Mês: <span>Março 2016</span>

mudança psíquica

Mudança Psíquica em Psicoterapia

Segundo Mitchell, a mudança psíquica obtém-se quando o psicoterapeuta encontra uma forma de participar que o paciente experimenta como fresca e nova, distinta de tudo o que tinha escutado até então.

Uma forma em que o terapeuta viva, simultaneamente, as suas próprias experiências e as do paciente; uma forma na qual paciente e terapeuta encontram uma nova via de conexão emocional.

As ideias de Mitchell estão de acordo com as minhas convicções de que nada podemos compreender do outro desde fora, porque nesse caso só vamos perceber a partir dos nossos próprios pressupostos, teorias e valores.

Para entender o paciente, o terapeuta tem que implicar-se profunda e emocionalmente com ele, vivendo a partir de dentro e sentindo com ele.

 

Realidad, Interracción y Cambio Psíquico
La prática de la psicoterapia relacional II
Joan Coderch de Sans

negação

Negação: uma forma de lidar com as emoções

A negação é um termo teórico, que passou a ser usado na vida cotidiana, na maioria das vezes, distorcendo o seu significado.

Segundo o Vocabulário da Psicanálise – Laplanche & Pontalis, a negação ou (de) negação é o “processo pelo qual o indivíduo, embora formulando um dos seus desejos, pensamentos ou sentimentos, até aí recalcado, continua a defender-se dele negando que lhe pertença”; “recusa da percepção de um facto que se impõe no mundo exterior.”

A negação por um certo período de tempo pode ser considerada um mecanismo saudável.

A negação é um mecanismo de defesa inconsciente em que o conflito emocional e a ansiedade são evitados por recusa em reconhecer pensamentos, sentimentos, desejos, impulsos, ou factos que são conscientemente intoleráveis.

Em alguns casos, a negação por um certo período de tempo pode ser considerada um mecanismo saudável de mitigar o “intolerável”, dando à mente a oportunidade de elaborar e se adaptar.

Perante emoções demasiado intensas, a negação representa uma forma de preservar a coesão mental, ainda que a negação, em última análise, possa ser nociva.

Uma vez que negação também requer um investimento substancial de energia, implica que outras defesas sejam também utilizadas para manter os sentimentos inaceitáveis ​​afastados da consciência.

A perpetuação do uso das defesas e a sua falência acaba por ser uma das circunstâncias que levam algumas pessoas a procurar a psicoterapia.

Gradualmente as “defesas” tornarem-se cada fez mais inadequadas e ineficazes, deixando a dor emocional oculta (no seu estado original), ascender à superfície.

Os mecanismos de defesa podem ser encontrados em indivíduos saudáveis, mas a sua presença excessiva é, via de regra, indicação de possíveis sintomas neuróticos.

psicoterapia

Implodir ou explodir?

Implodir ou explodir? A resposta não é fácil e, normalmente, a decisão está dependente dos (supostos) efeitos colaterais da explosão, ou seja, como recuperar dos danos resultantes – reais ou imaginados.

Embora provoque grandes estragos, a implosão (explosão interna) tem a “vantagem” de ser controlada pelo próprio.

Já na explosão (externa), o maior receio é a imprevisibilidade quanto aos (supostos) estragos. Temem-se os efeitos no outro e o reflexo no próprio.

É complicado abordar esta questão sem sabermos o que está por trás, mas tomemos o exemplo:

Imaginemos que a Filipa diminui e amesquinha constantemente a Inês através de observações desagradáveis, comentários depreciativos e a responsabiliza por tudo o que de mal ocorre.

Um dos efeitos nefastos da Inês não reagir traduz-se no desenvolvimento de sentimentos de desvalorização e de inculpação – absorção da maldade do outro transformando-a em sua-; algo que se pode enraizar profundamente no Eu a ponto de se constituir como parte integrante deste.

Neste caso, podemos supor que a “explosão” seria a resposta adequada, mas temos que considerar um aspecto. O que representa a Filipa para a Inês?

Se pensarmos que se trata de uma figura com uma grande representação afectiva, é natural que a reacção da Inês  possa ser bloqueada devido ao receio (normalmente fantasiado) de vir a perder a relação com a Filipa. Quando o medo é grande é muito mais provável que se dê uma implosão do que uma explosão.

Uma das conclusões que se podem tirar é que certas dinâmicas relacionais implicam custos muito elevados.

As coisas não são tão simples como tentei demonstrar, são, até, muito mais complexas. Cada caso é um caso, mas implodir não é a solução, pelo contrário, é uma forma de perpetuar certos padrões relacionais.

 

Trauma – Uma Introdução

No Vocabulário de Psicanálise, Laplanche e Pontalis descrevem trauma ou traumatismo (psíquico) como:

“Acontecimento da vida do indivíduo que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se acha o indivíduo de lhe responder de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patogénicos duradouros que provoca na organização psíquica.”

No entanto, nem toda a experiência de trauma é um acontecimento específico; ele pode ser cumulativo.

Neste caso, uma vez que as causas são menos claras, torna-se mais difícil de lidar.

Conceito importante associado ao de trauma, é o de sinal de angústia.

Laplanche e Pontalis referem:” O sinal de angústia reproduz de forma atenuada a reacção de angústia vivida primitivamente numa situação traumática, o que permite desencadear operações de defesa.”

Segundo P. Casement, quando se considera a revivência do trauma é importante pensar em conjuntos inconscientes.

“Isso dá-nos uma lógica em termos da qual podemos entender como a mente regista inconscientemente elementos particulares como sendo da mesma natureza – porque foram anteriormente vivenciados juntos.

Assim eles passam a ser estabelecidos como relacionados, de forma atemporal e sem excepção.

Para o inconsciente a parte pode representar o todo, logo, qualquer coisa associada a uma situação traumática pode representar o trauma como um todo e pode deflagrar o sinal de ansiedade, alertando a mente inconsciente como se aquela situação traumática estivesse na eminência de se repetir.”

Trauma: “Acontecimento da vida do indivíduo que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se acha o indivíduo de lhe responder de forma adequada.

P. Casement dá-nos um exemplo através de uma vinheta clínica:

Uma menina de dois anos de idade foi levada pela mãe para ser vacinada antes de viajar para o estrangeiro.

Para poder aplicar a vacina na coxa da criança, o médico pediu à mãe para levantar o vestido da filha.

Até aí nada de anormal, à excepção, talvez, da presença desse relativamente estranho – o médico de família.

Mas depois de ficar chocada com a súbita dor da injecção, foram necessários alguns meses para que a criança fosse capaz de recuperar da experiência que parecia estar sempre iminente.

Mais especificamente, ela demonstrava um claro sinal de ansiedade sempre que a mãe tentava trocar-lhe as roupas.

Qualquer tentativa da mãe de levantar o vestido da criança era recebida com gritos.

Uma reacção semelhante era evidente quando se tirava qualquer outra peça de roupa; quanto mais perto da parte inferior do corpo mais intensa era a reacção.

Outras pessoas tinham mais sucesso do que a mãe nessa operação, mas ninguém podia levantar-lhe o vestido.

Podemos ver neste exemplo como várias associações relacionadas com a situação de perigo foram estabelecidas em torno do trauma original.

As mais específicas eram as seguintes: a mãe com a criança ao colo levantando o vestido.

Associações menores também podiam ser identificadas: roupas perto da coxa e pessoas como a mãe.

Era perceptível que a criança tinha mais confiança no pai do que na mãe quando estava no colo.

Mas quando a criança estava no colo de outra pessoa, o pai tornava-se a fonte de ansiedade caso estendesse as mãos para ajudar a tirar a roupa.

O sinal de angústia reproduz de forma atenuada a reacção de angústia vivida primitivamente numa situação traumática.

Por isso, dava a sensação de existirem diferentes níveis de associação a funcionar:

– uma pessoa-colo do sexo feminino era mais temida do que uma pessoa-colo do sexo masculino, particularmente quando associada à tentativa de tirar a roupa.

Também um homem de braços estendidos para ajudar, quando associado à tentativa de tirar roupas, era mais temido do que uma mulher na mesma posição.

Neste exemplo podemos ver que o trauma passou a ser associado a um conjunto de elementos principais:

– estar no colo de uma mulher; roupas removidas ou levantadas; um homem a estender as mãos para fazer algo.

Reconhecendo intuitivamente as associações às quais sua filha reagia, a mãe encontrou uma maneira de lidar com o problema.

Ao colocar a criança na banheira e molhando as roupas, ao invés de tentar despi-la ao colo distanciou-se da situação traumática.

Conseguiu então tirar roupas que estavam molhadas em vez de secas.

Roupas molhadas não tinham participado no trauma original, de modo que essa diferença permitiu à criança aceitar uma nova maneira de se despir, apesar de que remover roupas ainda era parte daquilo que a mãe fazia.

Ela não estava, portanto, evitando completamente a experiência, mas encontrando uma maneira de fazer face a ela – na medida em que a criança estava em condições de a tolerar.

Gradualmente os vínculos associativos tornaram-se mais fracos e as roupas secas também puderam ser removidas: primeiro, removidas quando ela estava sentada numa banheira vazia e, depois, sentada ao colo da mãe.

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