A Erotização do Contacto
É difícil viver o defeito narcísico, por isso o depressivo o mascara. Ao mesmo tempo, as defesas contra o afecto depressivo são uma das principais causas do agravamento da estrutura depressiva.
O depressivo, duramente inferiorizado, esconde as vergonhas. O essencial, para ele, é salvar a face narcísica; mesmo que o interior continue ferido e a humilhação bem sentida.
É precisamente nos deprimidos que encontramos a maior resistência à reabertura do ferimento narcísico, falsamente cicatrizado.
A erotização do contacto é um mecanismo antidepressivo por excelência.
A dificuldade de relacionar-se, a que a inferioridade conduz (e que com ela se reforça), tem outra saída: a erotização do contacto.
A erotização do contacto é um mecanismo antidepressivo por excelência. A ansiedade relacional é erotizada e a inibição na relação curto-circuitada.
A ausência de uma figura de amor, a perda não reparada do amor dessa figura – (causa primeira e fundamental do sofrimento depressivo) é negada.
Na relação erótica o investimento no outro é substituído pelo investimento no acto; uma relação funcional e parcial vicariante da relação total de amor – tida e considerada, como impossível.
Mas sabemos bem a miséria que esconde, a insatisfação que comporta, a monotonia em que se traduz, o aborrecimento a que conduz – a depressão que se iludiu e que cada vez mais se vai tornando mais funda.
“Fugir à depressão é agravar a depressividade”
Fugir à depressão e ao afecto depressivo da perda e ao tempo de depressão que é necessário para elaborar e fazer o trabalho do luto é agravar a depressividade.
Sem esse trabalho não é possível conquistar um novo amor – única cura da depressão-doença -, reorganizando uma relação vital (não há vida mental saudável sem uma constância de amor).
O poder sentir, reconhecer e viver o vazio – de forma temporária – conduz, lógica e necessariamente, ao preenchimento, a novo encontro ou reencontro, e assim, substitui-se o vazio – que quando ignorado, caminha para o definitivo.
Caso contrário, é a morte da esperança, com a idealização do prazer. Parafraseando Samuel Johnson, diremos que: a vida não é um salto de prazer em prazer, mas um voo de esperança em esperança.
A relação biológica, animal, é ditada pelo instinto, mas a relação humana, pessoal, é nutrida pelo afecto.
A partir de: “Compensação narcísica e erotização do contacto” – A. Coimbra de Matos
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