Mês: <span>Setembro 2020</span>

Personalidade Depressiva - Pedro Martins Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

Personalidade Depressiva

Paciente mulher com personalidade depressiva

P: Tenho de pensar em mim, preocupar-me/ocupar-me com as minhas coisas. Só penso nos outros, preocupando-me com eles constantemente, ocupo-me apenas com as coisas dos outros. Esqueço-me de comprar roupa para mim, estou sempre a comprar roupa para o Francisco. Cozinho para ele; se estou só, não cozinho, como qualquer coisa que haja em casa.

T: Como há muito lhe venho mostrando

P: É verdade… Mas depois – penso – fico vazia, não tenho nada que me interesse ou motive. Assim ao menos – ocupando-me com os outros – ando entretida, sinto-me mais preenchida.

 

Nunca ninguém reparou que andasse deprimida, nem ela própria disso se apercebia.

Era assim, sempre foi assim; ela e os outros sempre acharam que era normal.

São as derrotas sucessivas que a trazem à terapia. Não percebe porque tal acontece.

Abandona umas vezes, é abandonada outras.

Nos abandonos afectivos, fica algum tempo deprimida – depressão que nem pela intensidade nem pela duração tem características patológicas;

O único aspecto patológico (mas que é importante e significativo) é a ausência de revolta e acusação do objecto abandonante:

– Sente sempre que a culpa/responsabilidade foi toda sua.

Quando é ela a abandonar, o motivo consciente é a saturação e o desinteresse progressivo pela relação.

Interessa-se pouco com si própria. Quando tem uma nova relação amorosa anima-se por algum tempo.

Só que não repara, desconhece a depressão larvar em que se arrasta – a depressividade.

A depressividade é uma certa e específica forma de personalidade depressiva, a mais característica – que se revela pelo abatimento, sintoma patognomónico da doença depressiva (depressão/personalidade depressiva).

Traduz-se a queda/declínio da líbido (sexual lato sensu e narcísica), restando ou exacerbando-se a líbido ideal (dessexualizada) e a ligação de aconchego e dependência;

Numa outra linguagem e perspectiva, a queda da energia psíquica (perda da vitalidade).

 

O abatimento é o sinal nuclear da doença depressiva.

 

Reiteramos: o abatimento é o sinal nuclear da doença depressiva.

A alteração do humor, a tristeza, não é um sintoma essencial.

O certo é que há depressões sem tristeza, mas não existem depressões sem abatimento.

Na depressão normal, que se distingue, não só pela menor intensidade e duração e pela proporcionalidade da alteração à grandeza da perda actual, mas principalmente pelo predomínio da revolta sobre o sofrimento depressivo – há algum abatimento.

Mas o que caracteriza a depressão normal é o ressentimento e a raiva.

Na depressão doença, predomina o sentimento depressivo e a inibição (abatimento) sobre a revolta.

É que na depressão patológica subjaz (mesmo que latente) a depressividade por um lado; pelo outro, são recrutadas/reactivadas perdas afectivas anteriores; por outro ainda, a agressividade está inflectida sobre o próprio.

A partir de a: “Depressividade/Personalidade Depressiva” – Coimbra de Matos

A Defesa Psíquica - Pedro Martins - Psicólogo Clínico Psicoterapeuta

A Defesa Psíquica

O processo defensivo, ou simplesmente defesa, é um processo de adaptação à realidade social; processo que – pelo seu excesso, persistência ou invariabilidade – se torna patogénico.

É importante sublinhar que os mecanismos de defesa do Eu têm uma função adaptativa.

A neurose é portanto uma doença de adaptação: sofrimento condicionado pelo emprego excessivo, não descriminado e inflexível das “defesas”.

Anna Freud, em 1946, faz uma lista dos mecanismos de defesa descritos na obra do seu pai:

– Recalcamento

– Regressão

– Formação reactiva

– Isolamento

– Anulação retroactica

– Projecção

– Introjecção

– Inflexão sobre si próprio

– Transformação no contrário

– Sublimação.

 

Estes são os diferentes tipos de resistências que o Eu opõe às necessidades instintivas, para as adaptar às exigências da realidade social ou da sua interiorização (Supereu).

Por medo do castigo, ou por culpabilidade, o indivíduo defende-se dos seus próprios impulsos, comportando-se pois, dentro de certa medida, como um inimigo de si próprio.

Resiste à satisfação imediata e directa – ao princípio do prazer – para melhor se adaptar à lei social: obedecendo assim, ao princípio da realidade.

A socialização exige portanto uma luta contra a vida instintiva, limitando-a no seu exercício e condicionando-a a certos padrões.

É o preço da civilização, o acesso à cultura; mas também o caminho para a neurose. Donde, a dificuldade em atingir um salutar equilíbrio entre a satisfação individual e a concórdia social.

O conflito, aberto ou interiorizado, é permanente e insolúvel; das suas proporções, orientação e compromissos resultará a saúde, o crime ou a doença.

 

Os mecanismos de defesa contra as pulsões surgem para controlar a ansiedade.

 

Os enumerados “mecanismos de defesa do Eu”, defendem, então, o indivíduo da sua impulsividade inata e biológica, dos seus instintos primários e não facilmente domáveis, da sua natureza animal – para o adaptar à realidade da ordem social, para o contemporizar com a cultura que o envolve.

São processos de adaptação das necessidades instintivas e individuais às necessidades civilizacionais e gregárias; utilizadas pelo Eu que coordena a vida de relação.

A designação de defesa presta-se, no entanto, a um certo mal-entendido: porquanto o indivíduo, quando utiliza as defesas, não se defende propriamente; mas ataca-se (pelo menos de certo modo), limitando-se.

Melhor seria falar-se em mecanismos de resistência do Eu: o Eu, representante da realidade, resiste a aceitar e ceder à pulsão e seus objectivos.

É certo que, numa perspectiva de benefícios futuros, o indivíduo se protege: resistindo à satisfação directa e imediata do instinto.

Ainda que à custa de um sofrimento momentâneo – evita o desprezar secundário, decorrente do castigo ou da culpabilidade, e propõe-se um prazer adiado, mas mais seguro, porque de acordo com as normas vigentes.

Por outro lado, também, o Eu defende-se do sentimento de medo ou de angústia ou ansiedade, que o aflorar das pulsões inaceitáveis (pelos outros ou pelo Supereu) necessariamente acarreta.

E é assim mesmo que os mecanismos de defesa – contra as pulsões – surgem: para controlar a ansiedade.

 

Os “mecanismos de defesa do Eu” defendem o indivíduo da sua impulsividade inata e biológica, dos seus instintos primários para o adaptar à realidade da ordem social.

 

Até aqui referimo-nos aos mecanismos de defesa dirigidos contra os instintos.

Mas o Eu utiliza outras defesas: o evitamento das situações ansiógenas (de perigo real ou imaginário) – mecanismo de defesa típico da fobia – e a negação (ou denegação) por porção inquietante ou desagradável da realidade – processo defensivo da perversão e da psicose.

Processos dirigidos contra o contacto ou a percepção da realidade operam pela fuga ou pelo desinvestimento; ambos condicionando uma retracção da expansão do Eu.

Umas e outras – defesas contra as pulsões e defesas contra a realidade – limitam a extensão e profundidade da vida relacional, facilitando a adaptação em certas circunstâncias, mas sendo sempre potencialmente patogénicas e frequentemente patológicas (sinal de sintoma de debilidade do Eu para enfrentar a pressão dos instintos ou das dificuldades do real).

Reconhece-se o carácter patológico quando funcionam de forma monótona, estereotipada, anacrónica e desadaptada; sistemática, predominante ou quase única (um indicador de saúde mental é a utilização fluida de diversos mecanismos de defesa).

 

“A defesa psíquica” – Coimbra de Matos

(Por se tratar de uma transcrição quase integral do artigo, optei por não colocar aspas)

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