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Nos Ataques de pânico a Ameaça é Real Pedro Martins Psicoterapeuta

Nos Ataques de Pânico a Ameaça é Real?

A perspectiva de M. Blechner sobre os ataques de pânico difere da maioria dos clínicos.

Para a generalidade dos clínicos, durante um ataque de pânico, o paciente sente um perigo, mas esse perigo, na realidade, não existe.

O mesmo é dizer que os ataques de pânico não são baseados numa ameaça real.

Segundo Blechner, esta ideia é, pelo menos, para uma parte dos pacientes, imprecisa.

Normalmente, quando se pergunta ao paciente se há alguma coisa na sua vida que o pudesse originar um ataque de pânico, honestamente responde que não.

Mas o clínico pode chegar a uma conclusão diferente depois de fazer um questionário detalhado, procurando especificamente situações de perigo na vida do paciente que o assustem mas das quais não está ciente.

 

Blechner dá-nos como exemplo o caso do Sr. A

O Sr. A teve o seu primeiro ataque de pânico aos 28 anos.

Sentiu dores no peito e dificuldade em respirar. Pensou que ia ter um ataque cardíaco e dirigiu-se às urgências.

Os exames revelaram que o coração estava a funcionar normalmente.

Disseram-lhe que tinha tido um ataque de pânico e foi referenciado para a psiquiatria onde lhe prescreveram Alprazolam.

Um mês depois teve outro ataque que o levou novamente às urgências.

Os exames não revelaram nenhum problema no coração. Aumentaram a dosagem da medicação.

Devido ao medo de ter um novo ataque de pânico e às tonturas que a medicação lhe causava o Sr. A procurou outra abordagem. Foi referenciado para mim.

 

Para a generalidade dos clínicos, durante um ataque de pânico, o paciente sente um perigo, mas esse perigo, na realidade, não existe.

 

Era um jovem vigoroso e muito ambicioso, com um ar bastante saudável.

Perguntei-lhe se actualmente existia alguma coisa na sua vida que o fizesse ter medo. Ele disse que não existia nada, pelo menos, que ele soubesse.

No entanto, durante a nossa primeira conversa descobri que ele estava envolvido num esquema de corrupção, cujos clientes estavam a ser enganados e os lucros escondidos.

Ele foi um pouco blasé acerca da situação, assegurando-me que isso era uma prática comum.

Disse que sabia o que estava a fazer, e que nunca seria apanhado.

À medida que fui explorando a história descobri que o pai, actualmente reformado, foi levado à justiça por estar envolvido num negócio semelhante, e ficou quase arruinado financeiramente.

Ao mesmo tempo que o Sr. A parecia despreocupado em relação às suas práticas, ficou muito perturbado ao falar da ruína do pai.

Eu disse ao Sr. A, que, tendo em conta o ocorrido com o pai, era perfeitamente normal que ele temesse ser apanhado pelas práticas irregulares.

Disse-lhe que qualquer pessoa que estivesse a fazer o que ele fazia e cujo pai tivesse ficado praticamente arruinado por um comportamento semelhante, provavelmente, estaria bastante assustado.

Não era surpresa para mim que ele sentisse pânico; surpreendente para mim era ele não sentir medo mais vezes.

O Sr. A não gostou de me ouvir dizer aquilo, mas os ataques de pânico terminaram depois da primeira consulta.

Rapidamente deixou a medicação e os ataques de pânico não voltaram.

 

Por vezes os ataques de pânico surgem da dissociação de situações que objectivamente provocam ansiedade.

 

Reunindo o máximo de informações detalhadas que pude, fui capaz de substituir o pânico intermitente por um medo mais estável, que era ajustado à situação.

Nas sessões seguintes, senti por parte dele uma pressão para reinstituir a dissociação (entre a situação e o sentimento) e eu tive que lutar constantemente contra esse processo.

No entanto, na terapia as pressões foram cedendo à medida que ele ia encarando a realidade do que estava a fazer, bem como o esclarecimento das origens das suas defesas.

No caso do Sr. A, um trauma grave parecia estar na base para uma capacidade tão poderosa de dissociar.

O Sr. A é um entre vários pacientes cujos ataques de pânico surgem da dissociação de situações que objectivamente provocam ansiedade.

Em essência, consegui que o Sr. A apreendesse que:

“A situação que descreve faria com que qualquer pessoa estivesse com muito medo. Em grande medida, você está a ignorar e a dissociar o medo causado pela situação, e, logicamente, o medo que sente é real; o que não é normal é não saber de onde vem o medo; que você não conecte a emoção com a situação. Devido a isso parece que os ataques de pânico surgem do nada. Mas não é assim. Você tem muito boas razões para sentir muito medo, e, se quiser que os ataques de pânico terminem, tem de associar o medo à situação.”

Concordando ou não com a tese de que na base dos ataques de pânico está um perigo real, um questionário detalhado é muito importante para uma compreensão mais aprofundada dos episódios de pânico.

Ao mesmo tempo, será importante investigar a tendência de certos pacientes para dissociar.

 

Ataques de Pânico - a experiência do desamparo. Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Ataques de Pânico – A Experiência do desamparo

Os ataques de pânico constituem a marca e a prova de que o aparelho psíquico descobriu a sua precariedade fundamental enquanto tal.

Através do ataque de pânico, o sujeito busca, de alguma forma tornar apreensível no plano psíquico a experiência inominável do desamparo.

As experiências repetidas do “estar morrendo” que se instalam no pânico parecem constituir uma tentativa de obter um certo domínio sobre o que escapa às possibilidades de simbolização.

Ter ataques repetidos de pânico constitui uma tentativa, por assim dizer, de controlar o momento de abandono por parte do outro suposto protector e fiador do mundo.

A experiência de desintegração psíquica acompanha a ameaça do seu desaparecimento.

O sujeito em pânico considera que a presença concreta do outro fiador da estabilidade do seu mundo é uma condição indispensável para a sua própria sobrevivência.

Se há algo de mortal no pânico é essa sorte de ataque contra si mesmo como expressão de apelo – mas também de revolta e desespero – diante do outro protector que abandona.

Um ataque de pânico constitui, assim, um grito desesperado, um pedido de ajuda e uma expressão de revolta dirigidos a este fiador superpotente de quem o sujeito espera protecção e amor.

A crise de pânico dirige-se, portanto, ao “Outro” ainda que este não possa ser objectivado em alguém delimitável:

– A crise constitui um pedido de amor, um reconhecimento, um apelo ao sujeito para não ser abandonado, sem ajuda, ao seu próprio desamparo.

Os ataques de pânico constituem um grito desesperado, um pedido de ajuda.

As vertigens e as sensações de estar em queda livre (de estar caindo sem parar), tão frequentes nos ataques de pânico, parecem manifestar corporalmente a vivência de abandono pelo objecto protector, fiador da estabilidade do mundo.

Realmente não há garantia para nada, ninguém me pode proteger contra o possível.

Até ao início das crises, a questão do desamparo não se colocara de facto.

Quando, subitamente, o individuo se vê confrontado com ela, a ilusão desaba mas nada consegue ser colocado no seu lugar.

Não há nenhuma possibilidade de subjectivação da falta de garantias pois essa “descoberta” terrível é feita toda de uma vez.

Restam apenas o desespero e o esforço desatinado para “fazer alguma coisa”: a confluência dessas duas tendências materializa-se no pânico.

O abandono tão temido pelo indivíduo acometido por ataques de pânico tem contornos bastante específicos.

Primeiro, apresenta-se como algo concreto: a ameaça de separação de uma pessoa em particular, da perda de uma situação estável, o medo de que mudanças venham a interferir de modo catastrófico na sua vida habitual ou na sua saúde.

Eles [ataques de pânico], começam frequentemente (…) após um evento que confirma ao sujeito o carácter incerto, imprevisível e potencialmente ameaçador do mundo.

Assim, a morte de um ente próximo, uma doença grave na família, a separação de um ser amado são situações relatadas de modo quase rotineiro aos que cuidam de pessoas sofrendo de ataques de pânico como tendo desencadeado os ataques.

A perda real de um próximo constitui para esses sujeitos a mais abominável concretização dos seus fantasmas de abandono e de impotência ante um mundo excessivamente perigoso.

Eles constatam: “Então a situação de desamparo é mesmo possível!” e ficam desesperados.

In Pânico e Desamparo

Mário Eduardo C. Pereira

 
 
Ataques de Pânico Pedro Martins Psicoterapeuta - Psicoterapia

Ataques de Pânico

Os ataques de pânico constituem uma tentativa extrema de tornar o desamparo apreensível para o psíquico.

A especificidade metapsicológica do pânico situa-o dentro do campo dos estados em que a angústia é extrema e transbordante.

No pânico, o sujeito parece tentar levar a sua experiência do desamparo ao seu nível mais extremo, mais insuportável, como uma forma de obter um certo domínio sobre ela.

Desse ponto de vista, um ataque de pânico não pode ser concebido como a manifestação directa de uma pura descarga “automática” da energia.

Para quem os experimenta, os ataques de pânico podem parecer absurdos e sem qualquer relação com o resto da sua vida psíquica.

Ser tomado por um ataque de pânico atesta, pois, o reconhecimento inequívoco por parte do sujeito da dimensão de desamparo.

Os ataques de pânico – brutais, incompreensíveis, repetitivos – não parecem remeter a nada senão a eles mesmos, constituindo-se aparentemente uma experiência de pura perda.

Aos olhos de quem os experimenta, tais ataques podem parecer absurdos e sem qualquer relação com o resto da sua vida psíquica.

Os ataques de pânico apresentam-se como “espontâneos” e “incompreensíveis”.

Através do pânico busca-se um certo domínio sobre as realizações possíveis do perigo.

Trata-se, em última instância, de uma estratégia bastante singular de eliminação do horizonte do possível, no qual tudo o que é da ordem do terrível pode, efectivamente, realizar-se.

Tal estratégia consiste em tornar presente, imediato, aquilo que assusta apenas por ser possível.

O pânico distingue-se do terror, estado afectivo caracterizado precisamente pela perda de referências a um lugar de desamparo no psíquico.

No terror, o desamparo é sem limites, está em todo o lugar e todo o momento. O não-senso é a sua marca fundamental.

Já o pânico refere-se aos momentos de vacilação em que os limites que o sujeito reconhece como separando-o de um abismo infinito parecem apagar-se. O terror implica paralisia, entrega de si mesmo ao mortífero. É do lado da vida que se tem pânico.

Bibliografia: Pânico e Desamparo – Mário Eduardo C. Pereira

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