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Daddy Issues

Dizer que alguém tem “Daddy Issues” é uma maneira um pouco depreciativa de aludir a um desejo muito compreensível:

– Ter um pai que é forte e sábio, que é sensato e gentil.

Talvez com alguns defeitos, mas sempre justo e, principalmente, sempre do nosso lado.

É muito compreensível querer ter alguém assim nas nossas vidas, especialmente em momentos difíceis.

Na primeira infância somos particularmente indefesos e necessitamos de protecção.

Somos frágeis e não conseguimos entender o mundo. À nossa volta tudo é novo e fora do nosso controle.

A “fome” de um pai é – nas circunstâncias – totalmente natural.

Um homem adulto, como facilmente se pode compreender, é impressionante para uma criança pequena.

Parece que sabe tudo: a capital da Nova Zelândia, como conduzir um carro, como dizer algumas palavras numa língua estrangeira, como descascar um abacate.

Vai para a cama misteriosamente tarde e levantam-se antes de nós.

Na piscina podemos colocar os braços ao redor do seu pescoço e descansar nas suas costas.

Ele leva-nos nos seus ombros e ajudam-nos a tocar o tecto. É muito além de surpreendente – quando se tem 4 anos…

É muito compreensível desejar ter um pai forte e sábio, sensato e gentil.

O paradoxo dos “daddy issues” é que aqueles que os têm são  (quase sempre) pessoas que não tiveram pais muito bons quando eram pequenos.

Talvez o pai fosse forte, mas em última análise, cruel, intimidador ou desinteressado.

Talvez ele estivesse mais interessado noutro irmão ou no seu trabalho.

Talvez ele estivesse mais afastado, saísse de casa depois de um divórcio ou tenha morrido jovem.

O anseio adulto por um pai não é o resultado de ter tido um bom pai na infância, mas uma consequência de sentimentos de abandono.

O anseio por um pai pode inclinar-nos para alguns padrões de comportamento complicados.

Por mais maduros e cépticos que possamos ser na maioria das áreas, em relação à ideia de protecção masculina permanecemos um pouco como a criança pequena que nós fomos, pois não nos foi permitido amadurecer nessa área.

Secretamente ansiamos por um homem que possa cumprir o papel que ficou por desempenhar.

Ele vai tomar conta de nós. Ele vai tomar decisões, vai ser forte e certeiro, e fazer os nossos problemas desaparecerem.

Ele vai ficar com raiva e agressivo com quem nos faz mal; Ele terá orgulho em nós e amar-nos como nós somos.

A nossa necessidade faz com que procuremos um pai nas amizades, no trabalho e, não menos importante, na política.

O anseio por um pai pode inclinar-nos para alguns padrões de comportamento complicados.

O perigo é que esses “pais” podem, no final, prejudicar gravemente a nossa confiança, pois ninguém tem o poder de apaziguar o tipo de anseios que trazemos.

Eles podem saber muito bem o que queremos e, ingenuamente ou cinicamente prometer preencher essas necessidades, mas gradualmente (por vezes demasiado tarde) percebemos que eles têm mil defeitos, como todos nós.

Podemos perceber que eles não têm uma atitude assim tão nobre. Que os nossos inimigos não se foram.

Que eles não nos podem ajudar. Que não há de facto dinheiro suficiente no mundo para fazer o que prometeram. E que – na verdade – eles realmente não nos amam.

A fantasia da figura “pai” da idade adulta não é de facto um bom pai por uma razão:

– Verdadeiramente, os bons seres humanos sabem que não são tão poderosos e estão felizes em admitir o facto de forma clara e honesta, logo que estamos prontos para receber a notícia – o que acontece normalmente quando temos cerca de doze anos de idade e conscientes de novos poderes e capacidades.

Um bom pai (além dessa idade) não finge ser todo-poderoso.

Confessa que não pode resolver todos os nossos problemas e não pode magicamente salvar-nos de uma infinidade de perigos, não importa o quanto eles o desejem.

O bom pai decepciona-nos logo que somos fortes o suficiente para suportar a realidade.

Por amor, eles desfazem a ideia de que poderia haver um pai perfeito e ideal. Eles tentam o melhor que podem para nos ajudar a crescer.

Secretamente ansiamos por um homem que possa cumprir o papel que ficou por desempenhar.

Se encontrarmos alguém que tem “daddy issues”, a tentação é dizer-lhes para “crescer”, gozar com eles e – em particular – brincar com a figura “daddy” com a qual se podem ter identificado.

Esta não é uma estratégia muito sábia nem muito amável.

Simplesmente tende a enraizar a devoção – porque, sempre que somos atacados, naturalmente, sentimos mais do que nunca a necessidade de protecção de um pai idealizado.

O que realmente precisamos para ultrapassar os “daddy issues” é algo mais parecido com as acções de um pai genuinamente bom:

– Alguém que verdadeiramente reconhece o nosso sofrimento e os nossos medos, que profundamente quer o que é melhor para nós e não é relutante em dizer isso.

Mas que ao mesmo tempo – por amor – quer ajudar-nos a aceitar um mundo confuso e decepcionante.

Um homem que – por amor – nos encorajará a sermos independentes e, especificamente a não fantasiar que qualquer um, por mais imponente que seja, pode fazer o impossível.

Os bons paizinhos nos permitem suportar a verdade de que, no final, não existem “daddys”.

Traduzido e adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton

psicólogo

A esperança

Para muitos de nós a esperança teve um custo muito elevado para voltarmos a apostar nela.

É possível que tenhamos sido expostos a grandes decepções quando éramos mais jovens ou num momento em que estávamos muito frágeis para lidar com elas.

Talvez esperássemos que os nossos pais ficassem juntos mas separaram-se. Ou esperávamos que algo que desejávamos muito acontecesse, mas não aconteceu. Talvez após nos atrevermos a amar alguém e, depois de algumas semanas de felicidade, tudo tenha terminado.

Isso acabou por criar em nós uma profunda associação entre esperança e risco. Daí que possamos viver de forma mais tranquila a decepção, e com receio a esperança.

A solução é lembrarmo-nos que podemos, apesar dos nossos medos, sobreviver à perda da esperança.

Já não somos aqueles que sofreram as decepções que nos levaram a sermos estas pessoas tímidas. As condições que forjaram os nossos receios já não correspondem à nossa vida actual.

O inconsciente pode, como é seu costume, estar a ler o presente através das lentes usadas no passado, mas o que tememos que possa acontecer – na verdade – já aconteceu.

Estamos a projectar no futuro uma catástrofe que pertence a um passado onde nos vimos impossibilitados de responder adequadamente.

Para além disso, o que fundamentalmente distingue a idade adulta, da infância, é que o adulto tem acesso a mais fontes de esperança do que a criança.

Podemos sobreviver a uma desilusão aqui e ali, porque nós já não vivemos numa pequena província, delimitada pela família, o bairro e a escola.

Nós temos um mundo inteiro onde podemos nutrir-nos de uma variedade de esperanças que, inevitavelmente, alguma pode resultar numa desilusão, mas – e essa é a grande diferença – apenas ocasional.

 

Traduzido e Adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton

clínica

Porque a verdade sobre nós pode ser muito difícil…

Porque a verdade sobre nós pode ser muito difícil, somos todos peritos a enganar-nos.

As nossas técnicas são abrangentes, diabólicas e, muitas vezes, extremamente criativas.

Aqui estão algumas das principais manobras que empregamos para atirar areia para os nossos próprios olhos:

DISTRACÇÃO / DEPENDÊNCIA
Podemos encontrar várias coisas que tenham a força suficiente para manter os nossos pensamentos longe dos inquietantes conflitos internos.

O trabalho é uma das favoritas, as notícias são outra, e a terceira, o álcool.

Não apreciamos muito estas actividades em si mesmo.

Nós gostamos delas porque têm a capacidade de nos manter afastados do que tememos.

EXULTAÇÃO
Uma tristeza que não somos capazes de admitir é muitas vezes coberta com doses exageradas de contentamento.

Em comparação, a nossa felicidade não é tão grande quanto a nossa incapacidade de nos deixarmos tocar pela tristeza.

Assim, desenvolvemos uma teimosa tendência para dizer que está tudo muito bem: “Está tudo maravilhoso, não está?!”

A insistência nesta narrativa não deixa espaço para ideias e sentimentos contrários.

Recorremos a várias coisas que têm a força suficiente para manter os nossos pensamentos longe dos inquietantes conflitos internos. O trabalho é uma das favoritas, as notícias são outra, e a terceira, o álcool.

IRRITABILIDADE
A Negação da raiva em relação a uma determinada pessoa ou situação, muitas vezes transforma-se numa irritabilidade generalizada.

Esta mentira é tão bem sucedida que na verdade ficamos realmente impedidos de perceber o que se está a passar.

Acreditamos piamente que estamos a perder a paciência com as coisas:

“Alguém mudou o comando da televisão de sítio, não há ovos no frigorífico, a conta da luz é ligeiramente maior que o esperado…”

Estamos tão fixados neste funcionamento que não conseguimos considerar outras possibilidades.

Os nossos cérebros estão tão cheios de ser tudo tão frustrante e irritante que habilmente não deixamos espaço para nos focarmos na verdadeira questão.

DENIGRAÇÃO
Dizemos a nós mesmos que, simplesmente, não nos importamos com nada.

Seja o amor, a vida profissional/intelectual ou o quotidiano.

E, estamos muito empáticos com a nossa falta de interesse e desprezo pelas coisas.

Fazemos um grande esforço para torná-lo muito claro para os outros e para nós mesmos – estamos completamente despreocupados.

Não há margem para erro. Nós, simplesmente, não nos importamos.

“Eles são todos estúpidos. É um desperdício de dinheiro. Que idiotas.”

Podemos continuar com incessantes explicações altamente respeitáveis e argumentos valiosos sobre as razões de nada nos impressionar.

Sempre muito racionais e objectivos.

Somos mais eloquentes e espertos em eliminar qualquer ideia de que podemos estar interessados em algo, do que a defender tudo o que realmente amamos.

CRITICAR / DESAPROVAR
Nós crescemos a censurar e a desaprovar profundamente certo tipo de comportamentos e de pessoas.

O que não admitimos é que somos tão condenadores porque necessitamos afastar da consciência que uma parte nossa, de facto, gosta daquilo que condena.

Nós atacamos certos gostos sexuais como sendo totalmente depravados – precisamente por sabermos que os compartilhamos em algum lugar dentro de nós.

Ficamos encantados quando determinadas pessoas são apanhadas ou envergonhadas na imprensa; “o que eles fizeram foi totalmente horrível”, insistimos, na nossa indignação que esconde qualquer risco de manchar a conexão entre nós e eles.

Quando os nossos sentimentos ficam muito confusos, na verdade, acabamos por passa-los para outra pessoa.

Ao invés de aceitá-los como os nossos, convencemo-nos que eles só existem nos outros – que nós atacamos e censuramos por os terem.

A Negação da raiva em relação a uma determinada pessoa ou situação, muitas vezes transforma-se numa irritabilidade generalizada.


DEFENSIVIDADE

Quando surge algo de indesejável e nos coloca numa situação complicada, podemos recorrer a uma estratégia altamente eficaz: ficar ofendido.

Um colega tenta dar-nos um ponto de vista, mostrar-nos outro ângulo, mas é instantaneamente acusado de indelicadeza e de arrogância.

Alguém nos aponta algo e ficamos furiosos porque estão a colocar-nos em cheque em algo difícil para nós.

O sentimento de ofendido ocupa-nos por completo.

Deixamos de prestar atenção à situação em si, que apesar de ser correcta é indesejável. Desta forma ficamos impedidos de lidar com ela.

CINISMO/DESESPERO
Estamos tristes com algo mas confrontarmo-nos com isso seria muito difícil.

Assim, generalizamos e universalizamos a tristeza. Não dizemos que o X ou o Y nos deixou tristes.

Dizemos que tudo é terrível e todo mundo é horrível.

Vamos espalhar a dor – de modo a que a nossa dor particular e com causas concretas não possa ser alvo da nossa atenção.

A nossa tristeza é, dessa forma, afastada e diluída no mundo.

Traduzido/Adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton

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