Até meados da década de 90 não existia em Portugal uma carreira de Psicólogo Clínico definida em lei.
O Decreto-lei 241/94 de 22 Setembro veio modificar isto, definindo, pela primeira vez uma carreira de Psicologia Clínica, que espelha uma visão da Psicologia que se exerce no Sistema de Saúde.
De acordo com o decreto-lei, e de forma resumida, pode dizer-se que o Psicólogo Clínico é o profissional habilitado com o grau de especialista que desenvolve funções científicas e técnicas de avaliação, psicodiagnóstico e tratamento no campo da saúde.
Entre as que se centram na prática clínica estão: o estudo psicológico de indivíduos e elaboração de psicodiagnóstico (recolha de informações sobre o funcionamento cognitivo e estado emocional dos indivíduos); o aconselhamento psicológico individual, conjugal, familiar ou de grupo e a intervenção psicológica e psicoterapia.
Segundo Brito (2008), “a Psicologia Clínica nascida nos anos 50 nos EUA, começou por se afirmar como alternativa ao modelo médico, propondo-se procurar a explicação dos comportamentos visíveis numa natureza psíquica invisível e com uma interioridade metafórica.”
A Psicologia Clínica deve ser considerada uma actividade prática e em simultâneo, um conjunto de teorias e métodos.
Pode ser definida como a sub-disciplina da psicologia que tem como objectivo de estudo, a avaliação, o diagnóstico, a ajuda e o tratamento do sofrimento psíquico, qualquer que seja a causa subjacente.
“Habitualmente, a significação que se reconhece no conceito de clínica é a prática que consiste numa observação singular e concreta do individual. Também para Guillaumin (1968), os traços essenciais que constituem a Psicologia Clínica são o seu carácter de conhecimento individual, centrado no caso psicológico singular. O estudo de caso constitui assim, uma forma específica de abordagem dos sujeitos, método por excelência da psicologia clínica.”
De acordo com Marques (1994), a identidade de um Psicólogo Clínico define-se pelo domínio das teorias, técnicas e métodos compatíveis entre si, cujo o objectivo é tentar atingir a “verdade” psicológica do sujeito observado para se poder, directa ou indirectamente, encetar um processo de intervenção.
O essencial do trabalho em Psicologia Clínica consiste em explicitar, para fins vários, aquilo que caracteriza o ser psicológico. Para tal é essencial possuir um sólido e claro quadro de referência teórica que confira sentido ao que observamos, bem como um conjunto de estratégias, também claramente definidas, que permitam acede ao conhecimento que se persegue.
A actividade do Psicólogo clínico pode ser uma actividade terapêutica, mas o campo da psicologia clínica é mais vasto do que o da psicologia e do tratamento de problemas mentais identificados.
Com o trabalho clínico pretende-se promover as capacidades do sujeito, tendo em vista a sua posterior aplicação às dificuldades do dia a dia, de modo a que o sujeito possa funcionar na sociedade de uma forma mais segura e estável.
Para isso, é necessário criar um espaço onde as angústias do sujeito possam ser contidas e onde os seus processos defensivos sejam interpretados.
A Psicologia clínica, nascida da prática com doentes em sofrimento, e recusando a extrema objectivação induzida pelo método cientifico, tenta produzir conhecimentos que respeitam simultaneamente a singularidade dos sujeitos e o rigor cientifico.
O interesse dos psicólogos clínicos desloca-se no sentido da diversificação das intervenções e das produções teóricas, renunciando à adesão a modelos únicos e dogmáticos.