A Teoria da Vinculação

A Teoria da Vinculação confirma a importância das relações humanas e as suas consequências no desenvolvimento individual. A investigação mostra que desde o nascimento as crianças procuram a relação com o outro – o estabelecimento de um vínculo com a figura de vinculação.

Representações desta relação preferencial são internalizadas pela criança, que cria um modelo psíquico/estilo de vinculação que influenciará futuras relações interpessoais.

A Teoria da Vinculação defende que uma ligação emocional forte a um cuidador primário é crítica para o desenvolvimento social e emocional saudável da criança.

Problemas no estabelecimento desta ligação, nos primeiros anos de vida, resultam potencialmente em padrões de comportamentos desajustados e em dificuldades na regulação emocional da criança.

A Teoria da Vinculação tem os seus fundamentos na Psicanálise, e incorpora conceitos e métodos da Etologia, Biologia e da Psicologia do Desenvolvimento.

Bowlby foi o responsável pela incorporação destas áreas de conhecimento com a Psicanálise, e assim ficou conhecido como o pai da Teoria da Vinculação.

Mary Ainsworth é vista muitas vezes como co-autora de John Bowlby, pelo trabalho de investigação das relações mãe-criança no Uganda e pelo desenvolvimento de um método para avaliação dos tipos de vinculação – a Situação “Estranha”.

Definição da Teoria da Vinculação:

Vinculação é uma relação emocional profunda e duradoura que liga uma pessoa a outra no tempo e no espaço (Ainsworth,1973; Bowbly, 1969). Bowlby defende que os seres humanos nascem com um sistema psicobiológico (sistema comportamental de vinculação) que os motiva a procurar proximidade de outros (figuras de vinculação).

É importante distinguir conceitos de Vinculação, Comportamento de Vinculação e Sistema Comportamental de Vinculação que formam os componentes essenciais da Teoria da Vinculação.

Entenda-se por Vinculação a definição geral de como uma pessoa é vinculada, sendo que, em termos gerais, poderá ser de dois tipos: segura ou insegura. Considera-se vinculação, a ligação afectiva íntima e próxima com dependência mútua, que se sustenta na convicção de que esta se prolongará temporalmente.

Comportamento de Vinculação compreende os comportamentos que são despoletados por condições do ambiente como separação ou por ameaças de separação ou distância da figura de vinculação a uma criança previamente vinculada; e tais comportamentos são cessados pelo grau de proximidade entre os dois elementos da relação.

Esta proximidade pode implicar contacto físico ou contacto visual, dependendo da idade e do grau de ativação do Sistema Comportamental de Vinculação. Pode também ser despoletado por condições internas como doença, fome, dor, frio, entre outras. O modelo básico do Comportamento de Vinculação é, então, uma unidade envolvendo um padrão de comportamento específico da espécie governado por dois mecanismos complexos, um responsável pela ativação e outro pela sua terminação.

Por outro lado, o Sistema Comportamental de Vinculação representa um modelo/esquema, que inclui o sujeito e as suas figuras de afecto, com o qual a criança vê o Mundo e guia as relações interpessoais que ela cria.

A relação de vinculação pode ser definida pela presença de quatro pontos-chave:

1 – Procura de proximidade à figura de vinculação, que depende de vários factores como idade, temperamento e história de vinculação. A relação de vinculação para Bowlby é monotrópica, ou seja, apenas há a existência de uma figura de vinculação. Bowlby afirma que “… é devido à tendência marcada para a monotropia que nós somos capazes de sentimentos profundos” (Bowlby, 1988).

Porém, Bowlby não excluía a possibilidade de outras vinculações menores, mas acreditava que deve existir uma ligação primária que é muito mais importante que qualquer outra. Esta perspetiva é contestada por uma outra que defende que a criança tem uma hierarquia de figuras de vinculação, tais como o pai, avós irmãos e amigos.

2 – Efeito da base segura. Compreende-se por “base segura” o efeito, criado pela figura de vinculação, de tranquilidade e proteção da criança que permite a livre exploração e o saciar da curiosidade natural da criança, até que alguma ameaça apareça e ela volte a procurar a segurança oferecida pela mãe.

3 – Abrigo seguro. Este “abrigo”, no qual a criança se sente calma e protegida, acaba depois da linha Maginot. Este conceito representa a distância máxima da mãe a que a criança se aventura a ir, a partir da qual sente ansiedade. Esta “força” de atração que a criança sente é diretamente proporcional à distância a que se encontra da mãe.

4 – Protesto na separação, que se manifesta pelo choro, gritos entre outros comportamentos, é a resposta natural à separação da mãe que é interpretada pela criança como uma ameaça à sua ligação com ela. Ainsworth, no seu trabalho Situação “Estranha”, estuda estes momentos, comparando a intensidade do protesto de separação para os diferentes tipos de vinculação.

Uma ideia central da teoria da relação entre a mãe e o bebé, de Bowlby é que esta é o resultado do tipo de interação desde muito cedo. Esta hipótese afirma que diferenças na qualidade da interação na infância irão resultar na formação de modelos internos de representações diferentes – representações que foram generalizadas, para formar modelos que a criança usa para prever e se relacionar com o ambiente externo.

Uma criança segura vai construir um modelo de um cuidador responsivo, confiável e de si como merecedor de atenção e amor. Por outro lado, uma criança insegura vê o mundo como um lugar perigoso, onde as pessoas devem ser encaradas com cuidado e vê-se a si própria como não merecedora de atenção e amor. A qualidade da vinculação tem sido consistentemente relacionada com vários aspectos de funcionamento da criança, incluindo a sua sociabilidade, auto-estima e competências cognitivas.

Ainda que o comportamento materno/do cuidador seja determinante para o tipo de vinculação, o temperamento da criança é também outro factor muito revelante de previsão do tipo de vinculação.

Esta vinculação é um indicador para futuras relações próximas na infância, adolescência e idade adulta. Mudanças na dinâmica da relação, como o divórcio (aumento de stress na família) podem afectar a vinculação da criança, temporariamente ou permanentemente.

“De uma forma geral, experiências nos primeiros anos de vida (especialmente com o cuidador principal) ajudam a criar a ‘gramática de emoções’ que pode ser duradoura, ainda que a linguagem de emoções se continue a desenvolver ao longo dos anos” —Thompson (2003)

Psicopatologia:

De acordo com Ainsworth, crianças com vinculações seguras podem usar a mãe como uma base segura para explorar o ambiente e assim desenvolvem mecanismos de “coping” em momentos de stress. Este tipo de vinculação desenvolvida com o cuidador primário relaciona-se com maior sociabilidade com outros adultos e crianças, maior obediência aos pais e maior facilidade na regulação emocional da criança.

Vários autores teorizaram que várias linhas de desenvolvimento psicológico perturbadas são o resultado de vinculações inseguras muito precoces. Propuseram que estas crianças com vinculações inseguras podem desenvolver problemas comportamentais como hostilidade, agressividade e comportamentos antissociais no caso da vinculação evitante. Por outro lado, no caso da criança ambivalente poderiam ocorrer problemas como impulsividade, problemas de concentração e baixa tolerância à frustração.

Em suma, dificuldades nas relações de vinculação não são, geralmente, entendidas como patologia ou directamente causando patologia, mas fundamentam o potencial desenvolvimento de psicopatologia. Entre elas a Depressão e a Agorafobia.

 

Este  post teve por base a tese de Mestrado integrado em Medicina:

“Teoria da Vinculação” – Nuno Ferreira Silva

 

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