Mês: <span>Julho 2017</span>

psicoterapeuta

Amigos imaginários

Os amigos imaginários não se constituem como alucinações que a criança vê fora de si, embora, em alguns casos, isso possa acontecer.

As crianças acreditam na sua existência real, procuram a sua companhia e conversam com eles.

Ao auxiliarem a criança na elaboração de angústias e ansiedades, os amigos imaginários têm um papel importante na constituição do Eu.

Estes também podem surgir quando a criança experimenta uma perda real ou fantasiada.

O amigo imaginário pode desdobrar-se em múltiplas personagens que actuam num teatro interno.

À medida que o Eu da criança se estrutura e vai sendo capaz de fazer frente a conflitos e aspectos contraditórios eles tendem a desaparecer.

Em alguns casos (raros), quando as condições para o seu desaparecimento não se verificaram eles permanecem, tornando-se aspectos cindidos da personalidade.

Ao auxiliarem a criança na elaboração de angústias e ansiedades, os amigos imaginários têm um papel importante na constituição do Eu.

Numa fase em que as crianças têm poucos amigos reais, os imaginários desempenham um papel importante na ampliação do seu mundo social.

Através dos vários papeis que os amigos imaginários vão desempenhando a criança vai experimentando sobre vários pontos de vista as relações humanas no mundo dos adultos.

À medida que se ampliam o número de amizades, os amigos imaginários vão-se tornando menos interessantes até ficarem para trás.

Isto não quer dizer que perante uma dificuldade, uma desilusão, a criança não recorra esporadicamente a ele para partilhar a tristeza, ou descarregar a raiva que está a sentir.

Às vezes fazem muita falta!

padrão relacional

Padrão Relacional das Escolhas Afectivas

Em relação à compulsão à repetição, Freud referiu que se trata de uma forma de não pensarmos, de não recordarmos as experiências dolorosas.

Muitas das “escolhas afectivas” que fazemos permitem repetir as nossas relações traumáticas sem termos que lidar os seus aspectos traumáticos. Na repetição há uma negação dos aspectos negativos.

Não deve, portanto, considerar-se uma coincidência, a “escolha” de parceiros diferentes para “relações idênticas”.

Logo, os aspectos negativos da relação anterior reaparecem nas novas relações.

Normalmente, esta compulsão à repetição não é consciente e, portanto, é necessário que seja explorada num cenário psicoterapêutico. Se assim não for, ao invés de compreender o fenómeno, repete-se a necessidade de escapar ao contacto com a experiência dolorosa.

Somente a elaboração da experiência passada permite, verdadeiramente, alterar o padrão relacional.

psicoterapeuta

O Terror de Ser Amado

É muito claro que todos queremos amor – mas estranhamente, uma das coisas mais difíceis de fazer é não empurrá-lo quando verdadeiramente retribuem os nossos sentimentos.

Pode ser muito difícil não sentir que aqueles que nos oferecem amor estão equivocados, são frágeis ou carentes.

Que de alguma forma têm qualquer coisa de errado.

Ficamos um pouco enjoados com a proximidade e desejo de nos abraçarem e acarinharem; com as palavras ternas e pela capacidade de encontrar pequenas coisas em nós que os fascina.

Pode ser mais fácil quando não se é correspondido.

Quando a nossa principal preocupação era o enorme medo de que não reparassem em nós.

Era mesmo bastante mais fácil (embora não o disséssemos aos nossos amigos) quando estávamos numa relação muito tempestuosa com uma pessoa que nunca se comprometeu connosco, que nos desprezou e que parecia estar permanentemente noutro lugar.

Mas agora que finalmente não existem dúvidas e é muito claro que eles gostam de nós, as coisas complicam-se.

O amor pode ser difícil de receber quando não achamos que somos capazes de suscitar o amor do outro.

Foi bom das primeiras vezes, claro, quando a memória da anterior ambiguidade ainda estava viva na mente, mas agora eles tornaram-se cada vez mais honestos, e disseram claramente que nos querem – e sentimo-nos, simplesmente, um pouco enfadados.

Estamos tentados a dizer que estávamos equivocados: que eles não são as pessoas admiráveis que pensávamos.

Mas a verdadeira questão não está no que fazer com eles.

Está num lugar completamente diferente: está em nós e na relação connosco mesmos.

O carinho deles parece suspeito, incompreensível e gera uma certa repulsa, porque, de alguma forma, não estamos acostumados. Não encaixa com a visão que temos de nós mesmos.

O amor pode ser difícil de receber quando não estamos particularmente convencidos de que somos capazes de suscitar o amor do outro.

Passamos o tempo à procura daqueles que nos podem fazer sofrer de maneiras que nos são familiares.

E torna-se natural supor que um amante atencioso está equivocado;

Não está a ver bem as coisas – e, talvez, então, nos comportemos de forma muito desagradável, para nos certificarmos que realmente percebem que não somos quem realmente pensaram que éramos, e, portanto, colocam fim à relação.

Ficamos magoados, mas de alguma forma, psicologicamente, mais tranquilos.

A esperança reside em contrariar as conclusões que tirámos das nossas histórias passadas, e que nos levam a sabotar as novas relações.

Mas temos que permitir considerar outras opções.

Talvez o carinho que estamos a receber não seja um sinal de que nosso amante está enganado ou que não tem outra opção.

Talvez seja um sinal de que viu algo em nós que, tragicamente, ainda não conseguimos ver e nunca nos permitimos acreditar, tendo em conta o passado: que merecemos o amor.

A esperança reside na nossa capacidade de confiar mais nos nossos amantes do que confiamos nos nossos impulsos auto-destrutivos.

Em interpretar o amor deles não como um sinal da sua ilusão ou fraqueza, mas como evidência de que somos capazes de despertar o amor do outro, e ao termos coragem de aceitá-lo, contrariar as conclusões que tirámos das nossas histórias passadas que nos levam a sabotar as novas relações.

Traduzido/adaptado por Pedro Martins a partir de:
The Terrors of Being Loved – Alain de Botton

psicoterapeuta

A sensibilidade à rejeição é proporcional ao medo de ser rejeitado

Como humanos temos a necessidade de pertencer e manter vínculos estreitos com os outros. Qualquer coisa que ameace o vínculo pode activar o alarme psicológico, levando-nos a fazer o que pudermos para impedir a rejeição.

Para algumas pessoas, o sistema de alarme é hipersensível, reagindo a ameaças inexistentes e, nesse sentido, desencadear uma resposta exagerada. A sensibilidade à rejeição pode ter origem em experiências de rejeição por parte dos pais ou em relacionamentos anteriores.

Faz sentido que após experiências dolorosas de rejeição se fique mais vigilante e com receio de confiar em pessoas novas. O problema é que um alto grau de vigilância pode não ser necessário em novas relações com parceiros mais confiáveis. Nesses relacionamentos, em vez de proteger o Eu da rejeição, a hipersensibilidade pode ter o efeito contrário, aumentando a probabilidade de rejeição.

As pessoas sensíveis à rejeição são mais propensas a concluir que o comportamento do seu parceiro reflecte uma rejeição intencional, ao invés de considerar outras possibilidades, como por exemplo, uma semana de trabalho particularmente complicada.

Um estudo com estudantes universitários mostrou que os participantes que obtiveram valores mais altos na sensibilidade à rejeição apresentaram maior probabilidade de interpretar o comportamento hipotético dos seus parceiros como intencional, excluindo outras potenciais explicações.

Quando os parceiros assumem rapidamente que um comportamento levemente distante reflecte algo mais profundo e mais pessoal, como a falta de amor ou de compromisso, existe uma grande probabilidade de surgir um conflito e que ele possa rapidamente escalar. Noutro estudo verificou-se através de gravações que as pessoas sensíveis à rejeição eram mais propensas a usar tons de voz hostis, negar a responsabilidade num problema, gozar com o parceiro e expressar desgosto; comportamentos que tendem a ser destructivos.

As interacções negativas podem, por sua vez, reduzir a satisfação no relacionamento. Um terceiro estudo descobriu que as pessoas que apresentavam alta sensibilidade à rejeição tendiam a ser percebidas pelos seus parceiros como mais ciumentos (para os homens) ou mais hostis e menos disponíveis (para as mulheres), e essas percepções estavam relacionadas com a diminuição da satisfação no relacionamento.

A sensibilidade à rejeição pode alimentar um ciclo vicioso em que o trauma passado é repetido.

A interrupção destes ciclos passa por desconstruir a dinâmica internalizada rejeitado-e aquele que rejeita.

No entanto, do ponto de vista externo existem alguns aspectos que podem ajudar no sentido de adequar a resposta ao que se está a sentir. Perante um sinal de rejeição tendemos a concentrar-nos nas características da situação que confirmam as nossas expectativas, e o nosso primeiro instinto pode passar por atacar o parceiro. Mas se conseguirmos expandir o foco de atenção podemos pensar que um certo grau de conflito é uma parte normal da maioria dos relacionamentos; podemos considerar explicações alternativas que justifiquem a distância sentida ou colocarmo-nos no lugar do parceiro, em vez de imaginarmos o cenário mais catastrófico.

Traduzido e adaptado a partir de:
“How Rejection Sensitivity Derails Relationships”
Juliana Breines

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