Personalidade Depressiva e Depressão
O estudo dos estados depressivos mostra-nos que devemos distinguir entre a personalidade depressiva e a depressão propriamente dita.
A personalidade depressiva é caracterizada pela deficiente organização do investimento narcísico – a baixa auto-estima é o seu pano de fundo.
O indivíduo é dominado por um sentimento mais ou menos permanente de frustração, de não realização dos seus planos e projectos.
Podemos olhar para o depressivo como uma espécie de frustrado, em grande parte, em função do seu desejo omnipotente, de uma enorme ambição.
A baixa auto-estima é o pano de fundo da personalidade depressiva.
Mas também em face das decepções sofridas no passado.
Portanto, na depressividade há uma situação de frustração, de falta do desejado; e não bem uma situação de perda.
Mais do que uma situação de perda, é o reconhecimento da impossibilidade de concretização de um desejo e de uma fantasia.
O reconhecimento da limitação imposta pela realidade; mas mal aceite, não elaborado, não “digerido”. Desta forma, uma constante insatisfação marcam o seu humor e o seu destino.
Na depressão propriamente dita, há uma perda.
É evidente que este desejo e fantasia não surgem (como aliás nada) por geração espontânea. Resultam do hiperinvestimento de pais narcísicos, insatisfeitos e frustrados, que investem compensatoriamente nos filhos.
Na depressão propriamente dita, há uma perda. Essa perda é ao mesmo tempo narcísica e acompanhada por sentimentos de culpa. (ver: “Depressão: As Causas e a Cura“)
O núcleo do sofrimento depressivo é o sentimento de falta de afecto, de carência afectiva – essa dolorosa brecha com raízes num passado longínquo.
Como acreditar no amor, se a experiência primeira, a do que é consagrado e sentido como o berço do amor, foi de não-amor, de pouco ou de amor insuficiente?
É uma vida triste. E é-o porque foi; o ferrete do passado marca o destino do presente.
É esse sentimento profundo de que a vida foi e é pobre de afecto, em que no balanço entre a tristeza e a alegria o volume da primeira se mostra sempre maior.
Bibliografia: “A Depressão” – Coimbra de Matos
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