As Famílias dos Pacientes Borderline
Nas famílias dos pacientes borderline temos um dos pontos-chave da etiopatogenia: a insuficiência narcísica dos pais e a sua própria personalidade limite ou próxima.
A necessidade que alguns pais têm de que os filhos preencham as suas lacunas narcíseas, é um dos aspectos mais importantes para o desenvolvimento dos estados limite.
O amor que dedicam ao filho depende de uma condição: que o filho os complete, lhes dê o brilho que eles não têm ou julgam não ter.
O amor que os pais dedicam não é incondicional, mas condicionado.
O filho é, então, uma espécie de prótese, instrumento ou adorno de um ou de ambos os pais. Só é valorizado enquanto tal, quando e como desempenha essa função.
Função tão essencial para o pai, que o filho será maciçamente desprezado e desinvestido se não a executar.
Vemos, portanto, um amor condicionado, não incondicional (é neste sentido que se emprega o conceito de “amor incondicional”; não, como é óbvio, na acepção de um amor exagerado, sem limites – que seria abafante e impeditivo de um desenvolvimento autónomo e diferenciado.
Trata-se de um vínculo de indiferença mais do que propriamente de hostilidade, que empobrece significativamente a interacção e a vida mental.
As pessoas vivem em conjunto mas sem intimidade afectiva; estão próximas, mas pouco comunicantes; dependentes, mas sem densidade de relação. Têm uma necessidade amorosa que jamais satisfazem.
As mães narcísicas e simbiotizantes tratam os filhos como objectos.
A mãe ou pai narcisista apresenta ainda outro aspecto patológico: o seu amor é captativo – na intenção de receber – e não de um amor oblativo como é próprio dos pais mentalmente saudáveis, e, desde logo, promotores de um desenvolvimento normal.
Cria-se então um laço filho-mãe/pai invertido: é o próprio filho que desempenha a função parental.
Se não cumpre este mandato será eternamente acusado de mau filho, sem amor pelos pais, abandonante, filho ingrato.
Em resumo a etiologia da patologia borderline:
– Personalidade borderline dos pais
– Modos anómalos de comunicação intra-familiar (informação paradoxal, abuso da mentira, manipulação).
– Encorajamento e recompensa dos comportamentos de obediência, de pendência, apego/desencorajamento e punição dos comportamentos de espontaneidade, autonomia e desapego.
– Incompetência e incoerência maternas – respostas inadequadas e ditadas, não pelas necessidades da criança, mas pelas variações de humor da mãe.
– Mães narcísicas e simbiotizantes que tratam os filhos como objectos transitivos, não considerando as suas (deles filhos) próprias necessidades – que, portanto não satisfazem – e controlando-os e utilizando-os para e a seu bel-prazer.
– Falência do pai: ausência de um pai que não só preencha as falhas como corrija os erros maternos e ajude na desidealização da mãe.
Assim, podemos considerar duas ordens de factores causais preponderantes:
a) Pais intrusivos, abafantes, controladores, agressivos, e traumatizantes. Famílias fechadas.
b) Pais distantes, abandonantes, negligentes e rejeitantes. Famílias desunidas.
Bibliografia: “O Desespero” – A. Coimbra de Matos
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