânico, o sujeito parece tentar levar a sua experiência do desamparo ao seu nível mais extremo, mais insuportável, como uma forma de obter um certo domínio sobre ela.

Desse ponto de vista, um ataque de pânico não pode ser concebido como a manifestação directa de uma pura descarga “automática” da energia.

Para quem os experimenta, os ataques de pânico podem parecer absurdos e sem qualquer relação com o resto da sua vida psíquica.

Ser tomado por um ataque de pânico atesta, pois, o reconhecimento inequívoco por parte do sujeito da dimensão de desamparo.

Os ataques de pânico – brutais, incompreensíveis, repetitivos – não parecem remeter a nada senão a eles mesmos, constituindo-se aparentemente uma experiência de pura perda.

Aos olhos de quem os experimenta, tais ataques podem parecer absurdos e sem qualquer relação com o resto da sua vida psíquica.

Os ataques de pânico apresentam-se como “espontâneos” e “incompreensíveis”.

Através do pânico busca-se um certo domínio sobre as realizações possíveis do perigo.

Trata-se, em última instância, de uma estratégia bastante singular de eliminação do horizonte do possível, no qual tudo o que é da ordem do terrível pode, efectivamente, realizar-se.

Tal estratégia consiste em tornar presente, imediato, aquilo que assusta apenas por ser possível.

O pânico distingue-se do terror, estado afectivo caracterizado precisamente pela perda de referências a um lugar de desamparo no psíquico.

No terror, o desamparo é sem limites, está em todo o lugar e todo o momento. O não-senso é a sua marca fundamental.

Já o pânico refere-se aos momentos de vacilação em que os limites que o sujeito reconhece como separando-o de um abismo infinito parecem apagar-se. O terror implica paralisia, entrega de si mesmo ao mortífero. É do lado da vida que se tem pânico.

Bibliografia: Pânico e Desamparo – Mário Eduardo C. Pereira

Pensamento mágico. Pedro Martins Psicólogo clínico Psicoterapeuta

Pensamento Mágico

O termo pensamento mágico designa o pensamento que se apoia numa fantasia de omnipotência para criar uma realidade psíquica …

Identificação Projectiva. Pedro Martins - Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Identificação Projectiva

Em situações desconfortáveis com outra pessoa, por vezes é difícil saber de onde vem o desconforto, de nós ou do outro. …

Adoecer Mentalmente. Pedro Martins Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Adoecer Mentalmente

Adoecer Mentalmente: Durante bastante tempo podemos conseguir lidar suficientemente bem com as coisas. Conseguimos ir trabalhar …