Diagnósticos como Destino
Quando João me procurou já tinha perdido a conta ao número de psicólogos e psiquiatras (e diagnósticos) que tinha consultado.
Resolveu vir conversar comigo mais por pressão da família do que por sentir que eu o poderia ajudar.
Apresentava muitos sinais de cansaço.
Chega a uma altura em que é difícil continuar na busca de soluções; faltam as forças e desistir parece fazer mais sentido que continuar.
Como paciente “profissional” que era, apresentava no seu curriculum uma lista enorme de diagnósticos.
Alguns, diga-se de passagem, bem caricatos. Desse leque “incorporou” aqueles que de alguma forma eram mais congruentes e se adequavam à forma como se sentia.
Conhecia os sintomas e reconhecia-os em si. Conhecedor profundo do mundo “psi” (diagnósticos, sintomas e medicamentos), pouco ou nada sabia sobre si.
Fiquei a ouvi-lo atentamente enquanto desfiava a sua história pela enésima vez.
À medida que João ia falando senti que aquela não era bem a sua história, mas uma história que lhe tinha sido contada sobre ele próprio – em forma de diagnóstico.
Impossibilitado de ser aceite na sua plenitude foi cortando, aqui e acolá, partes de si – da sua história -, e acrescentando as que lhe eram apresentadas.
Como paciente “profissional” que era, apresentava no seu curriculum uma lista enorme de diagnósticos.
A partir desse momento ficou impedido de escrever a sua história, ficando a vida em “Pause”.
Sem o saber, João sabia que aquela não era a sua história, mas estava amarrado a ela e não podia desprender-se do que tinham traçado sobre ele – uma espécie de destino.
Sem possibilidade de romper seguia o guião que escreviam para ele.
Ainda assim, havia um resquício de esperança. A busca continuava.
Não tinha desistido, mas o tempo passava e as dúvidas eram cada vez mais: “talvez esta seja mesmo a minha história e nada mais. Talvez nem exista história, somente um tempo em contagem decrescente”.
Às vezes, papel e caneta, tempo e espaço, disponibilidade e amor, é quanto baste para reescrever a história. “Play”.