Amores Ardentes, Amores Frustrantes
A vida de certas pessoas é marcada por grandes entusiasmos e amores ardentes que rapidamente abandonam, porque rapidamente frustrantes – pela não correspondência ao ideal desejado.
Muito desejado porque nunca obtido – não fora essa a sua falta básica:
– A de um amor materno/paterno de qualidade indiscutível, que as tivesse verdadeiramente preenchido.
Um afecto incondicional, que não dependesse dos seus atributos ou desempenhos; cuja única condição fosse a de existir e ser filho.
Esse amor que só um pai ou uma mãe pode e sabe dar.
Que nenhum homem ou mulher irá oferecer numa relação conjugal;
Que nenhum amigo, colega, mestre ou discípulo preencherá.
Que só quem ama como mãe ou pai pode fornecer;
Ou quem possa entender essa falta essencial – alguém muito empático que a sorte lhe possa trazer.
Habitualmente isso não acontece.
Os amores ardentes são frustrantes por não corresponderem ao ideal desejado.
Só uma psicoterapia que considere o lado experiencial lhe poderá pôr cobro, pelo encetar de uma relação diferente que o paciente desconhece, e por isso nova.
É um novo vínculo de apego que se estabelece e vai relançar o desenvolvimento normal; e novo, também porque nunca antes verdadeiramente experimentado.
Processo que se inicia na relação terapêutica, mas que passa, se contínua e persiste no quotidiano.
São pessoas que, sobretudo, fazem escolhas precipitadas.
Nelas impera mais a primeira impressão que um exame cuidadoso, a razão apaixonada que o bom senso, o brilho do outro que a natureza do seu interior.
É uma escolha narcísica – o sujeito reflecte-se no espelhado do outro, no outro que o ecoa ou admira; ou aquece-se ao seu brilho e participa na sua grandiosidade.
Tais relações revelar-se-ão sempre decepcionantes e desprazerosas:
– porque simétricas e não complementares -, trazendo sofrimento e conduzindo a inevitáveis e até a desejadas roturas.
Enquanto persistir o mesmo mecanismo de selecção – o que acontece se a estrutura e o funcionamento mental não mudarem -, o ciclo reinicia-se a cada novo relacionamento amoroso.
Bibliografia: “O Desespero” – A. Coimbra de Matos
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