Génese, desenvolvimento e reprodução da violência
Da Agressividade Natural à Génese, Desenvolvimento e Reprodução da Violência
Existe uma agressividade estrutural, endógena ou constitucional porque se admite fazer parte intrínseca da constituição biopsíquica do indivíduo.
É uma agressividade natural, em princípio benigna, posta ao serviço da construção da identidade, autonomia individual e estabelece normas para a vida em grupo.
A agressividade estrutural alimenta várias funções, possibilitando a realização de outras tantas finalidades:
– Aproximação, preensão e controlo daquele que desejamos;
– Defesa do território e do estatuto;
– Afastamento de rivais;
– Afirmação pessoal ou assertividade;
– Competição com os pares e os mais fortes e poderosos.
Esta força agressiva é, pois, um instrumento necessário à adaptação e útil ao desenvolvimento.
A agressividade reactiva é uma reacção à agressão do meio, designadamente do outro.
É desencadeada, quer pela agressão sofrida quer pela agressão prevista ou imaginada.
Surge, portanto, como resposta imediata ao ataque ou como ataque preventivo.
O homem é um animal ético por natureza porque se identifica com a vítima, o sofredor e o desvalido.
Esta forma de violência ou de agressividade, necessária à sobrevivência, é mitigada pelas regras do convívio social.
Na sua contensão, o medo do castigo, a culpa, a vergonha e os sentimentos de compaixão desempenham um papel importante.
Os sentimentos de compaixão pelo outro, derivados da capacidade de empatia e de identificação projectiva – poder sentir o que o outro sente, colocar-se na pele do outro, são as verdadeiras raízes da consciência moral.
Por isso, o homem é um animal ético por natureza – porque se identifica com a vítima, o sofredor e o desvalido.
Não precisa, a bem dizer, de uma moral ditada pelo exterior. Ele próprio a constrói.
Só aqueles que – por infeliz experiência infantil – não tiveram pessoas empáticas e disponíveis aquando do processo de identificação primária apresentam mais tarde incapacidade de empatia perante os fracos ou necessitados.
E por tal se tornam frios, perversos e criminosos; abusam do poder e exploram os outros; maltratam, negligenciam, abandonam.
Mal-amados, são incapazes de amar.
O acumular de experiências traumáticas – privações, castigos, humilhações – gera agressividade, ou propensão para desencadear comportamentos hostis e destrutivos.
Uma vez carente, magoado e ressentido, o indivíduo reage facilmente por agressão às ameaças, ataques e ofensas; o medo, o furor e a raiva narcísica impõem-na.
A frustração da expectativa de receber afecto, apreço e reconhecimento é, de entre todas, a que mais hostilidade e revolta provoca.
O homem, porque conhece o outro e se conhece, necessita de amor e reflexão.
Sem entrada de estima só se produz ódio. Ferido no seu orgulho o animal humano enraivece-se. É este o destino do que não foi amado: a violência.
Bibliografia:
– “Violência Inconsciente” – A. Coimbra de Matos
– “Génese, desenvolvimento e reprodução da violência” – A. Coimbra de Matos
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