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Psicoterapia

Raiva Narcísica Pedro Martins - Psicoterapeuta Psicólogo Clínico

Raiva Narcísica

A raiva narcísica é uma agressividade maligna, oriunda do ódio ou da hostilidade e geradora da mais temível, destruidora e verdadeira violência – porque uma violência que não pára, dificilmente se esgota e permanentemente se reconstitui.

Esta agressividade é uma reacção ao amor-próprio ferido, ou melhor, à ferida do amor-próprio.

Ao homem não lhe chega ser amado. Precisa não só de amor, como de apreço, admiração, consideração e respeito.

A primeira condição para a organização de uma regular auto-estima, de um normal narcisismo, é o facto – o acontecimento – de ser amado, de ter sido bem-amado. Só tendo sido amado, o indivíduo se ama a si próprio; e amando-se a si mesmo, pode amar o outro.

Mas ao homem não lhe chega ser amado – ter a certeza que tem um lugar no coração daqueles que ama. Precisa – como de pão para a boca -, não só de amor, como de apreço e até de admiração; assim como de consideração e respeito.

Frustrar a pessoa nesta necessidade narcísica é desencadear-lhe uma raiva – dita raiva narcísica – que, inundando toda a personalidade, vai alimentar profundos sentimentos agressivos, traduzidos por inveja, desprezo e desejo de eliminação dos considerados superiores.

O indivíduo com baixa auto-estima é sempre um potencial agressor.

Humilhado, o indivíduo desenvolve uma ferocidade silenciosa mas altamente destruidora e mesmo mortífera.

O acúmulo de ferimentos narcíseos torna o indivíduo mais sensível aos ataques à auto-estima e menos resistente aos seus efeitos devastadores no tónus narcísico (auto-estima básica).

Forma-se uma estrutura narcísica de baixa imunidade e de debilidade narcíseas – com grande intolerância às injúrias ao amor-próprio e um despertar fácil de comportamentos agressivos.

O indivíduo com baixa auto-estima é sempre um potencial agressor. Basta que se conjuguem a provocação e a condição de ser ou se julgar o mais forte.Por aqui se vê quão perigoso é socialmente.

Perigosidade maior porque ataca sempre o mais fraco dado o seu sentimento de inferioridade. É deste terreno que saem os tiranos, os pais violentos e os chefes despóticos.

A criança adquire muito cedo a noção do que é justo ou injusto. Tratada com injustiça, desenvolve um profundo ressentimento.

O ressentimento conduz ao desejo de vingança e à necessidade de reparação (de ser reparado). A acumulação de ressentimento conduz a uma atitude paranóide, querelante e reivindicativa.

DEFINIÇÃO E GÉNESE

A raiva narcísica é a fúria desencadeada pela frustração intolerável. Em face da expectativa enganadora que lhe foi criada pelo outro (falsa promessa), sobretudo quando reiterado, o indivíduo reage com grande sentimento de raiva; sente-se ludibriado.

Muito mais que a privação ou a perda afectiva, o que está em causa na génese do ódio e da raiva é a frustração, designadamente a frustração afectiva: o não aparecimento do amor anunciado.

A vivência repetida ou crónica de frustração afectiva é, por conseguinte, a matriz da hostilidade.

DESENVOLVIMENTO

A desvalorização e desqualificação, a ridicularização e a humilhação vão, seguidamente, condicionar o desenvolvimento da raiva narcísica.

É, com efeito, pela acção destas atitudes do outro ou dos outros que a ferida narcísica se vai alargando, cronicizando, transformando uma verdadeira chaga.

E assim se vai criando um sentimento crónico de orgulho/amor-próprio feridos, alimentando uma raiva constante, sempre pronta a desfechar em violência destrutiva e mortífera.

O homem não nasce violento. É a sociedade que o faz violento.

Porém, pela sua extensa memória, o seu amor-próprio e o seu sentimento de justiça, é potencialmente o ser mais violento.

Está nas mãos da cultura envolvê-lo de afecto, apreço e respeito, e, assim, atacar as raízes da violência.

Bibliografia:

– “Violência Inconsciente” – A. Coimbra de Matos

– “Génese, desenvolvimento e reprodução da violência” – A. Coimbra de Matos

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