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A Confiança

Uma das razões pela qual a nossa confiança falha está em nos sentirmos muito ansiosos com a possibilidade de perda da nossa dignidade.

Há muitas situações que podem ser bastante interessantes e divertidas, mas também representam um perigo palpável de fazermos figura de parvos.

Se tentarmos beijar alguém, pode ser o começo de algo fantástico, mas também existe o risco que se afastem e pensem que somos idiotas por estupidamente termos presumindo que poderiam estar interessados em nós.

Se formos sozinhos a uma festa onde não conhecemos ninguém, podemos acabar por ter uma noite agradável – mas também é possível que nos sintamos muito sozinhos.

Podíamos em consciência pedir um aumento ou uma promoção, mas algumas pessoas seniores podem ver no nosso pedido um sinal de que estamos errados na avaliação do nosso mérito.

Quando dizemos que nos falta confiança, o que muitas vezes queremos dizer é que normalmente desistimos de oportunidades atractivas, mas incertas, de modo a evitar um possível golpe no nosso orgulho.

O nosso medo decorre da ideia comovente de que precisamos proteger a nossa dignidade para viver bem.

A imagem mental de nós mesmos é de que não somos idiotas – e, portanto, seria terrível se os outros começassem a pensar que somos.

Mas o facto estranhamente útil é que nós definitivamente já somos tontos.

Não porque haja algo particularmente estranho sobre nós como indivíduos: esta é apenas uma verdade básica sobre estar vivo.

É claro que somos estimulados por impulsos irracionais.

É claro que queremos coisas que não vamos conseguir.

Obviamente vamos perder coisas e fazer observações das quais mais tarde nos arrependeremos.

Inevitavelmente, interpretaremos mal certas situações e deixaremos os outros a pensar que somos estranhos.

Isso é o que acontece de forma regular se temos um cérebro humano que vagueia pelo mundo e interage com outras pessoas.

Para a pessoa com pouca confiança, o caminho para diminuir a ansiedade é a admissão firme e inteligente de que já somos tontos e, portanto, temos pouco a perder.

O pior que pode acontecer é os outros reconhecerem o que já reconhecemos como verdade. Assim não seremos afrontados por um ataque à nossa auto-imagem, teremos apenas a confirmação do que sabemos muito bem desde o início.

E – se nós assumirmos o risco – às vezes as coisas vão correr a nosso favor:

– O nosso pedido de promoção será recebido com um sorriso caloroso, faremos um novo amigo, e quem sabe, receberemos aquele beijo.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins
a partir de “On Confidence” – Alain de Botton

psicoterapia

Como Funciona a Psicoterapia e Porquê

O contacto contínuo entre nós e o terapeuta, as sessões semanais que podem continuar durante meses ou anos, contribuem para a criação de algo que soa, num contexto profissional, particularmente estranho: uma relação.

Estamos quase certos que procuramos um terapeuta em primeiro lugar porque, de alguma forma, tornou-se difícil ter relações e não percebermos muito bem porquê:

– Talvez tentemos agradar às pessoas e garantir a sua admiração, mas acabamos por nos sentir pouco autênticos e interiormente entorpecidos e recuamos.

– Talvez nos apaixonemos muito intensamente, mas então, acabamos sempre por descobrir um grande defeito no parceiro que nos faz acabar com a história e reiniciar o ciclo.

A relação com o psicoterapeuta pode ter muito pouco em comum com o tipo de ligações que temos na vida quotidiana.

Não vamos fazer compras juntos nem ver televisão na cama. Mas, inevitavelmente levamos para os encontros com o terapeuta as nossas próprias tendências, que emergem nas nossas relações com outras pessoas das nossas vidas.

Na terapia também podemos ser sedutores, e de seguida frios; ou cheios de idealizações que são seguidas de impulsos para fugirmos.

Excepto que agora, na presença do terapeuta, as nossas tendências têm a possibilidade de serem testemunhadas, discutidas, exploradas com simpatia e – nas suas manifestações mais prejudiciais – superadas.

A relação com o terapeuta é um protótipo do comportamento que temos com as pessoas de forma geral e, assim, permite-nos, com base numa maior autoconsciência, modificar e melhorar a forma como nos relacionamos com os outros.

Na psicoterapia os nossos hábitos e tendências são reconhecidas e podem ser faladas – não como reprovações, mas como informações importantes sobre o nosso carácter do qual merecemos tomar consciência.

O terapeuta (com bondade) assinala que estamos a reagir como se tivéssemos sido atacados, quando ele fez apenas uma pergunta, e pode chamar a nossa atenção para a prontidão com que parecemos querer dizer-lhe coisas que impressionem (ainda que gostem de nós de qualquer maneira), ou como parecemos apressar-nos a concordar ou discordar dele quando está apenas a tentar explorar uma ideia que ele próprio tem dúvidas que esteja certa; sinaliza a nossa propensão a determinar as atitudes ou perspectivas que realmente não tem; pode dar nota de como parecemos estar acometidos pela ideia de que ele está desapontado connosco, ou nos considera chatos.

Com grande discrição, o psicoterapeuta vai salientar a nossa tendência para colocar as pessoas do presente em papéis que derivam do passado e vai procurar connosco as origens das emoções, que provavelmente sentimos em relação às pessoas importantes que cuidaram de nós – e que agora se tornaram naquilo que esperamos de todos.

A relação terapêutica actua como um microcosmos das nossas relações em geral e, portanto, pode ser usada como uma via particular para aprender sobre as nossas tendências mais imperceptíveis.

Ao revivermos os problemas relacionais com um outro empático que não responde como as pessoas comuns, que não gritará connosco, que não se vai queixar, ficar calado ou ir embora, pode ajudar-nos a entender o que andamos a fazer e assim, desenvolvermos novos padrões relacionais.

A relação com o terapeuta torna-se num modelo para a forma como podemos estabelecer relações com os outros no futuro, livres das manobras e dos pressupostos de fundo que carregamos dentro de nós desde a infância, e que nos podem magoar e limitar no presente.

A relação terapêutica pode ser para nós a primeira relação verdadeiramente saudável que temos, onde aprendemos a impedir que se imponham os nossos pressupostos sobre os outros e possamos confiar neles o suficiente para os deixar ver a realidade maior e mais complexa de quem somos, sem vergonha ou constrangimento.

Torna-se um modelo – adquirido numa situação altamente incomum – que começamos a aplicar no mais corriqueiro, até acabar por fazer parte da nossa forma de ser e de estar com os outros.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de:
“How therapy works and why” – Alain de Botton

Why We’re All Messed Up By Our Childhoods

Por que somos todos marcados pela nossa infância?

Ninguém pretende que isso aconteça, é claro, mas em qualquer lugar da nossa infância, a nossa trajectória em direcção à maturidade emocional foi sendo constrangida.

Mesmo que cuidem de nós com sensibilidade e carinho, não escapamos aos primeiros anos das nossas vidas sem sofrer algum tipo de ferimento psicológico – ao qual podemos chamar “ferida primordial”.

As causas da nossa ferida primordial raramente são dramáticas, mas o seu efeito é importante e duradouro.

A infância abre-nos ao dano emocional, em parte porque, ao contrário de outros seres vivos, o Homo sapiens tem um desenvolvimento muito longo e estruturalmente claustrofóbico.

Um potro está em pé trinta minutos depois de nascer. Aos dezoito anos já passámos cerca de 25 mil horas na companhia dos nossos pais.

Mesmo a baleia azul, o maior animal do planeta, é sexualmente madura e independente aos cinco anos de idade.

Mas nós somos mais demorados.

Pode levar um ano até darmos os nossos primeiros passos e dois para verbalizarmos uma frase completa.

São precisas duas décadas para sermos classificados como adultos.

E, entretanto, estamos à mercê dessa instituição altamente particular a que chamamos lar, com supervisores bastante peculiares: os nossos pais.

Ao longo dos Verões e Invernos da nossa infância fomos intimamente moldados pela maneira de ser daqueles que nos rodeiam.

Conhecemos as suas expressões favoritas, os seus hábitos, como reagem quando estão atrasados e a maneira como se dirigem a nós quando estão irritados.

Nós memorizamos as texturas dos tapetes e os cheiros dos armários.

Na meia-idade ainda podemos recordar o sabor de um biscoito que gostávamos de comer depois da escola.

Durante a nossa longa gestação, num sentido físico, estamos completamente à mercê dos nossos cuidadores.

Somos tão frágeis que podemos ser derrubados por um galho. O gato da família é como um tigre.

Precisamos de ajuda para atravessar a estrada, vestir o casaco e escrever o nome.

Mas a nossa vulnerabilidade é essencialmente emocional.

Tal é a nossa fragilidade na infância, que qualquer coisa que nos tenha acontecido é suficiente para nos afectar interiormente de forma profunda.

Não podemos começar a entender as nossas estranhas circunstâncias:

– Quem somos, de onde vêm os nossos sentimentos, por que estamos tristes ou furiosos, como os nossos pais se encaixam num esquema mais amplo e porque se comportam de certa forma.

Nós, necessariamente, tomamos o que as pessoas grandes que nos rodeiam dizem como uma verdade inquestionável.

Estamos condenados a estar enredados nas suas atitudes, ambições, medos e inclinações.

Sendo crianças, não temos como evitar isso. Nós somos muito frágeis. Se um pai nos gritar, as fundações da terra tremem.

Não podemos dizer que algumas das palavras ásperas não foram inteiramente justificadas, ou tiveram origem num dia complicado no trabalho ou são repercussões da própria infância do adulto.

Simplesmente sentimos como se um gigante todo-poderoso tenha decidido, por boas razões (ainda que desconhecidas) que devemos ser passados a ferro.

Nem podemos entender, quando um pai vai embora no fim-de-semana, ou se desloca para outro país, que não nos deixaram porque fizemos algo errado ou porque não merecemos o seu amor, mas porque nem sempre os adultos controlam os seus próprios destinos.

Se os pais estão na cozinha a falar num tom mais alto, pode parecer que essas duas pessoas se odeiam.

A altercação que as crianças ouvem pode ser sentida como catastrófica, como se tudo o que é seguro se estivesse a desintegrar.

Não há evidências em nenhum outro lado da compreensão da criança de que as discussões são uma parte normal dos relacionamentos.

E que um casal pode estar totalmente comprometido na relação ao longo da vida e, ao mesmo tempo, expressar com força o desejo de que o outro possa ir para o inferno.

As crianças são igualmente impotentes diante das várias teorias dos pais.

Elas não conseguem entender a resistência dos pais a juntarem-se com outras famílias da escola, ou a forma particular de se vestirem, ou porque se preocupam tanto com as limpezas e com os atrasos e como elas representam uma compreensão muito parcial das prioridades.

As crianças não têm emprego. Elas não podem ir para outro lugar. Elas não têm uma rede social alargada. Mesmo no seu melhor, a infância é uma espécie de prisão aberta.

Como resultado das peculiaridades desses primeiros anos, adquirimos a nossa maneira de ser.

Uma das características dos desequilíbrios que decorrem de feridas na infância é que não revelam de forma clara as suas origens.

As coisas dentro de nós começam a crescer em direcções estranhas.

Sentimos que não podemos confiar facilmente, ou temos que manter a sala limpa, ou ficamos incomodados com pessoas que levantam a voz.

Não é preciso que alguém faça algo particularmente chocante, ilegal, sinistro ou perverso para fazermos grandes distorções.

As causas da nossa ferida primordial raramente são dramáticas, mas o seu efeito é importante e duradouro.

Tal é a nossa fragilidade na infância, que qualquer coisa que nos tenha acontecido é suficiente para nos afectar interiormente de forma profunda.

Conhecemos bem a questão através das tragédias. Nos trágicos contos dos antigos gregos, não são os enormes erros e deslizamentos que desencadeiam o drama: são os erros mais ínfimos e inocentes.

A partir de pontos de partida aparentemente menores, as consequências terríveis desenrolam-se.

As nossas vidas emocionais são igualmente trágicas na estrutura. Todos à nossa volta podem estar a tentar fazer o melhor para nós como crianças e, no entanto, acabamos agora, como adultos, a tratar de grandes feridas que continuam a impedir-nos de ser o que poderíamos ser.

Por último, e de forma mais pungente, uma das características dos desequilíbrios que decorrem de feridas na infância é que não revelam de forma clara as suas origens, nem para as nossas próprias mentes, nem para o mundo em geral.

Não temos a certeza das razões porque fugimos tanto, ou porque ficamos chateados com tanta frequência, ou porque temos um ar orgulhoso e arrogante, ou nos subjugamos ou apegamos excessivamente às pessoas que amamos. Simplesmente, assumimos que é assim que somos.

Uma vez que as fontes dos nossos problemas nos escapam, não conseguimos compreender porque as pessoas são como são e assim perdemos uma fonte vital da simpatia.

Os nossos problemas começam com uma ferida que, se fosse conhecida e explicada de forma adequada, favoreceria, naturalmente, uma terna compreensão.

Mas porque as consequências que gera tendem a ser muito menos atraentes e faltam explicações, ficamos abertos ao desdém, ao sarcasmo e à auto-desvalorização.

A nossa ferida pode ter começado com um sentimento de invisibilidade, mas agora parece que somos apenas show-off.

Talvez tenha começado com uma decepção, mas agora queremos controlar tudo loucamente.

Talvez tenha começado com um bullying, um pai competitivo, mas agora parece que estamos simplesmente sem forças.

Nós tornamos as nossas vidas mais difíceis do que deveriam ser, porque insistimos em olhar para as pessoas, nós mesmos e os outros, como um mal e um meio, em vez de as vermos como vítimas, tal como nós, de uma história inicial extremamente complicada.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de:
“Why We’re All Messed Up By Our Childhoods” – Alain de Botton

psicoterapeuta

Os três estados do Amor

O amor é o nosso valor mais elevado, o que todos desejamos e acreditamos, nos torna fundamentalmente humanos. No entanto, também é fonte de considerável ansiedade. Principalmente porque estamos preocupados em saber se amamos de forma correcta.

A sociedade é subtil e altamente prescritiva a este respeito. Isso sugere que, para sermos uma pessoa conforme, devemos estar disponíveis para o sexo e, além disso, devemos “amar” de uma maneira muito particular: devemos estar constantemente entusiasmados com a presença do nosso parceiro, devemos estar ansiosos por vê-lo depois de cada ausência, devemos querer mantê-lo nos nossos braços, beijar e ser beijados e – acima de tudo – desejar fazer sexo quase todos os dias. Por outras palavras, devemos seguir o roteiro do êxtase romântico ao longo das nossas vidas.

Isso é bonito em teoria mas extremamente punitivo na prática. Se quisermos definir este amor como estando de acordo com a normalidade, a maioria de nós terá que admitir (com considerável constrangimento) que não está muito por dentro do amor – e, portanto, não se encontra entre as pessoas saudáveis ou normais.

Criámos um culto do amor que contrasta radicalmente com a maioria das nossas verdadeiras experiências dos relacionamentos.

É aí que os antigos gregos nos podem ajudar. Eles cedo perceberam que existem muitos tipos de amor, cada um com as suas respectivas fases e virtudes.

Os gregos atribuíram aos poderosos sentimentos físicos que muitas vezes experimentamos no início de um relacionamento a palavra ‘eros’ (ἔρως). Eles sabiam que o amor não está necessariamente acabado quando essa intensidade sexual diminui, como quase sempre ocorre após um ano ou mais de relacionamento.

Os nossos sentimentos podem evoluir para outro tipo de amor que eles resumiram com a palavra “philia” ( φιλία ), normalmente traduzido como “amizade”, embora a palavra grega seja muito mais calorosa, mais leal e mais tocante; Podemos estar dispostos a morrer por ‘philia’. Aristóteles recomendou que superássemos o eros na juventude e, em seguida, alicerçar os nossos relacionamentos – especialmente os casamentos – numa filosofia de philia.

Os gregos tinham uma terceira palavra para o amor: “agape” ( ἀγάπη), que pode traduzida como um amor caridoso. É o que podemos sentir em relação a alguém que se comportou mal, ou que está triste devido às suas falhas de carácter – mas por quem ainda sentimos compaixão. É o que um Deus pode sentir pelo seu povo, ou o que o público pode sentir por uma personagem trágica numa peça de teatro. É o tipo de amor que experimentamos em relação à fraqueza de alguém. Isso lembra-nos que o amor não é apenas sobre a admiração pelas virtudes, é também sobre simpatia e generosidade em relação ao que é frágil e imperfeito em nós.

Tendo estas três palavras à mão – eros, philia e agape – ampliamos poderosamente a nossa compreensão do amor. Os gregos antigos eram sábios em dividir o amor nas suas partes constituintes.

Sob a sua tutela, podemos ver que provavelmente temos muito mais amor nas nossas vidas do que nosso vocabulário actual reconhece.

Traduzido e adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton – Why We Need the Ancient Greek Vocabulary of Love

o problema da assimetria psicológica psicoterapia

O Problema da Assimetria Psicológica

Um dos factos mais básicos sobre a condição humana é que nos conhecemos por dentro, mas dos outros conhecemos apenas aquilo que eles escolhem ou são capazes de nos dizer, ou seja, um conjunto de dados muito limitado e editado.

Estamos continua e intimamente expostos às nossas próprias preocupações, esperanças, desejos e memórias – muitas das quais são extremamente intensas, estranhas ou tristes.

No entanto, quando se trata dos outros, estamos restritos a conhecê-los através do que revelam publicamente, do que podem ou querem revelar.

As dicas e pistas que nos deixam são vias muito imperfeitas para a realidade da existência de outra pessoa.

Em consequência desta assimetria psicológica pensamos em nós mesmos como muito mais peculiares, envergonhados e amedrontados do que as outras pessoas que conhecemos.

Os resultados da assimetria psicológica são a solidão e a timidez.

As nossas experiências sexuais, de ansiedade, raiva, inveja e de angústia parecem ser muito mais intensas e perturbadoras do que as de qualquer pessoa próxima.

Na verdade não somos, é claro, realmente tão estranhos: apenas sabemos muito mais sobre quem somos.

Os resultados da assimetria psicológica são a solidão e a timidez. Somos assaltados pela solidão porque não podemos imaginar que os outros anseiam e desejam, invejam e odeiam, suplicam e choram como nós.

Sentimos que somos empurrados para um mundo de estranhos, diferentes de todos aqueles com quem vivemos – e, em potência, fundamentalmente ofensivos para todos aqueles que possam conhecer-nos bem.

Parece que nos momentos sombrios, ninguém poderia conhecer-nos e ainda assim, gostar de nós.

Ficamos retraídos e facilmente intimidados por pessoas que assumimos não podem compartilhar as nossas vulnerabilidades, e que imaginamos serem totalmente incapazes de se relacionar com os pensamentos mesquinhos, grandiosos, perversos ou idealistas que passam nas nossas mentes.

Se alcançamos posições importantes sentimo-nos como impostores, acossados pela impressão de que as nossas peculiaridades separam-nos dos outros que ocuparam papéis comparáveis no passado.

O Amor dá-nos um sentido ocasional e profundamente precioso de segurança para revelar quem realmente somos a outra pessoa.

Nós crescemos de forma muito convencional, imitando o que vimos nas outras pessoas na falsa suposição de que isso é o que eles podem realmente ser interiormente.

As soluções para a assimetria psicológica encontram-se em dois lugares: Arte e Amor.

A arte fornece-nos retratos precisos da vida interior de estranhos e, com graça e charme, mostra-nos o quanto eles compartilham de problemas e esperanças que pensamos que poderíamos ser só nossas.

O Amor dá-nos um sentido ocasional e profundamente precioso de segurança para revelar quem realmente somos a outra pessoa e a oportunidade de aprender sobre a sua realidade a partir de uma posição de extrema proximidade.

Para superar os efeitos da assimetria psicológica, devemos constantemente confiar – especialmente na ausência de qualquer evidência – que os outros estão, provavelmente, muito mais próximos daquilo que somos (isto é, muito mais tímidos, mais assustados, mais preocupados e mais incompletos) do que aquilo que mostram ao mundo.

Felizmente, nenhum de nós é tão estranho, ou tão especial, quanto podemos supor ou temer.

Traduzido e adaptado por Pedro Martins a partir de:
“The Problem of Psychological Asymmetry” Alain de Botton

psicoterapia lisboa pedro martins

Porque é que você vai casar com a pessoa errada

É claro que estamos desesperados para evitar isso, mas não o faremos por muito boas razões:

1 – Nós não nos compreendemos bem
Somos todos loucos de maneiras muito particulares: neuróticos, desequilibrados, imaturos… Mas não sabemos bem porque somos assim e ninguém nos encoraja o suficiente para descobrirmos. Os nossos amigos querem ser simpáticos e estão mais virados para se divertirem connosco. Os nossos inimigos não se dão ao trabalho. Então, acabamos por ter um nível muito baixo de auto-conhecimento e não fazemos nenhuma ideia sobre quem possa ser compatível connosco.
A pergunta padrão de um primeiro encontro deveria ser: de que forma tu és louco? Mas é tão difícil saber…

2 – Nós não percebemos as outras pessoas
É difícil aceitar a loucura dos outros como aceitamos a nossa. No início eles mostram, naturalmente, o seu melhor. O ideal seria colocar todo o mundo a realizar uma bateria de testes psicológicos e a fazer 4 anos de terapia individual e de casal antes de tomar uma decisão. Em 2100 esta ideia vai soar a piada – vão perguntar porque a humanidade demorou tanto tempo para chegar aqui.

3 – Não estamos acostumados a sermos felizes
Pensamos que queremos ser felizes, mas o que realmente queremos é aquilo a que estamos acostumados – e isso, no geral, inclui não ser feliz. Ao crescermos muitos de nós tivemos sentimentos sombrios e problemáticos: sentimo-nos controlados, humilhados ou abandonados. Em resumo: sofrimento. E agora, independentemente do que dizemos, na maioria das vezes, continuamos a procurar o conhecido. Isso explica porque rejeitamos os candidatos equilibrados, maduros, confiáveis e, de alguma forma, um pouco “chatos”, e porque nos inclinamos secretamente para aqueles que (inconscientemente sabemos) irão tropeçar nas coisas mais óbvias.

4 – Ser solteiro é péssimo
É preciso ter uma certa tranquilidade num sábado, para lidar com o reboliço da noite e a efervescência do desejo sexual para conseguir ser exigente. Não é por acaso que a maioria de nós fecha os olhos e arranja uma pessoa qualquer.

5 – O instinto tem mais prestígio do que deveria
O casamento era uma decisão racional. Tinha a ver com uma parcela de terra. Tudo era combinado entre as famílias. Era horrivelmente frio e calculista. Agora temos os “casamentos românticos”. É preciso que seja sobre aquilo que sentimos. Não se pode pensar demais. Se paramos para analisar a situação, imediatamente, deixa de ser romântico. Na verdade, a coisa mais romântica seria fazer um repentino pedido de casamento, depois de apenas algumas semanas de relação, numa capela em Las Vegas às 3 da manhã.

6 – Nós não frequentamos “Escolas do Amor”

Nós não temos nenhuma informação. Não temos aulas. Não falamos abertamente com pessoas casadas e evitamos os divorciados. Então avançamos sem saber porque é que os casamentos realmente fracassam – e achamos que é por causa da simples estupidez de todos aqueles casais com quem não temos nada em comum.

7 – Congelar a felicidade
Nós queremos que as coisas boas sejam permanentes… Aquele passeio de gôndola em Veneza com o sol a refletir na água; jantar maravilhosamente num pequeno restaurante, perdidos numa enorme paixão. Então, nós casamos para que esse sentimento dure para sempre. Mas depois tudo se esfuma e a única coisa que fica é o nosso parceiro, mas agora, parece outro.

8 – Você quer parar de pensar no amor
É tão doloroso! A tristeza, os encontros, os envolvimentos de uma noite… Como queremos terminar com tudo isso, acabamos por casar para parar de pensar constantemente no amor.

Estes são os motivos pelos quais você irá casar com a pessoa errada – se já não o fez.

Mas a culpa não é totalmente sua. Ninguém nos ensina. Então, é claro que nos estatelamos.

Nós, como espécie, eventualmente aprenderemos. Esta loucura inconsequente não pode continuar. Muitas pessoas vão magoar-se. Daqui a umas centenas de anos, pelo menos, encontraremos uma forma de resolver isto – com toda a certeza.

Traduzido e adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton

emagrecer

Por que comemos demais?

É claro que muitos de nós comemos demais. E em resposta, cresceu uma enorme indústria que nos aconselha a consumir e proporciona tudo o que existe de mais saudável.

Mas isso é não compreender de todo porque começámos a comer quantidades excessivas. Não tem nada a ver com comida, e, portanto, tentar mudar a nossa dieta não é o foco mais lógico para concentrar os nossos esforços. Nós comemos muito porque estamos realmente com fome daquilo que não está disponível.

Parece natural que tudo o que poderíamos querer deveria estar à mão. Os supermercados e as lojas gourmet são templos icónicos da sociedade de consumo e os restaurantes não se poupam a esforços para nos satisfazer.

Poderíamos ser tentados por uma mariscada? Ou uma selecção de vegetais regionais regados com azeite proveniente de uma pequena quinta nos Pirinéus?

Mas se pudéssemos realmente escolher será que não quereríamos um menu ligeiramente diferente? Por exemplo:

Conversa sincera com o pai, marinada em perdão mútuo.
– Amor maternal carinhoso * (* adequado para aqueles que estão em dieta livre de críticas).
– Amizade madura servida com farripas de memórias.
– Conversa fresca, polvilhada com boa disposição (para dois).
– Flirt ao natural (o nosso Sommelier recomenda, como acompanhamento ideal, um copo de Chateau Fantaisie).

E para a sobremesa, talvez:

– Uma generosa fatia de cumplicidade com chocolate derretido.
Ou:
– Enternecidos momentos de compaixão, acompanhados com lágrimas de compreensão (especialidade da casa)

Por outras palavras, não é comida que desejamos.

Os menus dos nossos restaurantes (apesar de tentadores) conduzem-nos em direcções muito limitadas e restritas. Eles entendem – e respondem – apenas a um segmento estreito dos nossos verdadeiros apetites.

Na verdade, falamos muito de comida e tão pouco do que necessitamos. Não é de marisco, queijo da serra ou picanha do Brasil que nós precisamos, mas de amizades onde possamos confessar as nossas ansiedades, sermos ouvidos e perdoados; Precisamos de ajuda para nos acalmar em momentos-chave, assegurando que podemos suportar o pior que possa estar a acontecer. Precisamos de alguém que nos possa ajudar a descobrir os nossos verdadeiros talentos no local de trabalho e oferecer-nos um guia para alcançar nosso verdadeiro potencial.

Sabemos que não é num pacote de batatas fritas ou numa fatia de pizza que está a resolução do problema mas não sabemos para onde nos virar e temos, pelo menos, uma satisfação imediata.

A tragédia não está no nosso apetite insaciável, mas na dificuldade em ter acesso às coisas emocionais e psicológicas para alimentar as nossas almas desnutridas.

A indústria alimentar tem travado os sintomas da nossa infelicidade, não as suas causas – e, portanto, as soluções que oferece são frágeis e temporárias.

Há umas centenas de anos era quase impossível para a maioria das pessoas a encontrar algo delicioso para comer. Desde então, uma grande quantidade de engenho humano tem sido dedicado a seduzir o paladar. Nós conseguimos ir muito além das nossas expectativas. Mas em tantas outras áreas, mal começámos a suprir o que ansiamos consumir, que são, para dizer mais claramente: compreensão, ternura, perdão, reconciliação e proximidade.

Nós não comemos muito porque somos insaciáveis, mas porque vivemos num mundo onde as prateleiras ainda estão vazias dos ingredientes que verdadeiramente desejamos.

Adaptado e traduzido por Pedro Martins a partir
de Alain de Botton

o perigo das crianças perfeitas

Os perigos das crianças perfeitas

As crianças “perfeitas” fazem os trabalhos de casa a tempo e horas, mantêm o quarto arrumado, são um bocadinho tímidas, estão sempre prontas para ajudar os pais e são muito cautelosas nas suas brincadeiras.

Uma vez que não levantam muitos problemas, tendemos a assumir que está tudo bem com as crianças bem comportadas.

Não são razão para uma preocupação particular. Essa atenção é dirigida às crianças que fazem asneiras.

As pessoas imaginam que as crianças bem comportadas estão bem porque fazem tudo o que se espera delas.

E é precisamente aí que está o problema. As tristezas secretas – e as dificuldades futuras – da menina ou menino bonzinho começam com a excessiva necessidade de satisfizer.

As crianças “perfeitas” não são “perfeitas” por um capricho da natureza, mas porque não têm outra opção.

A sua bondade é uma necessidade ao invés de uma escolha.

Assumimos que está tudo bem com as crianças bem comportadas porque não levantam problemas.

Muitas das crianças “perfeitas” são boas por amor a um pai deprimido que não consegue lidar com mais complicações ou dificuldades.

Ou talvez sejam muito bem comportadas para acalmar um pai violento que se poderia tornar insuportavelmente assustador perante qualquer sinal de conduta menos do que perfeita.

Ou talvez os pais sejam muito ocupados e distraídos e só sendo muito boa criança, poderia esperar conseguir atenção dos pais.

Embora a repressão de emoções produza uma obediência agradável a curto prazo, armazena uma enorme quantidade de dificuldades na vida adulta.

Os educadores e os pais mais experientes devem detectar os sinais de gentileza exagerada – e lidar com eles de acordo com o risco que representam.

As crianças “perfeitas” dizem palavras adoráveis e são especialistas em satisfazer as expectativas dos seus públicos, mas os seus pensamentos e sentimentos reais permanecem soterrados.

Nesse sentido, podem viver numa amargura corrosiva, apresentar sintomas psicossomáticos e surtos repentinos.

Os educadores e os pais mais experientes devem detectar os sinais de gentileza exagerada.

O problema da criança boazinha é que ela não tem a experiência de que as outras pessoas são capazes de tolerar a sua maldade.

Elas perderam um privilégio vital concedido à criança saudável:

– O de ser capaz de mostrar os seus lados invejosos, gananciosos, ego-maníacos e, apesar disso, ser tolerada e amada.

As pessoas do género “irrepreensível”, normalmente, apresentam problemas particulares em torno da sexualidade.

Em criança podem ter sido elogiadas por serem puras e inocentes.

No entanto, quando se tornam adultos, como todos nós, descobrem os arrebatamentos do sexo.

E podem encontrar excitação em situações que aos seus olhos podem ser repugnantes e perversas mas indescritivelmente prazerosas.

Isto pode contrastar radicalmente com a imagem do que eles estão “autorizados” a ser.

Podem, em resposta, negar os seus desejos, ficarem frios e desprendidos dos seus corpos – ou cederem aos seus anseios apenas de uma forma desproporcional, que seja destrutiva para outras partes das suas vidas.

As crianças “perfeitas” são especialistas em satisfazer as expectativas dos outros.

No trabalho, o adulto exemplar também vai ter problemas. Tal como as criança, eles seguem as regras.

Nunca arranjam problemas e tomam muito cuidado para não irritar ninguém.

Mas, como sabemos, quem segue todas as regras não chega muito longe na vida adulta.

Quase tudo o que é interessante, que vale a pena fazer, vai encontrar um certo grau de oposição.

Estar devidamente maduro envolve uma relação franca e sem medo com a própria escuridão, complexidade e ambição.

Envolve aceitar que nem tudo o que nos faz felizes agradará aos outros ou será honrado como particularmente “agradável” pela sociedade -, mas, apesar de tudo, pode ser importante para nos mantermos ligados.

O desejo de ser bom é uma das coisas mais bonitas do mundo, mas para ter uma vida verdadeiramente boa, às vezes precisamos ser (com os padrões da boa criança) frutífera e corajosamente mauzinhos.

Traduzido/Adaptado por Pedro Martins
a partir de Alain de Botton

auto-sabotagem psicoterapia

Auto-Sabotagem

É normal assumir que vamos procurar de forma activa a nossa felicidade, especialmente, em duas grandes áreas que nos podem conferir grande satisfação:

– os relacionamentos e a carreira profissional.

Daí ser estranho e até um pouco irritante descobrir que com muita frequência, alguns de nós, agimos como se estivéssemos deliberadamente a tentar arruinar as nossas hipóteses de obter aquilo que queremos.

Quando saímos em encontros amorosos com pessoas que nos parecem bons candidatos, por vezes, de forma súbita, iniciamos um comportamento demasiado opinativo, ou confrontador de forma desnecessária.

Não temos grande dificuldade em ser charmosos com pessoas pelas quais não temos assim tanto interesse.

No entanto, podemos afastar os nossos parceiros através da repetição de acusações ou explosões de raiva, como se de alguma forma desejássemos criar uma situação desagradável e triste, em que os nossos amados, exaustos e frustrados, se vissem forçados a abandonar-nos.

Apesar de gostarem de nós são incapazes de aturar tanto drama.

Podemos preferir escolher o que nos é familiar, mesmo que seja mau, em detrimento daquilo que é bom.

No trabalho podemos prejudicar a hipótese de sermos promovidos quando, sem motivo aparente, depois de muitos anos promissores, entramos em conflito com as chefias, ou falhamos na elaboração atempada de relatórios importantes.

Esse comportamento não pode ser explicado como sendo produto do azar.

Ele merece uma designação mais forte e intencional: Auto-Sabotagem.

O que pode explicar esse comportamento auto-destrutivo?

Em grande medida, a forma como a simples e enervante felicidade, por vezes, nos faz sentir.

Ainda que a felicidade seja claramente aquilo que fundamentalmente desejamos, para muitos de nós ela não corresponde àquilo que nós conhecemos:

– – Nós crescemos e aprendemos a acalmar-nos noutros cenários.

A possibilidade de sermos felizes, quando finalmente se concretiza, pode, por esse motivo, parecer contra-intuitiva e até mesmo assustadora.

Não corresponde ao que nos é familiar, e, não nos faz “sentir em casa”.

Podemos por isso preferir escolher o que nos é confortável e familiar, mesmo que seja pior, em detrimento daquilo que se apresenta como, estranhamente, satisfatório ou bom.

Atingir aquilo que desejamos pode ser insuportavelmente arriscado. Deixa-nos à mercê da fé, de nos entregarmos à esperança e à subsequente possibilidade de perda.

A Auto-Sabotagem pode causar tristeza, mas ao mesmo tempo fazer-nos sentir seguros por estarmos a controlar as coisas.

Pode ser útil recordar e usar o conceito de Auto-Sabotagem quando interpretamos o comportamento bizarro dos outros ou o nosso.

Devemos suspeitar sempre que nos apercebemos que estamos a comportar-nos de forma errática na companhia de pessoas que no fundo gostamos ou às quais queremos causar boa impressão.

Para além disso, quando confrontados com certas atitudes cruéis ou irresponsáveis por parte dos outros devemos ter a coragem de imaginar que as coisas, possivelmente, não são o que aparentam ser.

Podemos estar a observar não um opositor malévolo mas alguém ferido – de forma quase comovente – a praticar Auto-Sabotagem, e que, por isso, merece alguma paciência da nossa parte. Ao mesmo tempo, ser gentilmente persuadido a parar com a agressão contra si próprio.

Devemos tranquilizar-nos e a ajudar os outros a ver quão complicado e irritante pode ser a aproximação às coisas que verdadeiramente desejamos.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton

psicoterapia depressão

A Depressão e a impossibilidade de expressar a raiva

Às vezes somos varridos por um clima de tristeza que parece não ter nenhuma causa.

Acordamos desanimados e apáticos. Falta-nos energia e um sentido.

As coisas perdem o sabor e os menores desafios tornam-se incontestavelmente pesados.

Lutamos para tentar ver sentido em qualquer coisa.

Estamos – como os médicos dizem – num estado de depressão severa.

A depressão pode estar relacionada com uma raiva que não encontrou forma de se expressar.

Uma das descobertas sobre a depressão foi encontrada em trabalhos de psicanálise.

Segundo esses  estudos a depressão pode não estar unicamente relacionada com a tristeza.

Mas ser uma espécie de raiva que não tem sido capaz de encontrar forma de expressão e nos deixa tristes com tudo e com todos.

Quando, na verdade, estamos apenas irritados com certas coisas e pessoas específicas.

Se ao menos pudéssemos entender a nossa decepção e raiva mais intimamente poderíamos, eventualmente, recuperar a nossa paz.

Como é possível estarmos profundamente zangados e ainda assim não conhecermos as causas ou o sentido do nosso aborrecimento?

No entanto, essa falta de autoconhecimento não é, em termos de nosso funcionamento mental, inteiramente surpreendente ou anómala.

Nós somos endemicamente maus para perceber a origem e a natureza de muitos dos nossos sentimentos, e não apenas no que diz respeito à tristeza e à raiva.

Mas há uma razão mais forte, pela qual podemos perder o contacto com a nossa raiva:

– fomos ensinados, provavelmente desde a infância, que não é muito agradável estar com raiva.

A raiva viola a imagem de nós mesmos como pessoas gentis e solidárias.

Pode ser muito doloroso e culpabilizante reconhecer que podemos sentir-nos furiosos e vingativos, principalmente, em relação às pessoas que amamos.

O que nos irrita também pode ser considerado absurdo.

Há pessoas que nunca se atreveram a levantar as suas vozes e amargamente tiveram de engolir as mágoas.

Talvez tenhamos sido feridos pelo tipo de coisa que pode ser vista como “insignificante” e que aprendemos a não prestar atenção porque nos imaginamos fortes e acima de sermos afectados por pequenas coisas.

Por fim, podemos não conseguir ficar zangados porque à nossa volta não assistimos às vantagens da expressão da raiva.

Podemos associar a palavra à destruição, a uma loucura tão perigosa quanto contraproducente.

Ou então vivemos muito tempo rodeado de pessoas que nunca se atreveram a levantar as suas vozes e amargamente tiveram que engolir as mágoas.

Não é a existência per se que nos deixou em baixo, mas alguns eventos particulares e actores cuja identidade perdemos de vista.

No luto transformamos a tristeza ilimitada e inominável numa dor concreta

O caminho para sair desse tipo de depressão é perceber que a alternativa não é a alegria, mas o luto.

O luto é uma palavra útil para indicar um tipo focalizado de sofrimento sobre um tipo identificável de perda.

Ao estarmos “enlutados”, transformamos a tristeza ilimitada e inominável numa dor muito mais específica:

– uma dor sobre o pai que não estava lá para nós, sobre o irmão que nos humilhou, o amante que nos traiu, o amigo que mentiu.

Não passa necessariamente por sair e confrontar estas pessoas (algumas delas podem até já estar mortas), mas reflectir sobre o que aconteceu e tomar consciência da dimensão da nossa raiva e do fardo que ela representa.

É possível que isso implique levantar alguma poeira sobre certos relacionamentos e episódios na nossa mente, mas rapidamente a vida como um todo se torna mais manejável e esperançosa.

Traduzido/Adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton

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