Compreender a Ansiedade (parte III)
Compreender a Ansiedade – O Papel da Psicoterapia
A psicoterapia pode ser uma forma de descobrir respostas para as questões complexas a que a ansiedade remete.
A psicoterapia é uma ajuda preciosa na medida em que faz aumentar a autoconsciência da pessoa.
Todos temos pontos cegos no que diz respeito aos nossos próprios pensamentos, sentimentos e motivações.
Fazer psicoterapia com um clínico qualificado pode ser um pouco como ver-se ao espelho.
Se você ficar muito perto do espelho, só verá uma pequena parte de si mesmo reflectida.
A terapia é como dar um passo para trás em relação ao espelho – você continua a ver o que via antes, mas agora consegue ver muito mais de si mesmo.
Isso significa que pode compreender coisas novas – coisas de que gosta e de que não gosta. Embora isso possa ser complicado, também pode ser muito valioso.
Afinal, se o seu carro não está a funcionar bem, mas você recusa-se a abrir o capô e olhar lá para dentro, provavelmente, não conseguirá resolver o problema.
A psicoterapia faz aumentar a autoconsciência da pessoa.
Da mesma forma, é muito difícil descobrir como lidar com uma dor emocional se nos recusarmos a olhar para dentro da nossa própria mente.
Então, como a psicoterapia pode ajudar a lidar com a ansiedade?
O processo terapêutico pode ser uma ajuda preciosa para descobrir o que significam os sentimentos de ansiedade.
– É, eventualmente, uma resposta ansiosa a uma situação stressante? (ansiedade funcional/situacional)
– É uma angústia existencial que resulta de um desfasamento entre aquilo que você possui, e o que precisa e deseja? (ansiedade existencial)
– É uma ansiedade disfuncional, inútil, que subestima as suas capacidades e amplia a sensação de perigo? (ansiedade disfuncional)
Em muitos casos, é uma mistura de várias ansiedades.
É importante descobrir o que está acontecer porque diferentes tipos de ansiedade necessitam de respostas distintas.
Muitas vezes as pessoas notam um desconforto mental, mas não estão cientes do que é a ansiedade. Através do processo psicoterapêutico, isso pode ficar claro.
Se a ansiedade é sobre um problema iminente que pode ser resolvido, então, procurar o apoio dos outros e empregar os seus recursos para resolver o problema, pode ser suficiente para diminuir a ansiedade.
Por exemplo, se uma pessoa achar que não está preparada para apresentar um trabalho, provavelmente, vai sentir-se ansiosa.
Cada tipo de ansiedade necessita de uma respostas distinta.
Preparar melhor a apresentação, treinar com um amigo ou colega e responder às perguntas prováveis, pode ser o suficiente para que a ansiedade desapareça.
Mas se o problema for evitado, a ansiedade vai aumentar.
Através da abordagem de várias questões na psicoterapia, podemos chegar à conclusão de que certos pensamentos desconfortáveis e sentimentos de ansiedade ou pânico vêm do “Departamento de Ansiedade Existencial”.
Ao compartilharmos os nossos medos humanos comuns – medo de morrer, de estar a viver uma vida desprovida de significado, medo de não deixar uma marca, um legado – sentimo-nos mais fortes e capazes de tolerar a ansiedade existencial quando ela surge.
Se estamos sozinhos perante os nossos medos humanos básicos, eles tornam-se mais pesados e penosos.
Se compartilharmos os nossos medos somos capazes de tolerar a ansiedade existencial.
Compartilhá-los com uma pessoa que seja solidária e compreensiva pode ajudar a desenvolver um espaço comum de entendimento e um sentimento de pertença.
Essa pessoa pode ser um psicoterapeuta, mas também pode ser um amigo, membro da família ou parceiro íntimo.
Vamos voltar ao nosso exemplo hipotético do “João”, um advogado que começou a duvidar se realmente tinha feito uma boa escolha, ou se devia procurar outras coisas que o realizassem.
Se houver um amigo próximo em quem o João confie e possa conversar sobre as suas dúvidas, preocupações, sentimentos de mal-estar e ansiedade, talvez se sinta mais determinado para explorar outras opções; a dar um passo corajoso em direcção ao assustador desconhecido – e, perceber o que é realmente importante para ele, independentemente do que as outras pessoas (pais) queiram que ele seja ou faça.
O apoio do amigo pode ajudar o João a aventurar-se na descoberta daquilo de que realmente gosta.
Estas conversas, quer ocorram em psicoterapia ou numa outra relação de confiança, podem ajudar as pessoas a aprofundar os seus desejos e necessidades, e a ver a vida com outros olhos.
E se a pessoa ao tentar entender a ansiedade, descobrir por meio da psicoterapia (ou não), que está a lidar com uma ansiedade disfuncional?
Vamos dar outro exemplo hipotético. Vamos chamar “Filipa” à pessoa deste exemplo.
Imagine que a Filipa sente uma ansiedade muito grande sempre que conhece novas pessoas.
Tanto que, apesar de querer fazer novas amizades, ela recusa-se a ir a festas e a eventos quando é convidada.
Uma vez que fica extremamente ansiosa quando é apresentada a novas pessoas, ela não se aventura para além dos vários conhecidos/amigos que tem, mas ao mesmo tempo sente-se sozinha e sem amigos íntimos.
Imaginemos que na psicoterapia a Filipa fica mais consciente de que, quando conhece novas pessoas, bloqueia com o receio que os outros achem que é entediante e a rejeitem.
Se ela analisar mais profundamente essa expectativa, poderá encontrar outra coisa – a crença de que não é agradável e que é uma pessoa desinteressante.
A ansiedade social está associada à forma como nos vemos.
Por vezes, crenças como esta são fardos pesados que carregamos sem sabermos – talvez tenham estado ali desde sempre, de modo que são tão familiares que nem os estranhamos, ou, talvez, estejam submersos nas distracções da vida quotidiana.
A ansiedade social da Filipa está associada à forma como se vê.
A psicoterapia pode ajudar a compreender porque o espelho lhe devolve uma imagem distorcida de si mesma.
Isso implica desafiar certas crenças negativas sobre ela própria e explorar a origem dessas crenças.
Dessa forma, a Filipa será capaz de reconhecer e a apreciar as suas qualidades, e, nesse sentido, dar pequenos passos para se ligar aos outros.
Adaptado por Pedro Martins a partir de: “Understand Anxiety” – Alina Sotskova
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