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O seu psicoterapeuta é demasiado simpático?

O artigo Is your therapist to nice? fez-me recordar uma expressão que vem dos tempos da faculdade: “Terapia de Chá e Bolinhos”, e que diz respeito às psicoterapias em que os pacientes saem sempre felizes e contentes da sessão; com o sentimento de estarem em perfeita sintonia com o psicoterapeuta e de receberem excelentes conselhos para resolver os seus problemas.

O seu terapeuta concorda sempre consigo? Está constantemente a elogiá-lo? Sorri e gesticula com frequência em sinal de aprovação? Já reparou que sai quase sempre bem-disposto da sessão? Estes podem ser sinais de que o seu terapeuta é solidário, empático, cuidador e preocupado com o que se passa consigo, ou, sinais de que o seu terapeuta é excessivamente amável.

Se o seu psicoterapeuta é demasiado simpático talvez esteja na altura de procurar um novo.

Consideremos os riscos para a terapia resultantes de ter um terapeuta demasiado simpático:

É muito gratificante termos alguém que concorda sempre connosco, principalmente se ao longo da vida fomos sistematicamente contrariados. Esta atitude do terapeuta pode ir ao encontro do nosso desejo de finalmente termos alguém que concorde connosco, mas assim que surgir alguma pessoa que discorde voltará tudo à estaca zero. Isto acontece porque as atitudes do terapeuta não passam de “festinhas ao ego” não produzindo qualquer tipo de mudança estrutural.

A questão deve ser olhada de outro ângulo. Devido a vários impedimentos não conseguimos reagir da forma desejada contra as pessoas que invariavelmente fizeram com que as suas ideias, valores e escolhas se sobrepusessem às nossas, e dessa forma, contribuíram para o desenvolvimento de sentimentos de inferioridade. O importante é encontrar uma maneira de respondermos a essa desconsideração e assim recuperar a auto-estima que foi sendo esmagada.

Ao mesmo tempo, esta atitude do terapeuta faz aumentar os sentimentos de dependência negativa (também existe a positiva). Uma vez que as coisas acontecem a um nível superficial o paciente está sempre necessitado de um reforço positivo. É como se estivesse a comer alimentos pouco nutritivos (chá e bolinhos) e por isso está constantemente com fome. Não lhe é dado um alimento afectivo que o possa deixar saciado por mais tempo.

Por outro lado, se pensarmos objectivamente, a constante concordância não existe na vida real. Logo é uma fraude que põe em causa um dos pilares da psicoterapia: A Verdade.

Se o paciente teve pais muito intrusivos, excessivamente preocupados, que tinham opiniões sobre tudo e sobre nada, é natural que o seu Eu tenha sido formatado de forma muito rígida. Mas isso quer também dizer que está desejoso que o terapeuta lhe diga o que deve fazer, afinal foi assim que viveu toda a vida – a seguir as escolhas dos outros.

Nesse sentido é importante criar um espaço de liberdade que permita antes de mais questionar, abrir a porta à dúvida, considerar outros ângulos, outras perspectivas. Na maioria das vezes o paciente constrói uma narrativa que contraria a que lhe foi imposta, a única que tinha sobre si mesmo.

Muitos de nós tivemos pais que ficaram muito aquém do desejável. Nalguns casos podemos mesmo falar em maus pais. De qualquer forma, essa questão não se ultrapassa com novos pais (de preferência bonzinhos), mas reconhecendo que na maioria das vezes a maldade dos pais ficou a dever-se a algo que existia neles e que não foi provocado pela nossa maldade.

Chá e Bolinhos sabem muito bem. Sabem ainda melhor em boa companhia.
Mas a vida é muito mais do que isso. E a terapia também!

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