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Depressão, Depressividade e Depressibilidade

Depressão, Depressividade e Depressibilidade

1 – Existe uma depressão – dita “reactiva” – que é a depressão normal ou fenómeno do luto:

– Corresponde à perda de alguém significativo.

Neste caso falamos de DEPRESSIBILIDADE: qualidade de se poder deprimir, de ser capaz de fazer um trabalho de luto – o que é um sinal de boa saúde mental.

2 – Falamos em DEPRESSÃO patológica quando os laços afectivos são predominantemente narcísicos.

Assim, verifica-se uma intolerância e uma susceptibilidade particularmente intensas à perda do amor e protecção desse outro fundamental.

Como a relação com o outro é de tipo funcional ou complementar – um instrumento ou prolongamento do próprio -, o sujeito sente, ao perdê-lo, que se destaca e afasta uma parte essencial de si mesmo.

3 – A DEPRESSIVIDADE diz respeito ao esforço defensivo continuo para não se deixar deprimir: ficar deprimido (abatido), ou deprimir-se (sentir-se triste e com sentimentos de solidão) devido a uma perda.

Podemos dizer que são pessoas que jogam à defesa; quanto muito, ao contra-ataque.

O medo é grande, e por isso, a batalha, quando possível, quase sempre evitada.

As depressões manifestas que estes sujeitos apresentam são curtas (ainda que frequentes).

Por um lado, a sua fraqueza não lhes permite correrem o risco de sentirem verdadeiramente a perda de alguém.

A depressividade não é, propriamente, uma depressão:

– O que domina o estado afectivo não é a tristeza e o sentimento de perda, mas um mal-consciencializado sentimento de dependência e opressão.

Um receio de ficar só, uma incapacidade de se visualizar autónomo – numa palavra, uma impossibilidade de verdadeiramente se deprimir, ou seja, de aceitar a perda.

“A depressividade remete para um estado permanente e a depressibilidade para um estado temporário/transitório.”

A depressividade não é, em rigor, um estado de humor, mas uma disposição de fundo – a disposição depressiva; é-se (ou não) depressivo.

Na depressividade falamos em “ser” e na depressão normal em “estar”.

A depressividade remete para um estado permanente e a depressão normal para um estado temporário/transitório.

A relação do depressivo é constantemente ambitendente; quer, e não quer.

O relacionamento oscila entre a submissão e a revolta: uma jamais aceite; a outra, nunca completamente assumida.

“Depressibilidade: Os depressíveis são aqueles que se podem deprimir”

Há, por outro lado, aqueles que sabem e podem perder:

– Fazem o luto do que desapareceu e investem novamente, reparando facilmente a perda narcísica.

É o que designámos no ponto 1 por DEPRESSIBILIDADE (aqueles que são depressíveis, ou seja, que se podem deprimir).

Realizam lutos normais aquando da perda:

– Pois não estão excessivamente dependentes do outro (patologicamente afeiçoados);

– Nem o outro é detentor de partes importantes do Self, arrastando no seu naufrágio partes do próprio.

E este último é um motivo de relevo:

Na personalidade depressiva, o outro é, em grande medida, um prolongamento, um complemento da pessoa – por isso a sua perda é tão dolorosa e incapacitante, deixando uma ferida aberta que equivale a uma verdadeira amputação do próprio.

Acresce que a personalidade normal (o tal depressível) tem uma compleição narcísica razoavelmente sólida, uma auto-imagem suficientemente boa, uma auto-estima capaz de suportar sem afundamento do valor próprio as lesões narcísicas que, mesmo independentemente da acção dos outros, a vida vai provocando: perdas de prestígio, de capacidades, de funções, de situações sociais ou económicas, o envelhecimento, etc., etc., que são inerentes a toda a existência individual.

Bibliografia: Matos, A. C. (2001). A Depressão. Lisboa: Climepsi Editores

amar-se a si mesmo

Até Onde Pode Amar-se a Si Mesmo?

“A melhor defesa ou reparação da depressão é o amar-se a si mesmo.”

Quando o indivíduo não se sente amado, deprime-se. E a melhor defesa ou reparação dessa depressão é o amar-se a si mesmo, o investir-se narcisicamente.

Simplesmente, este processo tem limites – se o sujeito continua a não ser amado, esgota-se a energia amorosa para amar-se a si próprio (pois o amor nasce e desenvolve-se apenas na relação amorosa).

Mas do amor também se constituem reservas. E a maior reserva amorosa forma-se na infância, pelo amor que os pais dedicam aos filhos.

Se esta reserva não foi constituída ou é pequena, o indivíduo tem necessidade constante de ser amado e deprime-se em face da mais leve perda de amor ou da sua mais curta ausência. E só um forte amor posterior o poderá curar dessa carência.

O trágico é que o indivíduo que não foi amado não aprendeu a amar. E enquanto não souber amar dificilmente poderá vir a ser amado. A sua sede de amor é muito grande, mas o seu ódio à relação amorosa ou a sua descrença no amor levam-no a estragá-la ou a nunca a conquistar – pela relação ambivalente e depressivante à qual adere.

Só um verdadeiro amor, uma paixão, seja ela na vida ou na relação terapêutica, pode fazer uma renovação do sentir conduzindo a um renascimento do ser. É no estado nascente do enamoramento, no movimento amoroso, que se curam as feridas de amor.

“Ninguém se cura enquanto não adquirir um sentimento de ser capaz de merecer e atrair o amor de outrem.”

O poder ser objecto de amor é fundamental: ninguém se cura enquanto não adquirir um sólido sentimento de ser uma pessoa capaz de merecer e atrair o amor de outrem; vale dizer, enquanto não reparar a sua ferida narcísica, desfizer o sentimento de inferioridade ou menor valor.

A raiz dos sentimentos de inferioridade está no passado, na infância; nos insucessos infantis e adolescenciais; e na prisão às regras e aspirações da família de origem, no juízo crítico dos pais e educadores que sempre apontaram exemplos de perfeição, estabelecendo comparações deprimentes para o sujeito ou lamentado as suas imperfeições.

Designadamente, esta última atitude é altamente danificante da auto-imagem: o sujeito interioriza essa pena, essa mágoa, lamentando-se eternamente daquilo que é (“se eu fosse mais bonita… Se eu fosse mais forte… Se tivesse ouvido para a música… Se tivesse jeito para dançar”… etc.)

“Só muda quem se apaixona, quem se entusiasma, quem ama outra coisa, outro ser.”

Normalmente, o depressivo é aquele que vive no passado, prisioneiro do passado, do que foi. E ninguém pode viver no passado! Todos temos de ir para a frente.

Viver no passado é viver no purgatório, a expiar culpas; e na sombra, admirando os resplandecentes. Mas viver, propriamente viver, é saltar para o “paraíso”, dando-se a si mesmo o direito ao acesso ao prazer e deixando-se banhar pelo sol que é de todos! Podemos queimar-nos no inferno da decepção e do desaire, mas também atingir o éden da paixão. E só vivida apaixonadamente a vida tem sentido.

Só na paixão amorosa encontramos a verdade do outro e a nossa própria verdade. É a porta de entrada no mundo da autenticidade.

O depressivo deixou de se apaixonar (é isso a depressão), tem medo de se apaixonar, não quer (por raiva contra o outro e o mundo, e que se vira contra si próprio) apaixonar-se.

Toda a terapia que mereça esse nome passa por um movimento de rotura com o passado e com o presente, um movimento de renovação, um renascimento, um nascimento para uma nova vida, em moldes diferentes, com outros horizontes.

Esta rotura processa-se através de um movimento emocional, afectivo, por uma paixão por outra coisa, por outra pessoa. Só muda quem se apaixona, quem se entusiasma, quem ama outra coisa, outro ser – para se tornar ele próprio “outra pessoa”.

Bibliografia: Matos, A. C. (2001). A Depressão. Lisboa: Climepsi Editores

Triste e sem saber porquê Pode estar deprimido psicoterapia

Triste e sem saber porquê? Pode estar deprimido

A tristeza aparece quando se perde algo ou alguém a que se estava fortemente ligado.

Quando esse algo que se perdeu era já tido como uma posse incerta ou duvidosa, só mantida por uma convicção ligada a certa omnipotência, a tristeza é sentida, mas negada a realidade da perda – ou, mais precisamente, negado o sentimento de perda.

“A Depressão é a negação do sentimento de perda.”

E assim se instala a depressão. A depressão é, pois, a negação do sentimento de perda; está-se triste sem se saber porquê.

Quando se perdeu alguém de quem se estava dependente, mas cuja dependência era sentida como uma inferioridade pessoal, da mesma forma a tristeza é sentida, mas negado o sentimento de perda. E, pela mesma razão, se instala um quadro depressivo.

Por conseguinte, a depressão é uma tristeza cujo o motivo se procura negar para manter incólume o narcisismo, a auto-imagem.

Mas negando o sentimento de perda, o trabalho de luto não se faz: a tristeza mantém-se, a depressão arrasta-se.

A cura da depressão passará, portanto, pela realização de um trabalho de luto que está bloqueado: pela consciencialização, aceitação e elaboração da perda; sobretudo, pela vivência e aceitação do sentimento de perda.

Portanto, enquanto no luto normal há propriamente uma perda de alguém, na depressão ou luto patológico há uma perda narcísica, uma perda de auto-estima.

O depressivo é um indivíduo em deficiência narcísica. O seu mundo – das coisas e das pessoas – serve para confirmar ou infirmar, avaliar, medir o seu valor próprio: é o espelho da sua auto-representação. O indivíduo vê-se no efeito que produz à sua volta, no reflexo da circunstância, na admiração e amor que desperta nos outros.

O défice narcísico, em consequência, acompanha-se sempre de uma faceta exibicionista. Ainda que de um exibicionismo tímido, envergonhado, dado o sentimento de inferioridade que caracteriza a estrutura depressiva.

Compreendemos agora melhor a reacção à perda nestas personalidades: a perda é negada para evitar o ferimento narcísico, para evitar o sentimento de lesão da auto-estima.

A auto-estima já de si pobre não pode expor-se a novo empobrecimento; por isso a consciência procura ignorá-lo. Mas a realidade impõe-se, e lá está a depressão para o evidenciar.

E, por micro-depressões sucessivas, o quadro de depressão crónica – latente, manifesta ou mascarada – vai-se agravando. Esta é a história existencial da personalidade depressiva.

 

Bibliografia: Matos, A. C. (2001). A Depressão. Lisboa: Climepsi Editores

depressão inferioridade culpa

Depressão – Sentimento de Culpa e Inferioridade

No que diz respeito à depressão é importante olharmos a natureza e a qualidade da perda que origina o fenómeno depressivo lato sensu:

1 – Natureza da Perda: o doente depressivo não perdeu uma pessoa significativa (por morte ou retirada), mas o afecto de pessoas significativas, ou seja, a perda do amor de pessoas e não a perda de pessoas.

2 – Qualidade da Perda: Na depressão* o afecto que o indivíduo perdeu, foi o amor: o amor dedicado, generoso e oblativo.

Na depressão anaclítica ou borderline perdeu-se a protecção e assistência do cuidador.

Na depressão* pode permanecer a função de cuidar, mas falta o amor, o desejo de estar/conviver com o outro. (* designada depressão verdadeira)

A Depressão estrutura-se através da inferioridade e da culpa

A culpa resulta de duas origens convergentes:

1 – Idealização do “outro” – com a respectiva tendência a desculpabilizá-lo.

2 – Indução da culpa pelo “outro” – o qual, ao mesmo tempo se idealiza e se faz idealizar.

O sujeito projecta (coloca no outro) a sua bondade e introjecta (recebe do outro) a maldade.

Neste caso verifica-se um processo de inversão da experiência vivida no qual é influenciado pelo outro.

É este processo de despojamento da sua bondade e assimilação da maldade que conduz ao erro de avaliação da realidade pelo depressivo:

– “Eu sou mau, ele é bom”.

Há um erro lógico (cognitivo) de apreciação da realidade – erro em que é induzido pelo “outro”, o qual projecta a sua culpa no sujeito e absorve a bondade deste.

A relação depressígena (causadora de depressão) consiste precisamente nisto: culpar e idealizar-se a si mesmo.

A depressão pode ser vista como a relação que se estabelece com a pessoa depressígena:

– Que não desculpa mas culpa, que não ama mas capta o amor do outro; Trata-se de uma pessoa culpabilizante e desamante.

Por isso a culpa depressiva é uma culpa patológica e ilógica (erro lógico).

É este erro que o terapeuta tem que corrigir: fazer com que o paciente recupere o investimento perdido na idealização do “outro” e re-direccionar a culpa para o verdadeiro responsável; isto é, processar uma inversão do processo patológico.

O mesmo se passa para a inferioridade. A pessoa depressígena é aquela que inferioriza o outro e engrandecendo-se a si próprio. No grau máximo, é alguém que humilha.

Não há depressão sem culpa e sobretudo sem inferioridade, porque a retirada do amor – a causa prínceps da depressão – é só por si desnarcisante.

Por isso um dos sintomas da depressão é a baixa auto-estima.

Bibliografia: Matos, A. C. (2001). A Depressão. Lisboa: Climepsi Editores

mundo moderno

Como o Mundo Moderno nos está Afectar

O mundo moderno tem muitas coisas maravilhosas (a odontologia é boa, os carros são confiáveis, podemos facilmente entrar em contacto a partir do México com a nossa avó na Escócia) – mas também é poderosa e tragicamente capaz de causar um alto nível de ansiedade e estados depressivos.

Existem seis características particulares da modernidade que têm um efeito psicologicamente perturbador. Cada uma tem uma cura potencial, que só pode ser colocada em acção colectivamente quando conhecermos mais sobre o problema em questão.

 

  1. Meritocracia:

As nossas sociedades dizem-nos que todas as pessoas são “livres de fazer”, caso tenham talento e energia. A desvantagem dessa ideia, ostensivamente libertadora e apaixonante, é que qualquer insucesso sentido não é, como no passado, um acidente ou infortúnio, mas um sinal claro de falta de talento ou preguiça. Se aqueles que estão no topo merecem todo o seu sucesso, então aqueles que estão no fundo, certamente, devem merecer todo o seu fracasso. Uma sociedade que pensa em si mesma como meritocrática em vez de olhar para os que falharam como desafortunados, rotula-os de perdedores.

A cura é uma crença forte e culturalmente apoiada em duas grandes ideias: a sorte, que diz que o sucesso não depende apenas do talento e do esforço; e a tragédia, que diz que as pessoas boas e decentes podem falhar, e merecem compaixão em vez de desprezo.

 

  1. Individualismo:

Uma sociedade individualista prega que o indivíduo e suas realizações são “tudo” e que todos são capazes de ter um destino especial. Não é a comunidade que importa; A união, o grupo, é para os desesperançados. Ser “comum” é considerado uma maldição. Como resultado a maioria de nós acabará, estatisticamente falando, associada ao fracasso.

A cura passa pelo culto da boa vida trivial – e apreciar os prazeres simples do quotidiano.

 

  1. Secularismo:

As sociedades seculares não acreditam em qualquer coisa que seja maior ou superior a elas mesmas. As religiões costumavam ter o papel de manter os nossos caminhos insignificantes e batalhas internas em perspectiva. Mas agora não há nada para admirar ou relativizar nos seres humanos, cujos triunfos e percalços acabam por ser um tudo ou um nada.

A cura envolveria a utilização regular de fontes de transcendência para gerar uma perspectiva benigna e relativizada sobre as nossas mágoas: a música, as estrelas à noite, os vastos desertos ou os oceanos tornar-nos-iam mais humildes.

 

  1. Romantismo:

A filosofia do romantismo diz-nos que para cada um de nós há uma pessoa muito especial que nos pode tornar completamente felizes. No entanto, de uma maneira geral, temos que nos contentar com relacionamentos aceitáveis com alguém que é muito agradável em várias coisas e muito difícil noutras. Parece um desastre – em comparação com as nossas grandes expectativas.

A cura passa por perceber que não errámos: fomos encorajados a acreditar num sonho muito improvável. Em vez disso, devemos construir as nossas ambições em torno da amizade e do amor fraternal.

 

  1. Os média:

Os meios de comunicação têm um prestígio enorme e um lugar gigantesco nas nossas vidas – mas rotineiramente orientam a nossa atenção para as coisas que assustam, preocupam e irritam, ao mesmo tempo que nos retiram o poder de termos uma acção pessoal efectiva sobre essas coisas. Normalmente foca os lados menos bons da natureza humana, e deixa por mostrar a existência de boas intenções, responsabilidade e decência.

A cura passaria por notícias que se concentrassem em apresentar soluções ao invés de gerar indignação; despertar uma consciencialização para problemas sistémicos ao invés de enfatizar os bodes expiatórios e os monstros emblemáticos – e isso nos lembraria, frequentemente, que as notícias sobre as quais precisamos focar-nos veem das nossas próprias vidas e experiências directas.

 

  1. Aperfeiçoamento:

As sociedades modernas enfatizam que depende de nós sermos profundamente felizes, sanos e realizados. Como resultado, acabamos a detestar-nos, sentir-nos fracos e que estamos a desperdiçar a vida.

Uma cura seria uma cultura que promove permanentemente a ideia de que a perfeição não está ao nosso alcance – que esta, do ponto de vista mental, ligeiramente (e por vezes muito) tristonho é uma parte inescapável da condição humana e do que precisamos, acima de tudo, são bons amigos com quem podemos estar e conversar honestamente sobre nossos verdadeiros medos e vulnerabilidades.

As causas do sofrimento psicológico no nosso mundo são – actualmente – muito maiores e mais activas do que as curas que necessitamos. Nós merecemos muita pena pelo preço que pagamos por termos nascido nos tempos modernos. Mas, mais esperançosamente, as curas estão disponíveis de forma individual e colectiva, se reconhecermos, com clareza suficiente, as fontes das nossas verdadeiras ansiedades e tristezas.

 

Traduzido/adaptado por Pedro Martins

a partir de “How the modern world makes us mentally ill” – Alain de Botton

depressão infantil

Depressão Infantil. Direito à Tristeza e à Alegria

Depressão Infantil. Direito à tristeza e à Alegria

A organização psíquica do homem faz-se a partir de dois fenómenos de base: a angústia e a depressão. São estas duas situações que, por assim dizer, nos ensinam a viver. Um indivíduo, que no curso da sua evolução não se angustiasse, não organizava convenientemente as suas defesas. Um indivíduo que não se deprimisse tornar-se-ia rigidamente sempre igual.

A alegria e a tristeza aprendem-se na relação com a mãe, mas quando os ritmos e os equilíbrios entre as duas formas de estar não são favoráveis a uma resolução mental, a criança aprende a esconder a tristeza com a falsa alegria da instabilidade, com comportamentos provocatórios ou doenças várias.

Se a aprendizagem da relação afectiva com a mãe, e a resolução mental da depressão se não fazem adequadamente antes da escola, a criança não pode aceitar o que lá se ensina, porque apenas vê nela uma tralha informe de instrumentos que a torturam e que não servem as suas necessidades afectivas. Ela quer ser amada e encontrar quietação num ambiente tranquilizador, e fornecem-lhe matérias desafectadas, como as letras e os algarismos, as canetas e os papéis.

A criança é espontaneamente alegre quando é aceite e compreendida nas suas reacções afectivas e, entre estas, a sua tristeza.

O bloqueio afectivo e intelectual pode ser uma forma de tentar dominar a depressão.

A alegria é a descoberta do Eu e da autonomia do pensar. A tristeza é o que pode, em termos psicológicos, conduzir à depressão normal, que possibilita as mudanças evolutivas de estrutura psíquica, ou à depressão patológica, que se descarrega sobre os outros, sobre a forma de comportamento, ou sobre os órgãos, sobre a forma de doença psicossomática. O bloqueio afectivo e intelectual pode ser uma forma de tentar dominar a depressão.

Da tristeza e da paixão tem a criança de aprender o que dela fazer. Sem que ninguém lhe ensine… porque estar triste é olhar para dentro e reflectir sobre o próprio Ser. Os estados de tristeza e de paixão são, na vida da criança e do Homem, momentos de reflexão e, portanto, de criatividade.

Estar apaixonado é olhar para fora, para um ser que nos permite criarmo-nos a nós próprios como Seres humanos.

Nada de criativo existe no homem sem o Eu e o Outro…, mas a criança do Homem está a ser devorada na sua espiritualidade. Há que proclamar o direito da criança a agitar-se, manifestar sinais e sintomas de sofrimento psíquico, físico e moral, sem ser submetida a tratamentos medicamentosos ou a medidas repressivas. A cultura não se ensina, aprende-se no convívio dos homens, na livre descoberta que cada um possa fazer do amor dos outros.

Um sintoma de fundo que se observa em grande número destes sintomas reactivos é o da depressão infantil, que nem sempre se revela por inibições, como a gaguez; por compensações, como o furto; por conversão histérica, como a enurese; ou por angústia, como os terrores nocturnos. Às vezes, revela-se por tristeza manifesta, turbulência e por muitos actos, geralmente designados nos manuais por perturbações da conduta.

Todos os sintomas da idade escolar, mesmo que tenham conotações com perturbações somáticas, têm que ver com formas reactivas da criança lutar contra a depressão e a ansiedade. Como dissemos anteriormente, no fundo dos problemas das crianças em idade escolar há sempre a ansiedade e a depressão, uma e outra, às vezes inaparentes no exame superficial.

Tem uns escassos decénios a descoberta que há depressões infantis, e os educadores, ainda hoje, reagem a essa ideia, na convicção de que as crianças não têm o direito de estar deprimidas porque eles, adultos, fazem tudo por elas.

 

João dos Santos

Vida, Pensamento e Obra de João dos Santos

Maria Eugénia Carvalho e Branco

depressão ansiedade

Depressão – As Causas e como Resolvê-las

O que realmente causa depressão e ansiedade – e como podemos realmente resolvê-las?

Actualmente, no mundo ocidental, se você andar deprimido ou ansioso e for ao seu médico, porque, simplesmente, não consegue aguentar mais, provavelmente ele vai falar-lhe de uma certa “teoria”.

Aconteceu comigo quando eu era adolescente, na década de 90.

Você sente-se assim, disse o meu médico, porque o seu cérebro não está a funcionar correctamente.

Não está a produzir os químicos necessários. Você precisa tomar medicação para tratar o cérebro.

Eu tentei essa estratégia com todo o meu coração durante mais de uma dezena de anos. Ansiava por um alívio.

A medicação tinha um ligeiro efeito sempre que aumentava a dose, mas logo depois a dor voltava.

Acabei por rapidamente chegar à dose máxima e assim andei muitos anos.

Pensei que estava alguma coisa errada comigo porque estava a tomar antidepressivos e apesar disso, sentia uma dor profunda.

Por fim, a necessidade de respostas era tão grande que estive três anos a pesquisar o que realmente causa a depressão e a ansiedade, e como efectivamente as tratar.

Fiquei assustado com muitas coisas que aprendi.

A primeira foi que a minha reacção à medicação não era bizarra – era bastante normal.

Geralmente a depressão é medida pelos investigadores através da escala de Hamilton. Esta vai de 0 (extremamente feliz) a 59 (pensamentos suicidas).

De acordo com a pesquisa do professor Irving Kirsch, da Universidade de Harvard, melhorar os padrões de sono representa um aumento na escala de Hamilton de cerca de 6 pontos.

Os antidepressivos oferecem, em média, um aumento de 1.8 pontos. É um efeito real, mas modesto.

Quando as pessoas estão a comportar-se de maneiras aparentemente autodestrutivas, “está na hora de parar de perguntar o que há de errado com elas e começar a perguntar o que aconteceu com elas”.

O facto de ser uma média significa que algumas pessoas podem ter um aumento maior, mas para um grande número de pessoas como eu, não é suficiente para sair da depressão.

Para além disso, fiquei aturdido ao descobrir que reconhecidos investigadores pensam que a teoria que considera que a depressão é causada por um desequilíbrio químico está errada.

Fiquei ainda mais surpreso ao descobrir que esta não é uma posição marginal:

– A Organização Mundial da Saúde tem alertado durante anos para a necessidade de começar a lidar com as causas mais profundas da depressão.

De entre as várias causas apontadas para a depressão, uma foi pessoalmente, mais difícil de investigar, a ponto de quase não olhar para ela durante os três anos de pesquisa.

Finalmente, em San Diego – Califórnia pude compreender mais sobre essa causa quando conheci um notável investigador; o Dr. Vincent Felitti.

No entanto, tenho que dizer que desde o princípio foi muito doloroso investigar essa causa.

Isso obrigou-me a encarar algo de que eu fugi a maior parte da minha vida.

Uma das razões pelas quais me agarrei à “teoria” de que a minha depressão era apenas o resultado de algo errado no meu cérebro, percebo agora, era porque não queria ter que pensar nisso.

A história da descoberta do Dr. Felitti remonta a meados da década de 80, e aconteceu quase por acidente.

A princípio, parece que não é uma história sobre a depressão.

Mas vale a pena seguir a sua caminhada porque pode ensinar-nos muito.

Para tratar a depressão, você precisa lidar com as causas subjacentes.

Quando os pacientes foram pela primeira vez no gabinete do Dr. Felitti, alguns tiveram dificuldade em entrar.

Estavam nos estágios mais graves de obesidade, e foram designados para clínica, como sendo a sua última oportunidade.

Felitti ficou encarregue de encontrar uma forma de resolver a questão dos elevadíssimos custos da obesidade na empresa.

Comece do zero, disseram eles. Experimente qualquer coisa.

Um dia, Felitti teve uma ideia tão doida quanto simples:

“E se estas pessoas com obesidade, simplesmente, parassem de comer e vivessem à base das gorduras que acumularam nos seus corpos – com suplementos de nutrição monitorizados – até que alcançassem um peso normal? O que aconteceria?”

Cautelosamente, com muita supervisão médica tentaram e, surpreendentemente funcionou.

Os pacientes estavam a perder peso e a voltar a ter um corpo sadio.

Entretanto, aconteceu algo estranho.

No programa, algumas pessoas perderam quantidades incríveis de peso, e a equipa médica, e todos os seus amigos, esperavam que essas pessoas reagissem com alegria, mas muitas vezes entravam numa depressão brutal, pânico e/ou raiva.

Alguns tentaram suicidar-se. Sem aquele volume sentiram-se incrivelmente vulneráveis.

Alguns abandonaram o programa, empanturraram-se de fast-food e voltaram rapidamente ao seu peso inicial.

Felitti ficou desconcertado, até falar com uma mulher de 28 anos.

Em 51 semanas, Felitti ajudou-a a passar dos 185 kg para os 60 kg.

Então, de repente, sem nenhum motivo aparente, ela ganhou 17 kg no espaço de poucas semanas.

Em pouco tempo, ela ultrapassou os 185 kg. Então, Felitti perguntou-lhe gentilmente o que mudou quando ela começou a perder peso.

Parecia um mistério para ambos. Conversaram durante muito tempo. A certa altura ocorre-lhe uma coisa.

Perante acontecimentos terrivelmente dolorosos, a dor faz sentido. É uma resposta ao que está a acontecer consigo.

Quando ela era obesa, os homens nunca se interessavam por ela, mas quando ela chegou a um peso saudável, pela primeira vez em muito tempo, um homem atirou-se a ela.

Ela fugiu e imediatamente começou a comer compulsivamente sem conseguir parar.

Foi quando Felitti lhe perguntou: Quando é que você começou a aumentar de peso?

Ela pensou sobre a questão e respondeu: Quando tinha 11 anos.

Então ele perguntou: Aconteceu mais alguma coisa na sua vida quando você tinha 11 anos?

Bem, ela respondeu – foi quando o meu avô começou a violar-me.

Das 183 pessoas do programa, Felitti descobriu que 55% tinham sido abusadas sexualmente.

Uma mulher referiu que tinha aumentado de peso depois de ter sido violada porque “o excesso de peso faz com que passe despercebida, e é isso que eu quero”.

Descobriu que muitas dessas mulheres se tornaram obesas por uma razão inconsciente: proteger-se da atenção dos homens, que, acreditavam, iriam maltratá-las.

Felitti de repente percebeu:

“O que tínhamos pensado como sendo o problema – a obesidade, era de facto, com muita frequência, a solução para problemas sobre os quais nada sabíamos”.

Esta descoberta levou Felitti a lançar um enorme programa de pesquisa, financiado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

Felitti queria saber como é que os vários tipos de trauma infantil afectam os adultos.

Aplicou um questionário simples a 17 mil pacientes comuns em San Diego, que vinham apenas para cuidados de saúde gerais (desde uma dor de cabeça até uma perna partida).

Ele perguntou aos pacientes se alguma entre 10 coisas más lhes tinha acontecido em criança, como por exemplo, ser negligenciada ou abusada emocionalmente.

De seguida perguntou aos pacientes se apresentavam algum entre 10 problemas psicológicos, como obesidade, depressão ou dependência de drogas.

Quanto mais investiguei a depressão e a ansiedade, mais percebi que longe de ser causada por um espontâneo mau funcionamento do cérebro, a depressão e a ansiedade, são, principalmente, causadas por acontecimentos nas nossas vidas.

Ele queria analisar as correspondências.

Uma vez introduzidos, os números pareciam inacreditáveis.

A quantidade de pessoas com trauma infantil – factor de risco para a depressão no adulto – era assustador.

As pessoas que referiram sete categorias de eventos traumáticos em criança tinham mais 3100% de probabilidades de tentar o suicídio em adulto e mais de 4000% de probabilidades de consumir drogas duras.

Depois de uma das minhas longas conversas com o Dr. Felitti sobre estas questões, fui até à praia em San Diego. Todo eu tremia.

Enquanto caminhava fui tomado por uma quantidade enorme de sentimentos.

Ele estava a forçar-me a pensar sobre uma dimensão da minha depressão que eu não queria enfrentar.

Quando eu era criança, a minha mãe estava doente e meu pai estava noutro país e, nesse caos, fui sujeito a actos extremos de violência por parte de um adulto.

Entre outros actos, fui estrangulado com um cabo eléctrico.

Eu tentei selar essas memórias, para as afastar da minha mente.

Eu recusei pensar que elas estavam a afectar a minha vida adulta.

Porque é que tantas pessoas que experimentam maus tratos na infância sentem o mesmo?

Porque é que isso leva muitas delas a ter comportamentos autodestrutivos, como a obesidade, consumo de drogas duras ou o suicídio?

Passei muito tempo a pensar nisso. Eu tenho uma teoria.

Embora, quero salientar, vai além da evidência científica descoberta por Felitti, e não posso afirmar com certeza, que é verdadeira.

Quando somos criança, temos muito pouco poder para mudar o que nos rodeia.

Só o facto de se ser capaz de falar sobre o trauma levou a uma enorme queda na procura de cuidados médicos.

Você não se pode afastar, ou forçar alguém a parar de o maltratar. Então, você tem duas opções.

Pode admitir a si mesmo que é impotente – que, a qualquer momento pode ser maltratado, e, simplesmente, não há nada que possa fazer a esse respeito.

Ou você pode dizer a si mesmo que a culpa é sua.

Se fizer isso, você realmente ganha algum poder – pelo menos na sua própria mente.

Se é culpa sua, então há algo que você pode fazer para tornar as coisas diferentes.

Você não é uma bola numa máquina de flippers, é a pessoa que controla a máquina.

Desta forma, assim como a obesidade protegeu as mulheres dos homens que elas temiam que pudessem violá-las, culpar-se pelos seus traumas de infância protege-o de ver quão vulnerável você era e é.

Você pode tornar-se o poderoso. Se a culpa é sua – a um certo nível -, sente que controla.

Mas isso tem um custo. Se você é responsável por ser maltratado, então, de algum modo, deve pensar que mereceu.

Uma pessoa que acha que mereceu ser ferida em criança vai pensar que também o merece como adulto.

Isto não é maneira de viver.

Mas é a forma – a melhor possível na altura -, que permite sobreviver perante tamanhas adversidades.

Mas foi o que o Dr. Felitti descobriu a seguir que mais me ajudou.

Quando os pacientes que responderam ao questionário referiram que sofreram maus-tratos (trauma da infância), ele conseguiu que os seus médicos abordassem a questão:

“Vejo que você passou por uma má experiência em criança. Lamento que isso tenha acontecido consigo. Gostaria de falar sobre isso? ”

O acto de falar, de libertar-se da vergonha é – em si mesmo – a cura.

Felitti quis saber se ser capaz de falar sobre o trauma com uma figura de autoridade confiável, e reconhecer que não se é culpado, ajudaria a libertar as pessoas.

O que aconteceu foi surpreendente.

o facto de se ser capaz de falar sobre o trauma levou a uma enorme queda na procura de cuidados médicos (uma redução de 35% ao longo do ano seguinte).

Para as pessoas que foram encaminhadas para uma ajuda mais especializada, houve uma queda de mais de 50%.

Uma mulher idosa – que descreveu ser sido violada quando era criança – mais tarde escreveu uma carta dizendo:

“Obrigado por perguntar… Tinha medo de morrer sem que ninguém soubesse o que aconteceu”.

O acto de falar, de libertar-se da vergonha é – em si mesmo – a cura.

Então, junto das pessoas em quem confio, comecei a falar sobre o que me tinha acontecido quando era mais jovem.

Longe de me envergonharem e de pensarem que eu era perturbado, eles mostraram amor e ajudaram-me a ultrapassar o sofrimento passado e presente.

Enquanto ouvia as gravações das minhas longas conversas com Felitti, pensei que, se ele tivesse dito às pessoas o que meu médico me disse:

– que os seus cérebros não estavam a funcionar bem, e era por isso que eles estavam tão angustiados, e a única solução era a medicação –

talvez nunca tivessem sido capazes de entender as causas mais profundas dos seus problemas e nunca teriam conseguido libertar-se deles.

Uma das razões pelas quais me agarrei à “teoria” de que a minha depressão era apenas o resultado de algo errado no meu cérebro, percebo agora, era porque não queria ter que pensar nisso.

Quanto mais investiguei a depressão e a ansiedade, mais percebi que longe de ser causada por um espontâneo mau funcionamento do cérebro, a depressão e ansiedade, são, principalmente, causadas por acontecimentos nas nossas vidas.

Existem factores biológicos, como os genes, que podem tornar-nos significativamente mais sensíveis a essas causas, mas não são os factores principais.

E isso levou-me à evidência científica de que devemos tentar resolver a depressão e a ansiedade de uma maneira muito diferente (ao mesmo tempo os antidepressivos, devem, evidentemente, permanecer em cima da mesa).

Para fazer isso é necessário parar de olhar para a depressão e para a  ansiedade como uma patologia irracional, ou uma estranha falta de químicos no cérebro.

Perante acontecimentos terrivelmente dolorosos, a dor faz sentido. É uma resposta ao que está a acontecer consigo.

Para lidar com a depressão, você precisa lidar com suas causas subjacentes.

Um dia, um dos colegas do Dr. Felitti, o Dr. Robert Anda, disse-me uma coisa sobre a qual tenho pensado desde então.

Quando as pessoas estão a comportar-se de maneiras aparentemente autodestrutivas, “está na hora de parar de perguntar o que há de errado com elas e começar a perguntar o que aconteceu com elas”.

Tradução/adaptação – Pedro Martins

a partir de Johann Hari – HuffPost

Johann Hari – Lost Connections: Uncovering the Real Causes of Depression – and the Unexpected Solutions

agorafobia

Etiologia da Depressão e da Agrofobia à luz da Vinculação

Depressão

A Teoria da Vinculação poderá ser de muita relevância para a compreensão da etiologia da depressão, como Bowlby propôs.

Experiências de perdas na infância, separação e rejeição pelos pais ou pelo cuidador poderão levar ao desenvolvimento de modelos internos de representação insegura. Representações cognitivas internas do self como não-amado/não-valorizado e figuras de vinculação que não fornecem amor e não são confiáveis pela criança, são consistentes com parte da tríade cognitiva da depressão de Beck.

Os tipos de vinculação são importantes na previsão de sintomas depressivos na adolescência. Crianças com vinculações inseguras têm maior prevalência de sintomas depressivos, comparativamente com crianças com uma vinculação segura.

Um estudo realizado numa população de estudantes afro-americanos que se propôs determinar a importância dos modelos internos de representação e do tipo de vinculação para o desenvolvimento de depressão concluiu que os indivíduos que têm uma visão positiva de si e dos outros têm uma complacência emocional que funciona como um mecanismo de protecção contra a depressão. Assim, estes estudantes com boa auto-estima vêem os outros como uma fonte confiável de apoio e reportam níveis inferiores de depressão.

Agorafobia

Quando uma criança sofre disrupções na vinculação como a perda ou a ausência da sua figura de vinculação, esta incorre num risco de “fobia escolar”.

Esta fobia, define-se como o medo de deixar a mãe e a sua casa, e poderá transformar-se numa agorafobia.

Num estudo retrospectivo que avaliou doentes agorafóbicos, Marks observou que 95% dos agorafóbicos afirmam ter maior medo quando estão sozinhos. Muitos deles evitam estar sozinhos em casa, e outros requerem a presença de alguém (vivenciado como securizante) quando tentam ultrapassar a sua fobia.

De acordo com Chambless (1982), estes agorafóbicos preferem a presença de um determinado membro da família. Este acompanhante expande as fronteiras da sua “zona de segurança”.

A semelhança entre esta perturbação e o uso da figura de vinculação como a “base segura” para exploração, evidente na Situação “Estranha” é, sem dúvida, evidente.

 

Este  post teve por base a tese de Mestrado integrado em Medicina:

“Teoria da Vinculação” – Nuno Ferreira Silva

psicoterapia depressão

A Depressão e a impossibilidade de expressar a raiva

Às vezes somos varridos por um clima de tristeza que parece não ter nenhuma causa.

Acordamos desanimados e apáticos. Falta-nos energia e um sentido.

As coisas perdem o sabor e os menores desafios tornam-se incontestavelmente pesados.

Lutamos para tentar ver sentido em qualquer coisa.

Estamos – como os médicos dizem – num estado de depressão severa.

A depressão pode estar relacionada com uma raiva que não encontrou forma de se expressar.

Uma das descobertas sobre a depressão foi encontrada em trabalhos de psicanálise.

Segundo esses  estudos a depressão pode não estar unicamente relacionada com a tristeza.

Mas ser uma espécie de raiva que não tem sido capaz de encontrar forma de expressão e nos deixa tristes com tudo e com todos.

Quando, na verdade, estamos apenas irritados com certas coisas e pessoas específicas.

Se ao menos pudéssemos entender a nossa decepção e raiva mais intimamente poderíamos, eventualmente, recuperar a nossa paz.

Como é possível estarmos profundamente zangados e ainda assim não conhecermos as causas ou o sentido do nosso aborrecimento?

No entanto, essa falta de autoconhecimento não é, em termos de nosso funcionamento mental, inteiramente surpreendente ou anómala.

Nós somos endemicamente maus para perceber a origem e a natureza de muitos dos nossos sentimentos, e não apenas no que diz respeito à tristeza e à raiva.

Mas há uma razão mais forte, pela qual podemos perder o contacto com a nossa raiva:

– fomos ensinados, provavelmente desde a infância, que não é muito agradável estar com raiva.

A raiva viola a imagem de nós mesmos como pessoas gentis e solidárias.

Pode ser muito doloroso e culpabilizante reconhecer que podemos sentir-nos furiosos e vingativos, principalmente, em relação às pessoas que amamos.

O que nos irrita também pode ser considerado absurdo.

Há pessoas que nunca se atreveram a levantar as suas vozes e amargamente tiveram de engolir as mágoas.

Talvez tenhamos sido feridos pelo tipo de coisa que pode ser vista como “insignificante” e que aprendemos a não prestar atenção porque nos imaginamos fortes e acima de sermos afectados por pequenas coisas.

Por fim, podemos não conseguir ficar zangados porque à nossa volta não assistimos às vantagens da expressão da raiva.

Podemos associar a palavra à destruição, a uma loucura tão perigosa quanto contraproducente.

Ou então vivemos muito tempo rodeado de pessoas que nunca se atreveram a levantar as suas vozes e amargamente tiveram que engolir as mágoas.

Não é a existência per se que nos deixou em baixo, mas alguns eventos particulares e actores cuja identidade perdemos de vista.

No luto transformamos a tristeza ilimitada e inominável numa dor concreta

O caminho para sair desse tipo de depressão é perceber que a alternativa não é a alegria, mas o luto.

O luto é uma palavra útil para indicar um tipo focalizado de sofrimento sobre um tipo identificável de perda.

Ao estarmos “enlutados”, transformamos a tristeza ilimitada e inominável numa dor muito mais específica:

– uma dor sobre o pai que não estava lá para nós, sobre o irmão que nos humilhou, o amante que nos traiu, o amigo que mentiu.

Não passa necessariamente por sair e confrontar estas pessoas (algumas delas podem até já estar mortas), mas reflectir sobre o que aconteceu e tomar consciência da dimensão da nossa raiva e do fardo que ela representa.

É possível que isso implique levantar alguma poeira sobre certos relacionamentos e episódios na nossa mente, mas rapidamente a vida como um todo se torna mais manejável e esperançosa.

Traduzido/Adaptado por Pedro Martins

a partir de Alain de Botton

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